Presidente do Comitê Israelita do Amazonas fala sobre os desafios de sua gestão e envia mensagem aos jovens que desejam entrar na liderança comunitária - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
Foto: Divulgação CONIB

27.10.22 | Brasil

Presidente do Comitê Israelita do Amazonas fala sobre os desafios de sua gestão e envia mensagem aos jovens que desejam entrar na liderança comunitária

Aos 55 anos, formado em desenho industrial e exercendo o segundo mandato como presidente do Comitê Israelita do Amazonas (CIAM), David Vidal Israel, fala à CONIB sobre os desafios de sua gestão, que assumiu durante a pandemia de Covid-19, e manda um recado aos jovens que desejam seguir na liderança comunitária para que se inspirem em líderes que deixaram um legado para a comunidade e se empenharam para manter a cultura e tradição judaicas.

O começo na vida comunitária

Eu comecei muito cedo na vida comunitária. Ainda muito jovem, logo depois do meu bar-mitzva, aos 13 anos, fui para uma yeshivá em Petrópolis, passei dois anos lá e quando voltei para Manaus me envolvi com jovens da comunidade, em especial com o hoje rabino Moysés Elmescany, com quem passei a desenvolver algumas atividades, como a de reunir jovens e editar pequenos informativos. Mas isso não durou muito tempo, porque eu, então com 16 anos, recebi convite para estudar em Israel. Fui então para Yemin Orde, onde fiquei por dois anos e terminei o segundo grau lá. 

Quando voltei a Manaus, o então presidente da comunidade, José Laredo, me convidou para dar aula na escolinha judaica, uma vez que havia falta de professores de hebraico. Dei aula para crianças e adolescentes e, em meio a essas atividades, reativamos o movimento juvenil em Manaus chamado Hebraica Jovem, que funcionava dentro do clube de Manaus. E começamos a atuar junto com outros jovens e a reunir na Hebraica Jovem, tanto as crianças na escolinha, quanto os mais velhos. Passei uns quatro ou cinco anos nessas atividades e, depois, me afastei um pouco, porque já estava iniciando minha vida profissional, mas nunca me distanciei completamente da comunidade. Nessa época eu tinha um restaurante e comecei a prestar serviços dentro do clube Hebraica. Fiquei bastante tempo na Hebraica e me tornei diretor do clube. Quando a Nora Benchimol decidiu se afastar da diretoria ela me convidou para substituí-la. E isso foi nos anos 2000.

Fiquei dois anos como um dos diretores do clube e depois fui convidado para presidir o CIAM - Comitê Israelita do Amazonas justamente na época da pandemia. Assumi em maio de 2020, em meio à confusão da pandemia de Covid e sem saber ao certo como as coisas deveriam funcionar. Foi um momento difícil, mas superamos esse desafio.

Desafios

Durante o desafio da pandemia, participamos de atividades da diretoria do CIAM para tentar organizar a parte formal da comunidade. Nesse momento, um de nossos associados, vendo esse nosso empenho, propôs pagarmos toda a certificação para o Iso 9000 (a certificação de qualidade para determinada gestão). Então, em meio aos esforços para manter a vida comunitária durante a pandemia, estávamos também trabalhando na organização do Iso 9001, fazendo todas as reuniões necessárias e cuidando da preparação para as auditorias – um processo que requer muito cuidado, porque temos não só processos administrativos, mas também outros que envolvem a vida judaica. E isso nunca havia sido tratado antes dessa forma, e nem no Brasil, segundo a empresa que fez a nossa certificação, a MB. E para chegarmos a essa certificação tivemos que fazer muitas reuniões com membros da Chevra, da sinagoga, da Hebraica, para que pudéssemos chegar a uma estrutura organizacional mais assertiva, de acordo com a legislação e através de auditorias internas. E tudo isso foi feito durante a pandemia.

Outro desafio foi manter a vida comunitária ativa naquele momento, de pandemia, como dar suporte às famílias e cuidar da saúde mental das pessoas. Fizemos muitas lives com membros da comunidade, algo que nunca tínhamos feito antes, assim como grande parte da população mundial. Tivemos que nos adaptar rápido a essa nova realidade. E, assim, conseguimos, nesses dois últimos anos, manter a vida comunitária. Considero esses os dois grandes desafios que tivemos no início de nossa gestão.

A Comunidade do Amazonas

A comunidade judaica está presente no Amazonas há mais de 200 anos. Desde o final do século 18 já havia imigrantes vindos do Marrocos, da península Ibérica, aqui para a região. No início, essas pessoas se fixaram mais em Belém e, depois, passaram a se expandir para outras localidades ribeirinhas da floresta. Alguns desses imigrantes chegaram até Iquitos, no Peru. Muitos aproveitaram o boom da borracha e se dedicaram à extração como atividade financeira. Assim, eles foram formando pequenas comunidades nessas localidades ribeirinhas, como Itacoatiara, Parintins, Maués e muitas outras. Com o tempo, com o declínio do ciclo da borracha, muitas dessas famílias acabaram migrando para a capital, Manaus. Hoje, a grande maioria dos judeus está concentrada em Manaus. Com o início da Zona Franca, no final dos anos 1960 e início de 1970, também vieram judeus de outras partes do Brasil. Algumas famílias de São Paulo e Rio de Janeiro migraram para Manaus, mas já não mais de origem marroquina e, sim, askenazi, e acabaram se integrando à cultura sefaradita local. Atualmente, de acordo com o último censo, temos uma população judaica de cerca de 800 pessoas - umas 250 famílias.

Origem

A família de minha mãe, Cohen, migrou para Parintins e lá vivia do comércio. Meu avô, Moysés, era representante da empresa aérea Pan Air e, em Parintins, cuidava dos voos da região. Já a família do meu pai, Israel, veio de Portugal, depois de deixar o Marrocos. Aqui, se instalaram em Itacoatiara e, depois, acabaram vindo para Manaus. O meu avô David, pai do meu pai, era ativo na comunidade e foi um dos fundadores do Grêmio Azul e Branco, que acabou se tornando a atual Hebraica. Meu avô David era contador e jornalista. Ele criou um jornal independente que trazia notícias de interesse da comunidade judaica, do Brasil e de outros países, e escrevia um pouco da história dos judeus da região. Hoje a coletânea desse jornal está no acervo do Museu da Diáspora, em Israel. O meu pai também foi comerciante e, assim como meu avô, foi muito ativo na comunidade. A família da minha avó, Alegria, casada com meu avô David, era mais religiosa e, por isso, meu pai aprendeu muito do que chamamos aqui de meldá (rezar em hakitia). Ele foi um excelente chazan e também um excelente administrador. Foi líder comunitário e diretor, em várias gestões, do Comitê Israelita, seguindo os passos do meu avô David, que foi o fundador do CIAM, que já tem 90 anos. Ele encerrou essa carreira na comunidade no final dos anos de 1980, mais ou menos na época em que eu estava começando a atuar na vida comunitária, na escola judaica Jacob Azulay.  Fiz faculdade de desenho industrial e hoje cuido do departamento financeiro de uma clínica de hemodiálise

Mensagem

Eu diria aos jovens que querem seguir na liderança da vida comunitária que não desistam, porque essa é uma atividade que nos traz muita satisfação e realização. É um trabalho voluntário que fazemos por amor. E eu diria aos jovens que busquem em quem se inspirar, porque eu tive em todas as etapas de minha vida pessoas que me inspiraram, como o Moysés Elmescany e, mais tarde, com o Isaac Dahan, que foi meu professor na escolinha nos anos de 1970 e que hoje é figura ativa dentro da comunidade. Outra pessoa, com quem eu tive pouco contato, mas hoje, como presidente do comitê israelita, vejo que ele teve papel relevante em nossa comunidade e eu faço questão de citar é o sr. Abrão Pinto. Ele foi um comerciante que deixou em testamento para a comunidade várias lojas e, hoje, os recursos que os aluguéis desses estabelecimentos trazem para o CIAM representam uma fatia muito importante do nosso orçamento. Portanto eu diria aos jovens para que se inspirem em pessoas que fazem o bem e se empenham para manter a nossa cultura e tradição. E temos muitos outros exemplos na comunidade. Quero citar também a nossa vice-presidente, Anne (Benchimol), que tem me ajudado muito nessa gestão e que tem papel ativo na comunidade. Recomendo aos jovens que busquem o exemplo dos que nos antecederam e que deixaram um importante legado para a nossa comunidade. Estou no segundo mandato e espero terminar essa gestão com o maior número possível de jovens engajados na causa comunitária.


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