“Se eu não tivesse me envolvido na vida comunitária, a minha fronteira do conhecimento seria muito reduzida”, diz Bruno Laskowsky - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
Foto: Divulgação CONIB

10.08.23 | Brasil

“Se eu não tivesse me envolvido na vida comunitária, a minha fronteira do conhecimento seria muito reduzida”, diz Bruno Laskowsky

Com extensa participação na vida comunitária e longa experiência em serviços financeiros, gestão de negócios, asset management e Real Estate, Bruno Laskowsky fala à CONIB sobre a sua origem, formação acadêmica e sua trajetória em atividades e funções na comunidade e em importantes empresas. Ele faz uma previsão otimista sobre a continuidade da participação de jovens na vida comunitária e destaca a importância desse envolvimento: “Se eu não tivesse me envolvido na vida comunitária, eu não teria tido a oportunidade de ter um colorido de aprendizado e minha fronteira do conhecimento seria muito reduzida”.

Na comunidade judaica, Bruno Laskowsky foi presidente e vice-presidente da Fisesp, presidente da Unibes, faz parte do Conselho Deliberativo do Hospital Albert Einstein e do Conselho Consultivo da Fisesp. Também é membro do Conselho da ONG VerdeEscola, e do Conselho Consultivo da Fundação PROA (ligada a Fundação Lemann). 

Origem

Meu pai é alemão, nasceu em Frankfurt. Ele tem uma história bonita, embora semelhante a tantas outras. Ele conseguiu sair da Alemanha em 1934, teve uma saga para sair do país com a família, depois que meu avô manda a esposa e filhos fugirem do país. Eles foram inicialmente para a Bélgica e depois para Nice. Seguiram então para Marselhe e tentaram pegar um navio para os Estados Unidos, mas não conseguiram, porque naquela época os portos estavam bloqueados. Tentaram ir para Buenos Aires, mas o navio acabou parando no Rio de Janeiro e lá o comandante anunciou o fim da viagem e determinou que todos descessem.

Então, sem nenhum planejamento, a família de meu pai acabou no Rio de Janeiro, na Praça Mauá. Meu pai sempre foi muito grato ao Brasil pelo acolhimento que teve. Ele contava que a família desceu do navio só falando alemão e a primeira pessoa que os ajudou foi um senhor negro que, por ter trabalhado num navio da marinha mercante alemã, entendia e falava um pouco de alemão. E esse senhor levou a família para uma pensão na Praça Mauá e quem conhece o local sabe bem do que estou falando. Não era um lugar muito amistoso. A partir daí começa a história da família no Brasil.

Meus avós maternos vieram da Polônia. Eles já tinham vindo para o Brasil na Primeira Guerra Mundial e se instalaram em Nilópolis, que é uma cidade na baixada fluminense do Rio, onde coincidentemente existia uma colônia judaica e outra árabe. Ao logo do tempo, então meus pais acabaram se conhecendo. Essa é um pouco da história da minha ancestralidade.

Formação acadêmica

Estudei em escola judaica e, como naquela época era comum irmos para uma escola que preparasse melhor para o vestibular, fui estudar no Colégio Princesa Isabel. Acho importante registrar que meu pai nunca estudou e eu fui o primeiro desse núcleo familiar a me formar. Meu pai fez escola técnica, porque precisava ter uma profissão para trabalhar. Sou de uma família de classe média e que teve que trabalhar muito. Então, quando entrei na UFRJ foi um orgulho para a família. Fiz administração de empresas, depois mestrado na própria UFRJ, viajei para fora do Brasil e comecei minha vida.

Trajetória Comunitária

Quando eu vim para São Paulo eu já era sócio de consultoria e tinha vários clientes, entre eles o Itaú, onde eu estava desenvolvendo um trabalho bem interessante na área de seguros e, coincidentemente, um personagem importante dessa história é o Marcelo Blay, que na época era vice-presidente da Itaú Seguros. Eu fiquei muito amigo do Marcelo e, com isso, acabei conhecendo o pai dele que era o Jayme Blay, que, na ocasião, era o presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp). E lá pelo ano de 2003, no primeiro governo Lula, existia um projeto de combate à fome, com envolvimento do frei Beto, entre outros, e que contou com toda uma mobilização da comunidade judaica. E de uma forma até despretensiosa o Marcelo e o Jayme me convidaram para uma reunião que ia ter no Hospital Albert Einstein e me disseram que, como eu era alguém com cabeça estruturada, poderia ajudá-los a ‘organizar as ideias’.

E cheguei nessa reunião sem conhecer ninguém para discutir um projeto capitaneado pelo Einstein. A sala estava lotada e a reunião foi conduzida pelo Claudio Lottenberg e o Jack Terpins. E foi aí que os personagens (do quebra-cabeças da vida) começaram a se juntar. E eu, com muito cuidado para não dar um palpite fora do escopo, fiz uma ou duas intervenções. E, depois, o Jayme me chamou para uma reunião mais petit comité com o Claudio e o Jack Terpíns. E nessa conversa fiz comentários sobre estruturação de projetos complexos, que era a minha atuação profissional na época. O fato é que devem ter gostado, porque me chamaram para continuar apoiando o projeto e foi aí que aconteceu essa minha inserção, nesse primeiro momento, na vida comunitária. Isso porque comecei a conhecer as pessoas e ai aconteceu um fato, que tenho muito prazer em compartilhar e que mudou a minha vida.

Momento que mudou minha vida

A Unibes precisava de algum tipo de apoio nessa área de governança, gestão, e como eu estava lá no Einstein me pediram para contribuir. A Unibes é uma instituição centenária, com um trabalho fabuloso, tanto para a comunidade judaica quanto para fora dela. Fui então convocado para esse trabalho voluntário e aconteceu mais sincronicidade: na ocasião, a Dora Brener estava saindo da presidência, teve um hiato sucessório e muita gente veio me pedir que eu tivesse a coragem de assumir a função.

A minha primeira resposta foi não. Mas aí ocorreram algumas mudanças na minha vida pessoal que me fizeram repensar. Achei que assumindo a tarefa eu estaria cumprindo com dois papeis: o de dar um bom exemplo em casa, para meus filhos, doando meu tempo para a coletividade e exercendo um propósito maior, o princípio de Tikun Olam, de contribuir para tornar o mundo melhor. Esse é um propósito muito forte para um judeu. Também falou alto o exemplo de meus pais no sentido de colaborar com valores éticos judaicos.

Então, para assumir, eu impus três condições. Disse que, como não tenho tempo, então não poderia estar na instituição todo dia e as reuniões teriam que ser no meu escritório. Outra questão: eu nunca fiz fundraising (captação de dinheiro) e pedi um ano de colchão de liquidez, de forma que eu tivesse tranquilidade para colocar um pouco de método, estratégia e execução. E a partir daí, com esse colchão de liquidez, eu toco com tranquilidade. E o terceiro ponto: como eu tenho pouco tempo, não vou me envolver em questões políticas comunitárias. E foi então que decidi: vou profissionalizar a Unibes e ter uma gestão mais profissional, um pouco diferente do modelo tradicional.

Em resumo: em um ano de Unibes eu virei o maior fundraising da instituição. Acabei dedicando muito mais de meu tempo aos projetos da instituição e acabei me envolvendo na vida comunitária de tal forma que acabei me tornando, depois, presidente da Fisesp.

Na liderança da Fisesp

Essa função passa por serviço social, de saúde, moradia. Então trabalhamos muito nessa linha. Montamos uma série de modelos e estratégia utilizando toda essa grande governança que conseguimos desenvolver. E muitos programas daquela época continuam até hoje, como um projeto de Mario Fleck e o trabalho de integração das várias correntes religiosas, desde ao mais ortodoxos, dos grupos sefaradim e ashkenazim, aos mais liberais. Também desenvolvemos um trabalho de integração da educação judaica e a colocação do Alef na própria Hebraica e um robustecimento do fundo de bolsas, em tive um prazer imenso em trabalhar com o Boris Ber e com todo o grupo das famílias mantenedoras; colocamos a Fisesp como máquina operacional do fundo de bolsas e criamos a governança adequada para que tudo isso acontecesse. Além disso, fizemos um trabalho com sobreviventes do Holocausto, revivendo os programas de busca de assistência, com a captação de fundos internacionais e também na área de segurança. Quando assumi a Fisesp dei continuidade a todos esses projetos.

Mensagem aos jovens

A lógica judaica, com os valores e a ética existem há mais de três mil anos. E se ela existe há tanto tempo é porque houve gente capaz de conseguir envolver pessoas dispostas a passar essa mensagem adiante. Existe uma discussão milenar sobre a maior ou menor participação dos jovens (na vida comunitária), mas eu tenho uma visão mais otimista, porque se não houvesse esse envolvimento a lógica judaica já teria sido interrompida. Então a minha mensagem aos jovens – e, diga-se de passagem, na comunidade judaica jovem inclui uma faixa muito ampla – traz um pouco da minha experiência pessoal: quando comecei a minha atividade comunitária, seja na Unibes ou em qualquer outra instituição judaica, a minha vida criou um colorido de aprendizado, de curiosidade intelectual, de abertura de outros campos, que, seu eu não tivesse me envolvido com a vida comunitária eu não teria tido a oportunidade de conhecer gente inteligente, pessoas incríveis que pensam de forma coletiva. Enfim, a minha fronteira de conhecimento teria sido muito reduzida. Há uma grande oportunidade de crescimento tanto no plano pessoal como no profissional. As habilidades serão melhor exercitadas. E no mundo de hoje, em que estão em evidência questões que envolvem o meio ambiente, responsabilidade social, ambiental e de governança, parece que o mundo encontrou a lógica judaica milenar. E, entre os que se envolveram com a comunidade, a opinião é unânime: todos dizem que receberam muito mais do que deram.

Bruno Laskowsky tem mestrado em Administração de Empresas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialização na NYU; cursou o Owners and Presidents Program (OPM) na Harvard Business School (HBS); foi diretor do BNDES, responsável pela BNDESPAR, Crédito indireto&Operacoes Digitais e Reestruturação de Empresas, Managing Director do Credit Suisse e membro do Comitê Executivo do Banco no Brasil; CEO da Cyrela Commercial Properties (CCP), além de sócio líder da área de serviços financeiros da consultoria A.T. Kearney, e Senior Advisor do BCG (Boston Consulting Group). Teve passagens também pelo Citibank, atuou como sócio sênior da consultoria A.T. Kearney, foi CEO da Cyrela Commercial Properties (CCP), presidente da Inpar/Viver S/A e também membro do Conselho do Grupo Sonae Sierra do Brasil.  


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