25.07.24 | Brasil
Museu Judaico recebe Deborah Lipstadt, enviada especial dos EUA, para falar sobre antissemitismo e suas manifestações
O Museu Judaico de São Paulo recebeu nesta terça-feira (23) Deborah Lipstadt, Enviada Especial do Departamento de Estado dos EUA para Monitoramento e Combate ao Antissemitismo, para falar sobre o crescimento do antissemitismo no mundo, suas manifestações e os desafios enfrentados pelas comunidades judeus. Debora Lipstadt é professora, historiadora e tem desempenhado um papel crucial como consultora em políticas públicas e na promoção da educação sobre o Holocausto. Sua contribuição tem sido fundamental para a conscientização global sobre o antissemitismo e os perigos da negação histórica.
O evento, promovido Museu Judaico (MUJ) de São Paulo, Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil, contou com a presença da vereadora Cris Monteiro (NOVO); do cônsul de Israel em São Paulo, Rafael Erdreich; do Cônsul de Cultura e Ciência do Consulado Geral da República Federal da Alemanha SP, Johannes Wahner; de Ruth Tarasantch, sobrevivente do Holocausto e umas das idealizadoras do MUJ, e de representantes de diversas instituições judaicas, entre eles Sergio Napchan, diretor executivo da CONIB, Octavio Aronis, diretor de Segurança da instituição e Ângela Goldstein, coordenadora do projeto de combate ao antissemitismo e discurso de ódio da CONIB.
O presidente da Fisesp, Marcos Knobel, abriu o evento, destacando o aumento do antissemitismo no mundo. “Estamos vendo um aumento exponencial desde 07/10. Não apenas do antissemitismo puro, mas também do antissionismo. Se alguém tinha alguma dúvida de que antissionismo é antissemitismo, agora não tem mais”.
A diretora de acervo do Museu Judaico de São Paulo, Roberta Sundfeld, falou sobre a importância do MUJ como instituição que trabalha no âmbito da educação como meio de combate ao antissemitismo e ao discurso de ódio. Também foram destacados os consideráveis projetos de pesquisa apoiados pelo Museu Judaico, que acolhem pesquisadores de diferentes origens.
A mesa de discussão foi composta por Deborah Lipstadt, e pelo advogado Fernando Lottenberg, ex-presidente da CONIB e Comissário da Organização dos Estados Americanos (OEA) para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo. Debora participou dos eventos recentes em Buenos Aires pelos 30 anos do atentado à AMIA, ocorrido em 18 de julho de 1994, e também das homenagens às vítimas do ataque à embaixada de Israel na Argentina, em 1992.
Deborah citou as diretrizes para o combate ao antissemitismo (https://www.state.gov/global-guidelines-for-countering-antisemitism/), destacando que essa iniciativa aborda diferentes maneiras de combater o antissemitismo e enumera as boas práticas para combatê-lo. “Os governantes não deveriam politizar a luta contra o antissemitismo”, disse ela, ao recordar a fala de Scholem Aleichem “O que é pior? Antissemitismo da direita, ou da esquerda? É o mesmo que você me perguntar se eu prefiro ter cólera em Kiev, ou se eu prefiro ter desinteria em Odessa. Eu não quero nenhum dos dois”. “Deveria haver, por parte dos governantes, o entendimento de que isso é errado’, pois isso faria com que a maioria das pessoas reagissem ao antissemitismo de forma diferente”.
Ela destacou que os Estados Unidos têm percebido o antissemitismo a partir de uma perspectiva de diferentes camadas. Na primeira camada há uma ameaça aos judeus, às instituições judaicas e às pessoas que se associam tanto aos judeus quanto às instituições judaicas. “Não é preciso que uma pessoa seja judia para que ela sofra antissemitismo”, ressaltou.
Na segunda camada há uma ameaça à democracia em curso devido a teorias conspiratórias e à ideia de que os judeus controlam a mídia, o governo e os bancos. Assim, se os judeus controlam tudo, não há mais uma democracia. A população passa a não confiar no governo e isso afeta a democracia. Em uma democracia, ainda que a população discorde de ações do governo, ela não desconfia do governo. A desconfiança no governo é uma característica de governos autocratas.
A terceira camada é uma ameaça à segurança internacional e também à estabilidade internacional. Neste cenário o antissemitismo serve como um ingrediente que engrossa o caldo da instabilidade e da insegurança, observa ela.
“Crítica às políticas do governo de Israel não são antissemitismo em si. Se fossem, grande parte da população israelense, que sai às ruas todos os sábados para criticar o governo israelense, seria considerada antissemita. Mas, quando se relativiza as atrocidades cometidas pelo Hamas durante os ataques a Israel em 07/10, isso é antissemitismo.”
Deborah disse ainda que o antissemitismo não pode ser o ponto a partir do qual os judeus se situam no mundo. “Ao nos posicionarmos como judeus apenas diante de situações de antissemitismo estamos deixando que o nosso opressor tenha o controle sobre nós e nos posicionando a partir do que é feito aos judeus (judeus como objetos) e não a partir do que os judeus fazem (judeus como sujeitos)”.
Fernando Lottenberg mencionou que o antissemitismo assume diversas formas ao longo do tempo. “Atualmente, Israel é acusado de cometer limpeza étnica, ser um estado de apartheid e isso é o que de mais nocivo pode haver no momento”. Disse ainda que os judeus não são reconhecidos como uma minoria que tem direito à proteção, mas sim como opressores e colonizadores.
Deborah finalizou sua fala, destacando que não é possível combater o ódio ficar em silêncio.