08.08.24 | Brasil
“É preciso levar a discussão do antissemitismo para um ambiente mais amplo, porque o preconceito também atinge outras minorias”, diz o presidente da CONIB
Em conversa online com a jornalista e escritora Madeleine Lacsko na tarde desta terça-feira (6), o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, falou sobre antissemitismo: “É um estado dormente, um discurso de ódio que recrudesce de tempos em tempos em relação a uma minoria e que nos assusta, porque sabemos que tudo o que acontece em relação a uma minoria, uma vez estabelecido, pode se perpetuar em relação a outras minorias”. “Vemos muitas vezes questões que envolvem discriminação sendo debatidos em ambientes restritos a comunidades atingidas. E isso é ruim, porque a solução para que isso possa ser minimizado, ou eliminado, depende da integração da discussão dentro dos grupos majoritários. E isso envolve tanto os judeus, como os negros, homossexuais e outras minorias”.
“E após o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, abriu-se uma lacuna para que (os antissemitas) pudessem passar com tudo, distorcendo fatos e importando uma situação que veio mascarada, num primeiro momento, de antissionismo e, depois, de anti-imperialismo, com conceitos absolutamente impróprios, frutos de uma ignorância muito mais aproveitadora do que estruturada”.
Sobre a polêmica em torno da questão do antissionismo: “O resgate histórico dessa questão vem lá atrás, mas para nós talvez seja mais fácil entender o que acontece nos idos de 1400 e 1500, quando surgiram os movimentos da Inquisição. Naquele momento, a Igreja distorce a história e responsabiliza os judeus pela morte de Jesus, o que não é verdade, porque Jesus, que vivia na região da Palestina, local dominado pelos romanos. E a decisão final pela morte de Jesus foi de (Pôncio) Pilatos, que lavou as mãos. A partir daí surge todo um movimento discriminatório focado em aspectos religiosos do judaísmo e esse movimento culminou com ondas migratórias: judeus foram para o norte da África, para os países nórdicos e para a América Latina, principalmente para no norte e nordeste do Brasil. Nesse momento o antissemitismo tinha características religiosas. Ao longo do tempo surge uma visão do judeu relacionada ao aspecto racial, o que é impróprio dentro de uma leitura da própria biologia. Mas encontraram nos judeus uma forma de descarregar (seus preconceitos)”.
Explicou ainda que, com o nazismo, os judeus sentiram a necessidade de se criar um Lar Nacional Judaico e é nesse momento que surge o movimento sionista. “E o que se vê hoje, com o antissionismo é o questionamento da existência de Israel, como se o Estado judeu não tivesse o direito de existir e de se defender quando é atacado”, pontuou.
Claudio Lottenberg falou também sobre a contribuição dos judeus ao Brasil e sobre importância do respeito à democracia e às diferentes opiniões políticas.
Ao final, Madeleine agradeceu a presença de Claudio Lottenberg, que retribui os agradecimentos “em nome dos cidadãos brasileiros”. “Nós precisamos de boas informações, de consistência para que possamos adotar ações e movimentos que possam ajudar para a nossa sociedade seja uma sociedade melhor. Dentro do contexto da tradição judaica, há um princípio que me chama muito a atenção que é o Tikun Olam, que significa a nossa responsabilidade de fazer do mundo um lugar melhor. E um mundo melhor é um mundo que é muito qualificado dentro de princípios e de respeito ao próximo. E isso tem como ponto de partida a luta intransigente contra o discurso de ódio e você, Madeleine, tem sido uma guardiã na luta contra o antissemitismo. Assim como muitos, como eu, você deve ter pontos críticos em relação a Israel, mas não feitos de maneira violenta, como a prática terrorista vem executando e muito menos dentro de um desejo de aniquilação de um Estado que foi criado graças a ação de um brasileiro chamado Osvaldo Aranha. Albert Einstein, patrono do nosso hospital, dizia que a vida é feita por exemplos e você, Madeleine, está dando seu. Muito obrigada pelo convite”, concluiu.
“Sem palavras para agradecer, estou muito emocionada”, destacou Madeleine.
Assista a conversa pelo link: https://www.youtube.com/live/GBr_WdQq1xY