15.10.24 | Notícias

"Antissemitismo cresce após o 7 de outubro"

Em artigo no 'O Globo', no último domingo (13), o advogado Fernando Lottenberg, comissário da Organização dos Estados Americanos para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo e ex-presidente da Conib alerta para o aumento do discurso de ódio contra os judeus motivado pela identificação equivocada das comunidades judaicas na diáspora com as políticas do atual governo israelense e a artificial generalização dos judeus como um grupo branco, rico e privilegiado. Leia a íntegra do texto:

No dia 7 de outubro de 2023, milhares de integrantes do grupo terrorista Hamas invadiram o sul de Israel, promovendo uma série de atrocidades, que culminaram com a morte de mais de 1.200 pessoas e o sequestro de mais de 200. O mundo se chocou com as imagens de extrema violência que desencadearam um intenso conflito entre Israel e Hamas. Passado um ano dessa invasão, o que observamos hoje, infelizmente, é um abismo para o alcance da paz e a iminência da expansão do conflito para uma guerra regional.

Se essa expansão ainda não aconteceu, não se pode dizer o mesmo dos impactos que o conflito já causou noutras regiões, constatados por meio do espantoso crescimento do antissemitismo e da disseminação do discurso de ódio, especialmente no Hemisfério Ocidental. 

Relatórios da Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês) e da Universidade de Tel Aviv revelaram que o antissemitismo avançou de forma assustadora nos Estados Unidos, com registros de aumento também em países como Argentina e México. No Brasil, esse tsunami de preconceitos e ódio também chegou após o 7 de outubro de 2023, impulsionado pelas redes sociais.

Nelas, desde o início do conflito, foram identificados 96 mil casos de antissemitismo no país, com o alcance potencial de 93 milhões de visualizações. Só na rede social X, de acordo com recente levantamento da Stop Hate Brasil, foram 15.284 postagens e comentários antissemitas entre outubro passado e julho deste ano, com apologia ao terrorismo, a Adolf Hitler e ao nazismo ou incitação à violência contra judeus.

É preciso entender as origens desse crescente ódio. Por décadas, ele foi fomentado por grupos neonazistas, principalmente na Europa e na América do Norte. Atualmente, foi assumido também pela extrema esquerda, com base em dois pilares: a identificação equivocada das comunidades judaicas na diáspora com as políticas do atual governo israelense; e a igualmente incorreta e artificial generalização dos judeus como um grupo branco, rico e privilegiado.

Ambos os pilares são ou estão fortalecidos por um movimento de antissemitismo em relação ao Estado de Israel — ou antissionismo — manifestado por alguns líderes políticos, professores universitários e outros grupos que assumiram a defesa da causa palestina e, assim, se sentiram liberados para evidenciar o ódio aos judeus e assumir atitudes, discursos e atos antissemitas. Temos visto isso acontecer em vários países da América Latina, incluindo o nosso.

A falta de conhecimento e de diálogo são marcas do impacto que este ano de conflito gerou em todo o mundo. Essa linha de pensamento ignora a pluralidade também existente na comunidade judaica. Não se trata de grupo homogêneo. Todos os que conhecem ou convivem com judeus sabem que há judeus brancos, pardos e negros, conservadores, centristas e progressistas, ricos, pobres e de classe média.

A principal ferramenta para reduzir o perigo do antissemitismo é o combate à desinformação. É fundamental buscar fortalecer os esforços para identificar e punir as formas modernas com que o antissemitismo vem ganhando terreno.

A educação contra a intolerância conta com diversas ações dos enviados especiais contra o antissemitismo, em vários países, e organizações internacionais, como é o caso, entre outros, da Comissão Europeia e da Organização dos Estados Americanos (OEA), que incluem manuais de boas práticas e diretrizes globais para o combate ao antissemitismo. Mas, para vencer esse desafio, é preciso contar também com a participação de governos, do Poder Legislativo, com políticas públicas para esse enfrentamento, além do Judiciário, fazendo cumprir as leis antirracismo, de educadores e organizações da sociedade civil.

É preciso ter claro que, embora os judeus sejam as primeiras vítimas do antissemitismo, seus verdadeiros alvos são a democracia e os direitos humanos, valores universais que precisamos cultivar.

*Fernando Lottenberg é o comissário da Organização dos Estados Americanos para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo


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