14.11.24 | Brasil
Colóquio Internacional na USP vai resgatar legado de imigrantes que fugiram do nazifascismo na Europa
A USP vai realizar, nos dias 19, 21 e 22 de novembro e 3 de dezembro, o Colóquio Internacional Travessias, um ato de repúdio ao antissemitismo, ao negacionismo e à cegueira que boicotam a produção de conhecimentos científicos nas universidades, como um todo. Simultaneamente, o ato vai render um tributo a milhares de cientistas, artistas e escritores que, fugindo das violências praticadas pelo nazifascismo na Europa, encontraram refúgio no Brasil a partir de 1933. O evento pretende destacar que toda sociedade tem um dever em relação ao passado, impedindo que ele seja irremediavelmente apagado ou silenciado. A recuperação deste passado é benéfica, ajudando a transformar a forma de agir e pensar da sociedade brasileira para, assim, encontrar uma lição para o futuro.
O evento - idealizado pelo LEER, em colaboração com o Centro de Memória do Instituto Butantan e Universidade Univale, Universidade de Poitiers (França) - irá divulgar os resultados das pesquisas que um grupo de especialistas em nível de excelência vêm realizando desde 2016. Com o apoio da Pró-reitoria de Pesquisa e Inovação da USP, diretoria da FFLCH, Universidade de Poitiers/França, Unibes e B’nai B’rith conseguimos formar uma equipe de jovens pesquisadores (muitos dos quais aqui presentes) dedicados a descrever as injustiças do passado praticadas por nações lideradas pela Alemanha nazista que abraçaram o antissemitismo como política de Estado. Estes jovens universitários, assim como os demais autores nacionais e internacionais convidados a participar do empreendimento de construção de uma enciclopédia como obra de referência – a Enciclopédia Travessias- têm procurado reanimar através de seus verbetes biográficos os ideais de justiça e liberdade, tão caros ao Estado democrático de direito. As trajetórias de vida de centenas de artistas, escritores e cientistas que encontraram refúgio no Brasil, estão sendo tratadas como registros de uma memória exemplar que, segundo Tzvetan Todorov, filósofo e linguista búlgaro, é ativa, útil ao presente, numa tentativa de transmitir uma mensagem de alerta e repúdio aos discursos de ódio e as políticas racistas de Estado.
Para 2025 será disponibilizada aos pesquisadores em geral a plataforma digital da Enciclopédia Travessias - cujo Base de Dados será patrocinada pela CONIB – Confederação Israelita do Brasil – idealizada para abrigar cerca de 520 verbetes biográficos com suas respectivas fontes de. pesquisas. O projeto Travessias e seus colóquios internacionais (previstos para 2024, 2025) inserem-se, assim, em uma luta política e histórica em prol da construção de novos conhecimentos, da memória e dos Direitos Humanos.
Através de palestras a iniciativa pretende demonstrar como os refugiados do nazifascismo (artistas, cientistas ou intelectuais, judeus e não judeus) apropriaram-se do sistema classificatório do mundo e de conhecimentos pré-existentes para construir seus argumentos no formato de narrativas e representações, ditas modernas, interpretadas como revolucionárias.
Durante os quatro dias de colóquio - assim como na futura enciclopédia digital TRAVESSIAS – os organizadores irão disponibilizar ao público global, as produções culturais e cientificas, desse grupo distinto - refugiados, exilados e/ou imigrantes forçados a deixarem suas comunidades de origem, muitos deles sobreviventes das práticas genocidas perpetradas pela Alemanha nazistas e países colaboracionistas.
O objetivo é divulgar o legado enquanto contribuição permanente ao mundo da ciência e da cultura, muitas vezes apenas perceptível por meio de indícios que comprovem como os protagonistas, (a maioria judeus liberais) conseguiram romper o cordão de exclusão em que foram colocados por seus perpetradores, dialogando com novas temporalidades e novos espaços de coexistências.