28.11.24 | Conib em ação
Temas de painéis atraem o público no segundo dia da Convenção da CONIB
O público lotou o Teatro Arthur Rubinstein do clube Hebraica de São Paulo no domingo (24) no segundo dia da 55ª Convenção Anual da CONIB para assistir a uma série de painéis com a participação de lideranças e especialistas que abordaram temas relevantes para a comunidade judaica, como o aumento do antissemitismo, as relações EUA-Israel sob o novo mandato de Donald Trump, as narrativas da extrema esquerda em relação à guerra em Gaza, o terrorismo e o radicalismo islâmico. Os temas, força, superação, atitude, responsabilidade e compromisso pontuaram os debates. Assista: https://www.youtube.com/live/LmpofNu7VNk
Com apresentação de Didi Wagner, o presidente da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp), Marcos Knobel, abriu o evento de domingo, destacando a importância dos ensinamentos transmitidos nos painéis e a força da comunidade judaica para enfrentar desafios.
O primeiro painel, com mediação da diretora da CONIB Célia Parnes, abordou "O impacto das eleições americanas e da política externa brasileira na relação com Israel" e teve a participação do presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, e do convidado especial Ted Deutch (CEO da AJC).
Celia Parnes apontou a libertação dos reféns e o combate ao antissemitismo como prioridades da comunidade neste momento atual e destacou: “Que sejamos educadores, com a capacidade de transmitir os valores judaicos, e que sejamos modelos de liderança”.
Ted Deutch falou sobre o impacto que as eleições americanas e a política brasileira têm nas relações com Israel. Abordou as diferentes visões entre o atual governo democrata de Joe Biden e o futuro, com Donald Trump. Disse acreditar na possibilidade de o futuro governo americano alcançar uma solução para situação dos reféns. Falou também sobre a importância da atuação das organizações judaicas nos EUA em defesa de Israel e na luta contra o avanço do antissemitismo.
Claudio Lottenberg falou sobre a influência das mídias sociais e das fake news na propagação de narrativas antissemitas e destacou o equívoco da opinião pública em relação à guerra Israel-Hamas-Hezbollah. Citou o que diz em seu livro sobre a “guerra de civilizações” no Oriente Médio e destacou a responsabilidade de cada um na conscientização sobre a realidade do conflito. Apontou o Irã como o grande inimigo de Israel e responsável pelos ataques de 7 de outubro de 2023 e disse acreditar que o próximo governo americano irá agir com maior rigor contra esse país. “O fanatismo prospera porque alguém permite”, afirmou, ao destacar: “Acredito que Trump irá subir o tom contra o Irã”.
Claudio falou ainda sobre a posição do Brasil em relação ao conflito no Oriente Médio: “O Brasil deveria manter uma equidistância, mas abraçou um lado e perdeu a legitimidade”.
Falou também sobre as inciativas da CONIB contra o antissemitismo e em defesa da comunidade: “Temos mais de 30 advogados atuando nas vias jurídicas”.
Antes do painel seguinte, Sandra Chayo, sócia diretora do Grupo HOPE, falou em mensagem de vídeo: “Participar é um ato de compromisso comum. Que o legado de nosso povo continue vivo!”.
O segundo painel reuniu Dina Siegel Vann (diretora da BILLA) e os advogados Andrea Vainer (diretora jurídica da CONIB) e Rony Vainzof, secretário da instituição. Dina falou sobre o trabalho de conscientização que desenvolve especialmente junto aos jovens que têm posturas anti-Israel. Falou também sobre o trabalho junto às comunidades latino-americanas e citou o importante trabalho de Fernando Lottenberg, como comissário da OEA para o Monitoramento e Combate ao Antissemitismo.
Andrea Vainer falou sobre o atual cenário desafiador, com o crescimento do antissemitismo e das células neonazistas no Brasil. Citou o trabalho da pesquisadora Adriana Dias, que apontou um aumento de 300% das células neonazistas no País. Falou também sobre os limites estabelecidos pela Constituição brasileira com relação à liberdade de expressão e pontuou: “Manifestação antissemita é crime no Brasil”.
Rony Vainzof completou: “É assombroso observar o efeito danoso do antissemitismo sobre as vítimas”. Ele destacou que a CONIB teve papel fundamental na aprovação da lei antiterrorismo e contra a apologia ao terrorismo. Falou também sobre a política nacional de combate ao antissemitismo, que tramita no Congresso Nacional, e a importância da adesão de estados brasileiros à definição de antissemitismo da IHRA (Aliança Internacional para a Memória do Holocausto).
O terceiro painel reuniu o ex-deputado e cientista político Heni Ozi Cukier e Benjamin Seroussi, diretor da Casa do Povo. Heni falou sobre como surgiu o antissionismo. “Foi na (extinta) União Soviética: lá criaram o termo e logo começaram a ligar antissionismo com nazismo. Mas isso é antissemitismo”. Benjamin abordou as divisões entre esquerda e direita, falou sobre a relevância histórica do sionismo e destacou a tradicional posição do Brasil em defesa de dois Estados como solução do conflito israelo-palestino. Ozi rebateu apontando a mudança de posição do atual governo com relação ao conflito em Gaza.
O quarto painel reuniu a diretora da CONIB Paula Puppi, a jornalista libanesa autoexilada no Brasil Carol Maluf e o cientista político e presidente executivo do StandWithUs Brasil, André Lajst. Paula perguntou a Andre sobre como está o atual cenário com relação a Israel no ambiente digital e, este, respondeu que a narrativa é a mesma, “apenas se acentuou”. “Israel é mais forte que os palestinos e que qualquer país da região e é muito difícil convencer alguém de que o mais forte está certo. Essa luta (contra postagens antissemitas) nas redes não dá para ganhar; a estratégia é tentar reduzir danos”.
Paula perguntou a Carol, como árabe, sobre como reage o seu círculo: “Diante de minha relação pessoal com a comunidade judaica esse assunto não deve mais estar na pauta. Por tudo que vivi e vi o antissemitismo é o primeiro sintoma de um mundo doente”. “As grandes tragédias começaram com o antissemitismo e a radicalização islâmica é a ameaça do momento”. Disse ainda que considera o povo judeu o povo escolhido e que a luta dos judeus é necessária.
O quinto painel reuniu o presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, Sidney Klajner, e o jornalista Andre Tal. Klajner falou sobre a importância da emoção, como forma de superação. Andre, de 46 anos e que aos 39 foi diagnosticado com Parkinson, explicou que a superação, para ele, é poder realizar pequenas tarefas do dia a dia. “Eu poderia me vitimizar, mas a minha identidade judaica fez a diferença na minha superação”. Klajner destacou que tem observado no dia a dia no hospital que a fé interfere a favor da cura de pacientes. E Andre pontuou: “Se não tivermos orgulho de ser quem somos ninguém nos respeitará”.
Ao final da programação da manhã, a diretoria se reuniu no palco para ler trechos do Manifesto da CONIB.
A programação da tarde foi sobre Media Training e reuniu o diretor de Comunicação da CONIB, Sergio Malbergier, e a diretora da Agência ANK, Anik Suzuki. Malbergier falou sobre o poder da comunicação como forma de luta contra o antissemitismo e Anik deu uma aula sobre como se relacionar com a imprensa. “É preciso furar a bolha para ocupar espaço”, destacou.
Na sequência, foi realizado o workshop "Extremismos no Brasil" com Christian Viana, da Polícia Federal e subsecretário de Integração da Segurança Pública, e Bruno Cardoni, doutorando e mestre em Filosofia Política e Filosofia do Direito pela UFRGS.
Christian Viana envolveu o público presente na Plenária do clube, ao abordar a estreita colaboração entre o crime organizado no Brasil e grupos terroristas, como o Hezbollah. “O terrorista se alimenta nos grupos criminosos e o crime se beneficiou com o terrorismo”. Christian citou o ataque à organização judaica argentina AMIA, em 1994, afirmando que todas as etapas de planejamento foram feitas no Brasil. “O Hezbollah não assume um ataque, porque é um partido político no Líbano. O grupo usa outros grupos, como a Jihad Islâmica e até as Farc colombianas, para assumir suas ações”.
Bruno Cardoni deu um panorama sobre a situação atual do neonazismo no mundo e no Brasil e citou dados da pesquisadora Adriana Dias, que revelou um crescimento das células, especialmente no estado de Santa Catarina. Em um ano – de 2021 para 2022 – o número desses grupos extremistas identificados no estado mais do que dobrou, com 320 células ativas, o que representa mais de um quarto dos 1.117 grupos catalogados no país. Apenas em Blumenau, cidade de 365 mil habitantes, são 63. Só perde para São Paulo, com 96 células neonazistas.