28.11.24 | Mundo

“A liberdade cegando o povo”

Em artigo na Folha de S.Paulo desta terça (26) sob o título acima, o escritor João Pereira Coutinho comenta o alerta feito pela polícia de Berlim a judeus e gays para que evitem circular em bairros árabes da cidade por ser perigoso.

“Li a notícia duas vezes, só para confirmar que não estava surtando. As palavras da senhora Barbara Slowik (chefe da polícia de Berlim), para além de não fazerem uma distinção prudente entre criminosos e comunidades árabes inteiras (primeiro erro), acaba por punir as vítimas, não os agressores (segundo erro).

Mal comparado, é como aconselhar as mulheres a não usarem minissaia para não serem violadas. Um Estado de Direito garante segurança para todos, sem excluir do espaço público minorias indesejadas. Melhor ainda: indesejadas por outras minorias.

Que eu saiba, judeus com estrelas amarelas ou gays com triângulos cor-de-rosa ficaram lá atrás, como aberrações da história. A cidade pode ser a mesma. O século é que não. Até porque a estratégia da polícia de Berlim pode não se limitar a judeus e gays. Sabendo que os fanáticos têm uma lista generosa de ódios e preconceitos, quem se seguirá no convite de exclusão? Mulheres sem véu? Cristãos praticantes? Bebedores de cerveja e comedores das famosas salsichas alemãs? O céu é o limite quando o Estado não impõe limites”.


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