“A memória é essencial para entendermos o presente e pensarmos o futuro”, diz diretor do MUJ em entrevista à CONIB - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.

28.11.24 | Brasil

“A memória é essencial para entendermos o presente e pensarmos o futuro”, diz diretor do MUJ em entrevista à CONIB

À frente do Museu Judaico de São Paulo – MUJ desde a sua inauguração, em dezembro de 2021, o diretor executivo, Felipe Arruda, fala à CONIB, neste ‘Histórias Reais’, sobre a contribuição cultural e educativa que o espaço representa não apenas para a comunidade judaica, mas para a toda sociedade. Localizado no antigo templo Beth-El, o MUJ é referência, não apenas como museu, mas também como espaço dedicado às artes.  

Museu em diálogo com o tempo presente

O Museu Judaico de São Paulo já nasceu com essa perspectiva, de atuar simultaneamente em duas frentes: uma é a preservação da memória, o cultivo dessa memória judaica aqui no Brasil, tão importante – o MUJ é o guardião do maior acervo judaico brasileiro. Temos um grande acervo de itens, objetos, documentos, fotos, doados ao museu ao longo de muitos anos, e esse conjunto de elementos que formam o acervo conta a história da presença judaica aqui no Brasil. E isso é fundamental, porque sabemos que a memória é essencial para entendermos o presente e pensarmos o futuro. A memória é um elemento vivo que participa do presente.

Memória não se guarda por conservação, é um fenômeno vivo que participa do presente”, afirma sobre a história da presença judaica no país agora estar em exibição permanente, sob o olhar interessado e constante de alunos de escolas públicas que visitam o museu quase que diariamente. Então, utilizamos essa memória realizando exposições, abrindo o acervo para pesquisa, dando oportunidade para as pessoas conhecerem o museu e divulgando acervo em nossos canais. Isso é uma parte do que se dedica o museu.

Cultura em constante transformação

A outra parte, afirma, é a parte que entende que toda cultura está em constante transformação. Não basta preservar e difundir essa memória. É preciso cultivar essas expressões da cultura judaica no tempo presente. Na prática, isso significa desde receber as escolas e compartilhar as expressões da cultura judaica atuais com estudantes que nunca tiveram contato com o que é ser judeu e o que é a cultura judaica até mostrar a produção de artistas de várias áreas, do Brasil e de fora, como a que realizamos com o estilista Alexandre Herchcovitch e com fotógrafas judias.

Relações Internacionais

Nos últimos anos estabelecemos parcerias e diálogos muito próximos com os principais museus judaicos do mundo. Por exemplo, em junho do próximo ano vamos abrir uma exposição no Museu Judaico de São Francisco, na Califórnia, um dos museus mais prestigiados do mundo. Neste ano, nós abrimos uma exposição num centro judaico em Toronto, no Canadá. E estamos organizando, também para o próximo ano, um projeto junto com o Museu de História e de Arte em Paris, focado no projeto Judeus na Amazônia. Tivemos recentemente um de nossos colaboradores participando de um congresso no Museu judaico do Holocausto e do Genocídio na África do Sul e tem muito mais. E estamos em contato muito próximo com outros museus judaicos no mundo, em Berlim, Amsterdã e em Nova York. Então fico muito feliz em ver que o museu, em tão pouco tempo, tenha se internacionalizado.

Atos de antissemitismo

Já tivemos alguns episódios de antissemitismo, como por exemplo quando foi pichada uma suástica enorme na frente do museu em nosso portão de vidro e que foi logo retirada. Já enfrentamos manifestações de pessoas gritando palavras de ódio. Mas nunca tivemos nenhum tipo de violência física, ou algo que nos tenha deixado mais preocupados. O museu trabalha alinhado com a Fisesp na parte de segurança e costumamos seguir todas as orientações que nos são passadas. E estamos sempre atentos.

Arte no Museu

O museu trabalha no campo da arte também. Costumamos fazer muitas ações ligadas às tradições judaicas e eventos mais próximos às tradições religiosas. Então o museu cumpre esse papel comprometido com as tradições, com os valores judaicos e de combate ao antissemitismo. Tudo isso está imbuído em nosso trabalho. Mas também atuamos no campo da arte. E é próprio do campo da arte a experimentação, a ousadia. E essa artista que performou com o Herchcovitch é uma pessoa que trabalha com ele há 30 anos. Ela esteve presente na primeira exposição que ele fez e que é aclamada até hoje e ele a convidou para fazer essa performance. E nós, como museu e que se pretende que seja um museu de excelência do século 21, temos que acolher esse tipo de manifestação. Então essa performance aconteceu num espaço que não é mais uma sinagoga e, sim, um espaço musealizado. Então tudo é feito com muito critério e respeito. E o MUJ pretende ser um museu para todos os judeus e isso inclui tanto as linhas conservadoras quanto as mais progressistas. Às vezes podem acontecer manifestações que incomodem os mais progressistas e vice-versa. Mas isso faz parte, inclusive da natureza judaica, que é o debate de diferentes pontos de vista. Ou seja, é como diz aquela famosa frase: dois judeus, três opiniões.

E isso mostra que podemos conviver com as diferenças, de opinião e de visões de mundo, e que nada disso vai colocar em risco todo o trabalho que o museu faz que é tão importante, que tem a ver com a educação, com o combate ao antissemitismo e com a promoção da cultura judaica.

‘Judeus na Amazônia’

Sobre o sucesso da exposição ‘Judeus na Amazônia’, que reúne mais de 220 itens entre objetos, documentos e obras de arte, incluindo um sêfer Torá de 450 anos originário do Marrocos, Arruda conta que a maior parte do público é formada por não judeus. “São pessoas que nunca entraram em uma sinagoga, com visão estereotipada do que é ser judeu. E é nisso que o museu trabalha, desconstruindo estereótipos.”

Essa rica experiência, Arruda poderá compartilhar no 1º Seminário de Museus Judaicos, que acontece em dezembro em Buenos Aires e reunirá representantes de museus e centros culturais da Argentina, Chile, México, Equador, Costa Rica e Brasil, entre outros países. “Um museu do século 21 precisa dialogar com questões do presente”, diz sobre a expectativa de trocar ideias com seus pares latino-americanos.

Além do acervo fixo, a mostra “Judeus na Amazônia” fica em cartaz até maio de 2025.

O Museu Judaico de São Paulo fica rua Martinho Prado, 128 - Bela Vista, e abre de terça a domingo, das 10h às 18h. Ingresso: R$ 20 – grátis aos sábados.


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