Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora é homenageada por resgatar a história e memória da imigração judaica na cidade e região - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.

28.09.22 | Notícias

Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora é homenageada por resgatar a história e memória da imigração judaica na cidade e região

A Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora foi homenageada no último dia 16 pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage pelo seu trabalho de resgate da história e memória da imigração judaica na cidade e região. Na edição 2022, foram contempladas 12 iniciativas de pessoas físicas e jurídicas voltadas para a defesa, divulgação e conservação do patrimônio material e imaterial da cidade (Veja a notícia no Instagram da Biblioteca Hebraica). O professor, historiador e diretor acadêmico da Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora, Washington Londres, falou à CONIB sobre esse trabalho de resgate da história da imigração judaica na região. Veja a seguir:

Quando e como foi fundada a Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora?

A Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora, foi fundada em 18 de março de 2015, como parte dos planos de resgate das atividades sociais e religiosas do pequeno grupo de judeus da cidade. Entretanto em 2018, a Biblioteca Hebraica se consolida como um projeto independente, se inclinando mais para as atividades culturais, acadêmicas e intercambiais, principalmente com outras instituições de estudos e pesquisas do fenômeno imigratório judaico no Brasil, o que deu base para o meu projeto de mestrado na faculdade de História da Universidade Federal de Juiz de Fora, onde trabalho a partir de fontes primárias e depoimentos orais, a trajetória das primeiras famílias de judeus que acessaram a região deste a primeira metade do século XIX.

Esse local reúne informações apenas da cidade, ou também de todo o estado de Minas?

O espaço reúne um crescente acervo de livros, revistas, jornais, mobiliário e obras de artes, adquiridas com recursos próprios, mas também oriundas de doações de instituições maiores como Museu Judaico do Rio de Janeiro, Biblioteca do Clube Hebraica de São Paulo, Instituto Histórico Israelita Mineiro, Associação Sholem Aleichem, e também de muitas famílias que vem ao longo dos anos nos encaminhando doações.

A referência documental do judaísmo em Minas Gerais encontra-se no Instituto Histórico Israelita Mineiro, situado na capital Belo Horizonte, contudo seu acervo concentra mais os documentos e relações da sociabilidade judaica naquela cidade. Já a Biblioteca Hebraica, abarca documentos com uma delimitação temporal mais antiga e mais específica à região da zona da mata de Minas Gerais, englobando cidades como Juiz de Fora, Santos Dumont, Mar de Espanha, Cataguases, Barbacena e outras regiões menores que fizeram parte do circuito do café e outros grãos.

Quem mais está à frente da biblioteca?

Atuo junto com o conselho deliberativo, formado por Priscila Faragó, Laura Rotter, Rebeca Rotter, Arthur Berbert, Maciel Fonseca, Adnilson e Flávio Vaz. A Biblioteca procura apoiar também junto com sua equipe de voluntários, trabalhos de pesquisa da cultura judaica, realizando visitações em escolas, universidades ou núcleos de estudos que demonstram interesse em conhecer um pouco mais sobre as múltiplas atividades da coletividade judaica brasileira e ao longo destes sete anos, realizamos e participamos de seminários de Educação sobre o Holocausto, Combate ao Antissemitismo e participação ativa na Comissão em Defesa da Diversidade Religiosa da Prefeitura de Juiz de Fora, e que por todos estes esforços, nos concedeu em setembro de 2022 o prêmio Amigo do Patrimônio em sua 17º edição.

Qual a origem da comunidade judaica dessa região? Quando vieram e quantos são?

Juiz de Fora é uma cidade que começou a ganhar forma no final do século XVIII, mas foi nos primeiros anos do século XIX que passou a despontar como ponto comercial próspero, o que atraiu muitos comerciantes para cidade. O primeiro registro é de 1846, quando é citada a pequena colônia de mascates franceses judeus, conforme relatou o autor Paulino de Oliveira na obra “História de Juiz de Fora de 1966, ao descrever a composição das primeiras concentrações populacionais na cidade.

Mais adiante, os autores Egon e Frieda Wolff em seu livro Judeus no Brasil Imperial  de 1975, dedicam um capítulo inteiro sobre a presença judaica em Minas Gerais na segunda metade do século XIX, basicamente Juiz de Fora e cidades vizinhas, já a capital Belo Horizonte seria inaugurada quase trinta anos depois.

Consideramos que a imigração judaica em Juiz de Fora, possui três momentos distintos, a primeira delas no século XIX com inúmeras famílias de judeus franceses e prussianos, com destaque para a numerosa filiação de Salomão e Zoreth Levy, David Moretzsohn e Jacob Abraham.

O segundo registro de imigrantes judeus na cidade, ocorre na primeira metade do século XX, com abundante concentração de famílias de comerciantes oriundos da Bessarábia, Polônia e partes da Rússia e que junto dos também imigrantes portugueses, libaneses e sírios, compuseram o comércio local da parte baixa da Rua Marechal Deodoro, com destaque para as famílias Goldberg, Grinberg, Kojuck, Zemel, Snitkowisky, Rotter, Kosminsky, Brener, Tucherman dentre outras.

O terceiro registro ocorre em meados da Segunda Guerra Mundial, aonde chegam na cidade outras levas mais modestas de imigrantes judeus que rapidamente se integraram na sociedade local, desenvolvendo atividades comerciais.

Todas essas informações estavam prestes a serem perdidas, ou consumidas pelo esquecimento. E o papel da Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora é dar luz e visibilidade a esta parte da historiografia da imigração judaica brasileira.

Biblioteca Hebraica de Juiz de Fora é homenageada por resgatar a história e memória da imigração judaica na cidade e região - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.

Chá da Wizo Juiz de Fora, organizado por Fanny Goldberg e outras damas judias, aproximadamente 1948.

Acervo: Jacob Pinheiro Goldberg.


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