“É muito bom fazer parte de uma comunidade que leva o humor a sério”, diz o ex-casseta Beto Silva - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
Foto: Divulgação CONIB

11.01.23 | Brasil

“É muito bom fazer parte de uma comunidade que leva o humor a sério”, diz o ex-casseta Beto Silva

Beto Silva, nome artístico de Roberto Adler, ex-membro do grupo humorístico Casseta & Planeta e fundador da revista de humor Casseta Popular, ao lado de Marcelo Madureira e Hélio de la Peña, seus colegas na faculdade de Engenharia de Produção da UFRJ e do DCE Mario Prata, fala à CONIB sobre a sua origem, como pratica o seu judaísmo, a influência do humor judaico na criação de seus personagens, a parceria com os outros cassetas, o seu lado escritor e anuncia em primeira mão o lançamento, em março, de seu novo livro: “Notas sobre humor”.

Origem

Minha família veio da Europa Oriental. Meus avós, por parte de pai, vieram da Polônia e, por parte de mãe, da Romênia. Eles chamavam de Bessarábia, lá tudo era Bessarábia, uma região grande. Eles chegaram no Brasil no final da década de 1920. Meus pais já nasceram aqui. Meu pai nasceu em Salvador, na Bahia, e minha mãe no Rio de Janeiro. Meu pai foi para o Rio no final na década de 1950 e lá conheceu minha mãe. E eu já nasci aqui, no Rio, sou judeu carioca.

O que é ser judeu?

Ser judeu é fazer parte do povo judeu. Não é só religião, não são só os costumes, é mais uma sensação de pertencimento, a uma cultura a um povo e a sua história. E eu sinto isso. Não sou religioso, mas me sinto judeu. Conheço bem a história, estudei em escola judaica. Minha esposa não é judia e minha família é um pouco laica, mas eu me sinto judeu, me sinto parte do povo judeu. Tenho esse legado e tento passar adiante muitas coisas que aprendi. Não costumo frequentar sinagogas, mas a minha família, de meus pais, segue as festas – Rosh Hashaná, Yom Kipur, Pessach. Nessas ocasiões, costumamos nos reunir e celebrar seguindo os costumes. Por isso penso que ser judeu não é só ter a religião judaica e ser praticante dela. Esse é apenas um dos componentes, e importante, é claro. Mas ser judeu é mais do que isso, é se sentir pertencente a um povo, a uma história, aos costumes, à cultura. É tudo isso junto.

Humor Judaico

Nós judeus temos uma longa tradição de comédia, principalmente os judeus americanos, como Jerry Lewis, Jerome "Jerry" Allen Seinfeld, Mel Brooks, Woody Allen. Sou fã de todos eles. O humor judaico é muito forte e, obviamente, isso teve alguma influência em minha vida, uma vez que acompanhar esses comediantes me fez gostar de comédia. Mas não houve nenhum comediante específico que tenha me influenciado mais e me estimulado a segui-lo. Mas todos esses comediantes judeus e não judeus me inspiraram e me fizeram gostar de comédia. No Brasil, especialmente, a influência do humor escrito, em publicações como Pasquim, e até em comédias de televisão foram importantes. Tudo isso teve grande influência sobre mim e o encontro com os amigos do Casseta & Planeta acrescentou, e criamos um estilo. E é claro que, para compor meus personagens, que foram muitos, me preparei, fui atrás de muitas pessoas.

A parceria com os outros ‘cassetas’

É uma longa história. Começou na faculdade de engenharia da UFRJ. Lá, conheci o Hélio (De La Peña) e o Marcelo (Madureira), éramos da mesma turma. Logo ficamos amigos e vimos que tínhamos muitas coisas em comum, uma delas o gosto pelo humor. Foi então que decidimos criar o almanaque Casseta Popular e começamos a vendê-lo na faculdade e em vários outros lugares. E a coisa cresceu e foi dando certo, porque vivíamos um período de muita efervescência, com o fim da ditadura e com a volta dos movimentos estudantis. E toda essa situação virou tema para nós e quando a publicação começou a crescer resolvemos chamar mais gente para trabalhar conosco. Marcelo era amigo do Bussunda e do Claudio Manoel e eles passaram a integrar a equipe. E tudo foi dando certo: o panfleto virou revista e a revista chegou à televisão.

O lado escritor

E toda essa experiência estimulou o meu lado escritor. “Julio sumiu!” foi meu primeiro romance e acabou virando filme depois. Depois escrevi “Cinco contra um”. Em 2019 escrevi meu terceiro romance: “Estão matando os humoristas”. E entre esses romances também lancei uns livros que não eram de ficção, como “Uma piada pode salvar sua vida”, que eram mais uma brincadeira e que continham mensagem de autoajuda, e um livro de crônicas chamado “Blogando e andando”. Mas gosto muito de romances e estou escrevendo mais um. Em março devo lançar “Notas sobre humor”, que escrevi durante a pandemia e que me deu muito prazer em escrever. E estou dando essa notícia à CONIB em primeira mão. “Estão matando os humoristas”, que une uma história policial a um enredo cômico, foi um romance que mais me deu prazer em escrever. Não tem jeito, falar e escrever sobre humor é o que me dá prazer. E é muito bom poder falar à comunidade judaica, que sempre foi muito ligada ao humor e já produziu muitos humoristas. É muito bom fazer parte de uma comunidade que leva o humor a sério.

O crescimento de grupos neonazistas no Brasil

Isso é muito sério e muito preocupante. E infelizmente isso está acontecendo em todo o mundo. E isso se deve ao crescimento do populismo de extrema direita em vários países. Com esse crescimento muitos grupos (de neonazistas) apareceram. E o nazismo é ruim não apenas para nós, judeus, mas para a raça humana. Essa é uma fonte de muita preocupação e, infelizmente, é uma tendência no mundo. Torço para que isso pare em algum momento.

Mensagem aos jovens

Eu diria que neste momento, de muito radicalismo, muita polarização, de opiniões exacerbadas, manter a democracia é fundamental. Democracia é uma das grandes invenções do homem. É a melhor forma de se conviver em sociedade. O fato de discordarmos da opinião de outras pessoas não é motivo para brigas ou agressões. Por isso penso que a democracia é um bem fundamental e devemos preservá-la sempre. Esse é meu recado.


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