Presidente do CIRN destaca as conquistas de sua gestão, como parceria com universidade para a criação de curso sobre judaísmo - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
Foto: CONIB - Divulgação

15.02.23 | Brasil

Presidente do CIRN destaca as conquistas de sua gestão, como parceria com universidade para a criação de curso sobre judaísmo

Flavio Hebron, presidente do Centro Israelita do Rio Grande do Norte (CIRN), fala à CONIB sobre a comunidade judaica de Natal, a questão com os Bnei Anussim e as conquistas de sua gestão, como a criação de eventos culturais e as parcerias com a universidade estadual para a realização de um curso de extensão sobre judaísmo, que deve ter início em março, e um projeto para recuperar, catalogar e colocar disponível para consultas o patrimônio cultural da biblioteca do CIRN, com obras do século XIX.

 Trajetória na vida comunitária

 A minha trajetória na vida comunitária é recente. Na verdade ela teve início há quatro anos e meio, quando o então presidente do CIRN Samuel Gabay e o Max Gabay me convidaram para ser presidente da instituição. Num primeiro momento eu recusei porque não tinha nenhuma experiência de vida comunitária, mas depois acabei aceitando.

Desafios

Presidir o CIRN foi um grande desafio, porque eu não conhecia a estrutura da instituição, nem os problemas da comunidade de Natal. E aqui temos um núcleo muito peculiar: a comunidade atual e a anterior, que veio no início do século XX e que tem, em sua maioria, origem ashkenazi, muitos vindos da Ucrânia, Polônia e Bessarábia. Antes eram comunidades irmãs Natal, Recife e Salvador. E, após o fim a de Segunda Guerra, Natal deixa de ser uma base militar e, com isso, há uma perda econômica muito acentuada, o que fez com que muitos membros da comunidade fossem buscar outras cidades para residir e trabalhar e para que seus filhos pudessem ter acesso a escolas melhores. Então houve um esvaziamento e a última família dessa primeira comunidade deixou Natal em 1968.

Os Bnei Anussim

No meio da década de 1970 para o início dos anos 1980, surgiram dois movimentos aqui, no Rio Grande do Norte. Primeiro veio o fenômeno dos Bnei Anussim, que criam coragem e saem das cavernas onde estavam com medo da Inquisição, que terminara há mais de cem anos, mas que ficara presente no inconsciente coletivo dessas pessoas.

Então, foi a partir dos anos de 1970 até os anos de 1980 que as famílias Bnei Anussim começam a trilhar o caminho de volta ao judaísmo. Esse caminho foi muito árduo porque ele não passou pelas autoridades religiosas judaicas. Foi um fenômeno autônomo, em que muitos foram buscar em Recife um professor judeu marroquino, que acabou sendo o grande moré dessa primeira geração de Bnei Anussim. E esses primeiros, do Rio Grande do Norte, nunca foram chegados a brigas ou confusões, mas tivemos problemas com outros grupos da região nordeste.

Paralelamente a isso, começaram a chegar em Natal famílias judias vindas de outros estados, muitas por causa de aprovação em concursos públicos ou transferências, pincipalmente ligadas à Universidade Federal do Rio Grande do Norte e à Petrobras, ou Banco do Brasil e Caixa Econõmica. Essas famílias vieram, em sua maioria, do norte do País. E essa também é minha origem. Eu vim de Manaus.

E a partir do encontro dessas famílias judias com esses grupos de Bnei Anussim ocorreram alguns conflitos, porque as famílias judias consideravam que os Bnei Anussim não conheciam o judaísmo, nem a liturgia e cometiam erros. Esses acontecimentos foram inevitáveis nesse processo de retorno dos Bnei Anussim ao judaísmo. E eu assumi o CIRN num desses momentos de crise, tanto entre famílias judias contrárias aos Bnei Anussim, como entre essas e outros judeus que se posicionavam a favor dos Bnei Anussim.

Então, após negociações conseguimos pacificar a comunidade e acabar com esses conflitos. Foram quatro anos de trabalho muito árduo nesse sentido. Unificamos os que estavam separados e hoje todos se reúnem juntos para rezar e celebrar as datas na sede do CIRN, na sinagoga. Enfim, foi um grande desafio que vencemos.

Uma outra questão é que Natal e Tibau (município localizado na extremidade setentrional do estado do Rio Grande do Norte) sempre tiveram uma comunidade exclusivamente religiosa, não havia um movimento juvenil sionista judaico, nem vida comunitária com sistema de voluntariado e nem com a parte social e cultural.

Conquistas

Então nesses últimos quatro anos fizemos grandes avanços e atualmente temos atividades antes impensáveis na comunidade. Hoje temos um grande evento nacional reconhecido pela sua importância e qualidade, que é a Semana de Cultura e Pensamento Judaico do Rio Grande do Norte e que acontece sempre no mês de agosto. Também estamos com um projeto em parceria com a Universidade Estadual do Rio Grande do Norte que é um curso de extensão sobre judaísmo que deve ter início em março. Além disso temos uma biblioteca fantástica aqui no CIRN, com obras do século XIX e que, antes, estava literalmente jogada às traças por falta de conhecimento e de pessoal especializado. Então fizemos um convênio com a universidade estadual para recuperar algumas obras, catalogá-las e colocá-las à disposição para consultas, tornando a nossa uma biblioteca viva e acessível.

Enfim, hoje temos um leque de atividades comunitárias muito intensas, já revelando uma face de comunidade atuante, comum nas grandes capitais do País, mas que antes não era uma característica da comunidade judaica de Natal. Considero esses avanços importantes e acredito que neste ano, com a nova presidência, todo esse trabalho será preservado e teremos outros avanços em nossa comunidade.

Hoje judeus e Bnei Anussim convivem em paz e é provável que muitos deixem de ser Bnei Anussim, pois temos um convênio com a Congregação Israelita Paulista (CIP) e o judaísmo reformista brasileiro também está dentro desse programa, junto com a Sibra, de Porto Alegre. Já temos uma segunda turma em andamento e acredito que dentro de dois ou três anos os nossos Bnei Anussim estejam todos devidamente convertidos, reconhecidos nacionalmente e aptos a recorrer à lei do retorno para aqueles que desejarem fazer aliá para Israel. Hoje a comunidade do Rio Grande do Norte ganhou uma dimensão que nunca havia tido antes.

A Comunidade

Temos, no Rio Grande do Norte, 20 famílias judias, que vieram morar em Natal e que já têm descendentes, com algumas crianças de até três anos de idade já nascidas aqui. E temos em torno de 45 famílias Bnei Anussim. Isso dá um total em torno de 200 a 250 pessoas em todo o estado.

Origem

Venho de uma família de casamento misto. Minha mãe é católica, não convertida, mas é secular, e meu pai é judeu, descendente de uma família que veio da Turquia para o Brasil no início do século XX. E nos anos de 1960, meu pai passou num concurso na Receita Federal e fomos morar em Manaus. Fui para Manaus com quatro anos de idade e então todo o nosso processo de conexão com o judaísmo foi com os judeus marroquinos da cidade. Então, apesar de a minha família não ser de origem marroquina acabou adotando os costumes desses judeus originários do Marrocos. Cresci então nesse ambiente, em meio a essa fantástica cultura judaica marroquina amazonense.

Mensagem aos jovens

A minha mensagem é a de que eles continuem com os estudos, com essa alegria e vontade de participar da vida comunitária através do movimento juvenil. Eles também devem ter a responsabilidade de cuidar do caminho para que as crianças tenham espaço para crescer e se desenvolver no ambiente judaico. Eu diria que os jovens de hoje são fundamentais nesse processo de criação e educação de identidade judaica para com essas famílias bnei anussitas. A eles desejo boa sorte nesse trabalho que é fundamental para o futuro do judaísmo no Rio Grande do Norte. E essa responsabilidade é de suma importância numa pequena comunidade como a nossa, do Rio Grande do Norte. O fato de vermos jovens preocupados e envolvidos com essa questão, da construção da identidade judaica em nosso estado, é louvável e merece todo o nosso apoio e incentivo.


Receba nossas notícias

Por favor, preencha este campo.
Por favor, preencha este campo.
Por favor, preencha este campo.
Invalid Input

O conteúdo dos textos aqui publicados não necessariamente refletem a opinião da CONIB. 

Desenvolvido por CAMEJO Estratégias em Comunicação