21.03.23 | Brasil
Sol Azulay fala sobre a influência de seus ancestrais judeus marroquinos na sua formação e a opção pela moda e gastronomia
Em entrevista exclusiva à CONIB, Sol Azulay fala sobre a influência de seus ancestrais judeus marroquinos na sua formação, a sua opção pela moda e gastronomia como profissões, a criação de seu buffet, o Couscous, e deixa uma mensagem às novas gerações: “Gostaria de deixar como legado a busca e o prazer pelas coisas simples e belas da vida, o respeito pelo próximo, o amor à natureza, o prazer em sentar em volta da mesa com aqueles que amamos e ter motivos para rir. Isso já é muita coisa!”
Origem
Sou descendente de uma família judia marroquina que imigrou no início do século para Belém do Pará, na época do boom da borracha na Amazônia. Meu tataravô, David Rubem Azulay veio de Tetuan para Belém, aonde conheceu minha bisavó Luna Garson. Tiveram oito filhos, dentre eles, minha avó Sol Azulay, que em 1947, casou-se com meu avô Nissin Azulay, filho de Jayme e Rachel Azulay que também vieram do Marrocos para Belém, passando antes pelo Peru, aonde meu avô nasceu. Foi um grande encontro de Azulays, pois não eram primos! Fui criada e educada seguindo as práticas e costumes dessa família.
A opção pela gastronomia
Sempre gostei da cozinha e sempre fui muito curiosa. Cresci vendo minha avó preparar banquetes em casa todo Shabat, às vezes para 40, 50 pessoas toda sexta feira. Ficava encantada com o tamanho das panelas, com os processos da feitura de pratos que às vezes levavam 48 horas para ficarem prontos. Quando fui morar sozinha aos 20 anos, comecei a me aventurar na cozinha querendo desenvolver minhas próprias receitas a partir de toda bagagem que já havia coletado. Sempre fui criativa e autodidata na cozinha. E assim como minha avó, sempre gostei de reunir amigos e familiares ao redor da mesa. Durante muito tempo ouvi: “Por que você não abre um restaurante? “Sabia que não era assim tão fácil, e ainda mais com uma carreira dentro do mundo da moda já em curso, não encontrava brecha para esse novo caminho. Até que a pandemia chegou e acabou com todos os setores aonde sempre trabalhei. festas, casamentos, teatro, cinema, música, carnaval. Foi então que pensei: “Agora é a hora de botar aquele plano em curso!”. Isso porque as pessoas estavam trancadas em casa consumindo o que lhes pudesse ser entregue de forma segura. E acabei aproveitando essa oportunidade e ainda levando afeto e história nas receitas que desenvolvi. São 2 anos e meio de entregas e pesquisas inspiradas na cozinha da vovó e de meus ancestrais.
Atuação como estilista
Costumamos dizer que a moda é uma cachaça, um vício. Acho que a cozinha também! Então por ora seguimos atuando nesses campos! Tenho um atelier na Urca onde atendo clientes que desejam projetos especiais, mão só com as roupas, mas como a festa inteira: decoração, assessoria e agora, inclusive, o buffet!
A influência dos ancestrais
Acredito que somos sempre o recorte que elegemos dos nossos antepassados. Do lado materno, venho de uma família de TV, cinema e moda. Do lado paterno comerciantes e banqueteiras. Sou resultado de toda essa mistura. Até hoje quando me perguntam com que eu trabalho, paro e penso em como começar a explicar. Para falar de quem sou e do que eu faço, não poderia deixar de contar a história de cada um que me trouxe até aqui.
A diversidade de culturas
Com acesso à informação e disseminação pela internet ficou muito mais fácil o acesso à diversidade de culturas, receitas, formatos e teorias sobre a boa alimentação. Vemos cada vez mais crescer as comunidades dos vegetarianos, dos veganos, dos que seguem a kashrut. Acho que não é mais só uma questão de religiosidade ou teorias. É uma necessidade de estar atento ao que se come. Já que acredito mesmo que somos feitos daquilo que colocamos para dentro do nosso corpo.
‘Couscous’ é um restaurante, ou apenas delivery?
Hoje em dia o Couscous é um delivery sob encomenda e também um buffet. Você pode encomendar pratos para um jantar especial, ou apenas para sair da rotina. Pode receber 10 ou 100 amigos para jantar, que podemos estar junto auxiliando na escolha do cardápio, na variedade, e com todo serviço necessário seja na casa do cliente, ou no local do evento. Nossa cozinha não é casher, mas eventualmente atendemos alguns clientes montando um menu casher, com as carnes próprias e demais itens. Acho que no Rio de Janeiro faltam opções de cozinha casher com esse olhar mais amoroso e contemporâneo para a comida. Fica ai um próximo desafio!
Legado às futuras gerações
Gostaria de deixar como legado a busca e o prazer pelas coisas simples e belas da vida, o respeito pelo próximo, o amor pela natureza, o prazer de sentar em volta da mesa com aqueles que amamos e ter motivos para rir. Isso já é muita coisa!