08.01.24 | Brasil
“Parte da esquerda despreza antissemitismo, dizem autores”
Matéria de Anna Virginia Balloussier, na Folha de S.Paulo, cita escritores para destacar que a guerra entre Israel e Hamas reacende o debate de que o antissemitismo é normalizado não apenas por grupos de inspiração nazista como também por muitos da esquerda, historicamente ligada a populações oprimidas. Segundo pesquisadores, alas progressistas se deixam levar por estereótipos e desprezam manifestações de preconceito contra judeus, diz a matéria.
"Por melhor que seja o escritor", pondera o comediante David Baddiel, "nenhum outro grupo minoritário seria comparado a ratos ou vislumbrado como qualquer outro estereótipo racista negativo semelhante na rádio".
A famosa obra de Christie, lançada em 1939, já não é mais chamada assim em novas edições. No Brasil, foi de "O Caso dos Dez Negrinhos" para "E Não Sobrou Nenhum". O bisneto da autora justificou a mudança dizendo que não cabe mais "usar palavras que podem machucar".
Não consta a Baddiel que a onda revisionista de obras culturais cheias de preconceitos normalizados no passado contemple manifestações antissemitas. Sua tese de que nem o campo progressista, historicamente aliado a grupos oprimidos, dá muita bola para "uma das minorias mais perseguidas da história" é resumida no livro "Judeus Não Contam" (Avis Rara).
A edição brasileira é de 2023, mas a versão original do livro precede em mais de dois anos os ataques do Hamas em 7 de outubro e a subsequente resposta de Israel em Gaza.
Sim, o britânico se sente conectado "de um jeito depressivo" com os horrores vividos por israelenses naquele dia. "A maior parte da família da minha mãe foi morta nos campos de concentração, sei como um extermínio se parece." Ter esse sentimento, contudo, não o faz cúmplice da ofensiva tramada pelo governo de Binyamin Netanyahu. "Achar que todos os judeus são responsáveis pelo que o Estado de Israel faz é algo incrivelmente racista."
Essa narrativa chega a relativizar suásticas pichadas em sinagogas europeias, mas alguém vai apontar antissemitismo no ar?
Baddiel, que esteve no Brasil para abrir o Festival Literário do Museu Judaico de São Paulo, usa sua terra natal como referência. "No Reino Unido, o antissemitismo é muito forte. Mas, se você tenta levantar esse ponto, alguém grita sobre Gaza. 'Como ousa? Tem gente morrendo em Gaza'."
A percepção de culpa coletiva não atinge outros grupos com tanta virulência, diz. "Muçulmanos, se quiserem falar sobre islamofobia, não têm que primeiro responder o que pensam sobre o Irã, a Arábia Saudita. Já judeus são constantemente questionados sobre o que está acontecendo em Israel antes de uma conversa sobre o preconceito que sofrem."