11.04.24 | Brasil
“Eu quis fazer uma exposição que as pessoas não iam esquecer”, afirma diretor do MIS sobre mostra inédita
André Sturm, diretor do Museu da Imagem e do Som, falou à CONIB sobre a paixão por contar histórias, que o levou a promover a exposição A tragédia do Holocausto: a vida de Julio Gartner. “Aconteceu o 7 de outubro, aquela atrocidade, e aí as coisas que as pessoas começaram a falar me fizeram ver que era mais que necessário fazer a exposição”.
Origem
Sturm relata com orgulho a história de sua família. “A minha bisavó era parte das famílias que vieram pra Philippson, no Rio Grande do Sul. Foi um projeto sensacional do Barão Hirsch, que ofereceu para um grupo de famílias que vinham da Bessarábia, na época dos pogroms, a possibilidade de serem camponeses no sul do Brasil. [...] O meu bisavô veio sozinho pro norte da Argentina, onde também havia outras iniciativas [de imigração judaica]”. O cineasta nasceu no Rio Grande do Sul e depois mudou-se com a família para São Paulo, onde cresceu.
Carreira
“Fui fazer Administração de empresas na Faculdade Getúlio Vargas achando que era um curso que me abriria muitas possibilidades pra trabalhar depois e tempo de pensar melhor o que eu queria fazer. Aí, pra minha sorte, no meu segundo ano [eu vi] uma plaquinha dizendo ‘Venha participar do cineclube da GV’. Eu fui à reunião e minha vida mudou, tomou outra direção. [...] Conheci esse mundo que pouca gente conhece, o da programação de cinema, distribuidoras, como funciona. Eu já adorava cinema, mas nunca pensei que o cinema podia ser minha profissão.”
Compartilhando memórias de infância no cinema, Sturm apresenta sua trajetória no mercado cinematográfico desde a fundação da Pandora Filmes (distribuidora de cinema) em 1989, até a aquisição do Cine Belas Artes, em 2004, e a criação do streaming Belas Artes À LA CARTE, em 2020. Ele também menciona brevemente a sua primeira passagem pelo MIS como diretor (2011 a 2016) e como Secretário de Estado na Secretaria de Cultura de São Paulo (2016 a 2019). Ele voltou ao MIS em 2023, a convite da atual secretária estadual de cultura, Marília Marton.
Identidade judaica e trabalho
“É aí que a gente vê a força da genética. Eu vim morar em São Paulo sem nenhum parente, eu tive uma educação totalmente secular, mas quando eu me dei conta, os cineastas, escritores e assuntos de que eu gostava tinham todos uma conexão com a minha história. Nunca foi de caso pensado. [...]”, comenta sobre a ligação entre temas judaicos e sua trajetória profissional. Sobre seu primeiro filme como cineasta, “Sonhos Tropicais”, que conta a história de mulheres judias que foram trazidas do leste europeu para o Brasil para serem exploradas sexualmente (as “polacas”), ele conta que, inicialmente, esse não era o tema principal do filme. “Eu não pensei em fazer um filme sobre a comunidade judaica. Eu queria fazer um filme de história, passado no Brasil, em um momento que não fosse muito famoso. [...] Quando fui ler o livro [do Moacyr Scliar, de título homônimo], eu descobri a história que eu queria contar. Ela tinha um lado da história oficial, os eventos que levaram à Revolta da Vacina – e o Oswaldo Cruz é um personagem fascinante --, mas tinha também a história da Esther, que eu não conhecia, quase ninguém conhecia. [...] A Esther virou o personagem principal.”
Outra história que emociona o cineasta é o episódio em que Nicholas Winton, britânico que salvou mais 600 crianças judias durante do Holocausto, conhece os descendentes das pessoas que salvou em um programa de TV. Desejando contar histórias sobre aqueles que salvaram vidas durante do Holocausto, Sturm decidiu montar uma exposição sobre um sobrevivente, a partir de uma sugestão de Marcio Pitliuk – assim nascia a exposição A tragédia do Holocausto: a vida de Julio Gartner, que está em cartaz até o dia 21 de abril.
Convite à comunidade
A crescente onda de antissemitismo e de relativização do Holocausto após os ataques terroristas de 7 de outubro motivaram o diretor do MIS a prosseguir com a montagem da exposição. “Eu não devia cancelar a exposição por causa disso. Não dá pra comparar o Holocausto. Aí eu decidi fazer uma exposição que as pessoas não iam esquecer. Eu queria que as pessoas que acham que dá pra comparar iam entender que não dá. Foi um trabalho de muito cuidado porque é um museu, não uma fun house. Precisava ser uma exposição museológica que ao mesmo tempo permitissem que as pessoas experimentassem [simbolicamente] aquilo. Foi uma construção lenta e muito cuidadosa.”
A mostra está aberta ao público de terça a sexta das 10h às 19h; sábados das 10h às 20h; e domingos e feriados das 10h às 18h. Saiba mais no site do MIS.