23.05.24 | Brasil
“As lições que vêm do Sul”
Artigo do presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, publicado nesta quinta-feira (16) no site UOL destaca a mobilização da comunidade judaica na ajuda às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul. Segue a íntegra do texto:
O judaísmo nos oferece um conceito extremamente útil no momento em que enchentes avassaladoras submergem o Rio Grande do Sul. Tzedaká, a ajuda aos necessitados, é uma obrigação ética e religiosa. A palavra expressa o conceito de caridade, mas, de fato, sua tradução é, literalmente, justiça.
Logo, quando doamos roupas, mantimentos, remédios, dinheiro ou trabalho para socorrer quem precisa, estamos fazendo o que deve ser feito. Para os religiosos, a missão da Tzedaká é restituir a um ser humano a dignidade que Deus lhe deu. Não é favor. É um compromisso inadiável e uma oportunidade de construir uma ponte entre a injustiça e a justiça.
Desde que as enchentes desabrigaram centenas de centenas de milhares de gaúchos e tiraram as vidas de mais de 140 pessoas, a comunidade judaica vem atuando permanentemente. Há quem defenda que esse tipo de ação não deva ser divulgado, porque "dizer que fez" pode ser confundido com tentativa de autopromoção. De fato, o foco não somos nós, mas os outros.
Por outro lado, no próprio judaísmo, há estudiosos que sustentam outra tese: contar o que está sendo feito é uma prestação de contas, além de inspirar mais gente a fazer o mesmo. Em suma: o importante é fazer. A dor e as necessidades dos gaúchos são gigantescas e incomparáveis. Omitir-se é inaceitável.
As comunidades judaicas gaúcha e brasileira estão atuando em conjunto com incontáveis segmentos culturais, étnicos, religiosos, profissionais, econômicos e acadêmicos nesse imenso esforço de socorro e de reconstrução. Não há protagonismo, mas sim soma.
Por iniciativa da Federação Israelita do Rio Grande do Sul e com apoio do Confederação Israelita do Brasil (CONIB), foi arrecadado mais de R$ 1 milhão, que será investido, prioritariamente, em ações emergenciais e na reestruturação das escolas atingidas pelas enchentes.
Além disso, 18 mil kits com refeições, organizados pelos residentes do asilo de idosos da comunidade judaica gaúcha, alguns deles quase centenários, foram entregues à Defesa Civil. Purificadores de água, tão necessários nesse momento, estão sendo trazidos de Israel.
Há centenas de voluntários judeus trabalhando anonimamente, ao lado de outros irmãos gaúchos, em abrigos, operações de resgate, hospitais e campanhas de arrecadação. Há doações de indivíduos e de empresas ligadas à comunidade judaica de todo o país chegando diariamente ao Rio Grande do Sul. Muitos pedem que seus nomes não sejam mencionados, nem internamente.
Infelizmente, a dor nos oferece algumas lições. No caso das enchentes gaúchas, a união em torno da vida, da dignidade, da liberdade e do futuro supera o radicalismo, o oportunismo, o egoísmo e o preconceito. Lado a lado, gaúchos e brasileiros mostram ao mundo que trabalhar em conjunto é a única solução. Fica aqui a nossa solidariedade.