Sobrevivente conta como conseguiu, ainda criança, escapar da morte por cinco vezes durante o Holocausto  - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
Foto: Divulgação CONIB

06.09.22 | Brasil

Sobrevivente conta como conseguiu, ainda criança, escapar da morte por cinco vezes durante o Holocausto

Louis Frankenberg, um dos poucos sobreviventes do Holocausto vivos no Brasil e autor do recém lançado livro “Cinco Vezes Vivo”, fala à CONIB sobre a sua história, como conseguiu sobreviver aos campos de concentração de Westerbork, na Holanda, e Theresienstadt, na atual República Tcheca, de onde saiu graças a uma oportunidade única, em um trem que levou 1.200 pessoas para a liberdade na Suíça. Louis Frankenberg tinha apenas 5 anos quando foi separado de seus pais, em 1942, dois anos depois de a Holanda ter sido invadida pelos nazistas. Denunciado e capturado em 1944, Louis esteve perto da morte em cinco ocasiões. Terminada a guerra, ele enfrentou uma saga por adoção, passou por orfanatos e outras instituições, até ser finalmente entregue aos cuidados de parentes que tinham conseguido fugir para o Brasil antes do Holocausto. Em 1947, com apenas 10 anos, desembarcou em Porto Alegre com sua irmã – que conseguira se manter escondida durante a guerra – para iniciar uma nova vida. No livro “Cinco vezes vivo – um sobrevivente do Holocausto à procura de seu passado” – escrito com a colaboração de seu genro, o jornalista Ricardo Garcia –, Frankenberg conta como escapou da morte cinco vezes e fala do longo percurso que trilhou para redescobrir sua história.


Como tudo começou

Para evitar sermos todos aprisionados juntos, meus pais decidiram que era melhor nos separarmos. Eles mandaram eu e minha irmã para uma cidade na Holanda, onde ficamos num internato. Lá ficamos por uns sete meses até o momento em que os nazistas alemães tocaram a campainha do internato. Eu, que na ocasião tinha apenas cinco anos, cursava o jardim de infância no internato e minha irmã, já frequentando o curso primário, estava fora no momento da chegada dos policiais alemães. Enquanto eles se preparavam para me levar, vi pela janela minha irmã chegando de bicicleta. Nesse momento, eu e duas meninas que também estavam sendo procuradas, fizemos gestos para que ela fosse embora. Minha irmã entendeu o recado, pegou a bicicleta e se embrenhou num enorme parque que havia em frente ao internato. Assim, ela conseguiu se manter livre até o fim da guerra. Já eu, inicialmente, fui levado para um campo (uma prisão) em Amsterdã.

A primeira e a última das prisões

É muito difícil explicar numa entrevista todos os detalhes das prisões e campos de concentração para onde fui levado. Tudo isso está no livro que escrevi (“Cinco vezes vivo”). Na primeira vez, a polícia foi ao internato em que eu estava e me levou para essa primeira prisão em Amsterdã e, de lá, uma semana depois, fui levado para um campo dentro da própria Holanda chamado Westerbork e lá fiquei sozinho por sete meses. As duas meninas já não estavam mais comigo.
Depois fui levado num trem com 2 mil pessoas a outro campo de concentração na Checoslováquia (hoje República Checa), onde fiquei no campo de Theresienstadt. Lá fui cuidado por um casal, que havia perdido dois filhos, e que praticamente me adotou como um filho.

Nesse campo de Theresienstadt, fiquei até fevereiro de 1945, quase no final de Segunda Guerra. Muitos dos que estavam nesse campo foram levados para campos de extermínio, na Polônia. E eu só não fui levado para esses campos porque eu tinha um documento, emitido antes da guerra, que me identificava como protestante.

A vinda ao Brasil

Em 1947, após o término da guerra, eu estava internado numa instituição psicológica na cidade de Haia, na Holanda, e meus familiares que moravam no Brasil - uma tia, irmã da minha mãe, e seu marido - fizeram todo o possível junto às autoridades holandesas para que minha irmã e eu pudéssemos vir para o País, especificamente para Porto Alegre. E para lá seguimos em junho de 1947. Tive que aprender a falar português, fui para escola etc, etc. No Brasil, já tinha uma avó materna que havia imigrado em 1939 e essa tia, irmã da minha mãe, que eram os familiares mais próximos que eu tinha.

O lançamento do livro

Embora tenha sido lançado recentemente, meu livro está sendo bem recebido. No dia do lançamento, pessoas entendidas no assunto disseram que é comum vender uns 50 livros nessa ocasião. E o meu vendeu quase 200 exemplares apenas no dia do lançamento, ou seja, quatro vezes mais do que é vendido numa ocasião dessas. Suponho então que o meu livro tenha atraído bastante interesse. O lançamento foi em São Paulo e soube que muitas pessoas compraram mais de um exemplar para presentear a familiares e amigos. Teve gente que chegou a comprar até 5 exemplares.

Sobre a atual onda de antissemitismo

 É muito triste ver isso acontecendo. Penso que que a origem do antissemitismo deve estar relacionada a alguma inveja pelo trabalho dos judeus. Imagino que, ao se destacarem no que fazem, os judeus despertam esse tipo de sentimento em algumas pessoas. Essa é a opinião que tenho em relação ao antissemitismo, depois de ter lido muito sobre o assunto.

Mensagem

Penso que o meu livro traz muitas informações e mensagens sobre o que aconteceu durante a Segunda Guerra, porque eu passei mais de 30 anos buscando detalhes para entender o meu passado, já que eu tinha apenas cinco anos quando passei por tudo isso. Alguns fatos não estavam muito claros para mim, por isso tive que ir atrás de documentação para entender melhor tudo isso. No meu livro eu falo sobre as cinco vezes que eu estive perto da morte sem entender o porquê.

Fui um profissional de planejamento financeiro, fui pioneiro nessa área e já publiquei quatro outros livros sobre esse assunto. Penso que fiquei conhecido por esse meu trabalho. Antes, eu nunca havia falado sobre a minha vida pessoal e pelo que passei durante o Holocausto. Pela primeira vez falo sobre isso no meu livro “Cinco vezes vivo”. Esse livro, de quase 400 páginas, é para entender um pouco mais sobre o que foi o Holocausto através da minha experiência e o que aconteceu com os mais de seis milhões de judeus mortos pelo regime nazista.


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