20.10.22 | Brasil
Sergio Besserman fala sobre o amor pela literatura e a emoção de ser judeu
Carioca de Copacabana, o economista Sérgio Besserman Vianna, filho do médico Luiz Guilherme Vianna e da psicanalista Helena Besserman Vianna, irmão do também médico Marcos e do humorista Claudio, mais conhecido como Bussunda, conta à CONIB as influências profundas deixadas pelo judaísmo em sua vida. Ele, professor do Departamento de Economia da PUC-RJ – desde 1982 – e Coordenador Estratégico do Climate Reality Project seção Brasil, fala do pensamento judaico, do amor pela literatura e do prazer de entrar uma boa discussão apenas pelo exercício da argumentação. “O judaísmo se evidencia de tantas formas que é quase impossível mencionar uma forma sintética”, diz ele, ao destacar a “emoção de pertencimento” que sente quando está num debate entre amigos, especialmente judeus.
Ele, filho de pais judeus (o pai converteu-se ao judaísmo) conta que a influência foi menor do ponto de vista religioso. “Minha mãe era uma roiter (vermelho, em iídiche, adjetivo usado para designar comunistas e pessoas de esquerda). Ela se dizia materialista dialética mas era cem por cento judia. Havia por parte principalmente da minha mãe uma tal ligação com a tradição judaica cultural e a forma de pensar tanto dela como a do meu tio. Mais tarde isso se converteu em leituras”. Sérgio não frequentou escola judaica. “Estudei no Colégio de Aplicação da UFRJ, uma das melhores escolas do Rio. E não era fácil aguentar a pressão de uma iídiche mama”. Frequentou a Kinderla nd, que ele destaca como importante nesta formação, assim como o movimento juvenil Hashomer Hatzair e também a Associação Scholem Aleichem-ASA. “Eu ia principalmente às quartas-feiras, dia do nosso futebol. Em plena ditadura militar, o melhor lugar para ler certo tipo de literatura era a biblioteca da ASA. Tinha tudo lá. Isso despertou em mim, como em todo ser humano, uma curiosidade intelectual motivada pelo emocional. Pela minha mãe. “A minha era uma psicanalista das boas, era uma iídiche mama que sabia o que estava fazendo”.
Literatura
Ele conta que ele e os irmãos foram criados dentro de um espírito libertário, mas havia um mandamento claro: tinha que LER. “Se a gente ouvisse da minha mãe ou do meu pai Luiz Guilherme Vianna, a pergunta o que você está lendo e não houvesse resposta, aí o bicho pegava”. Ele cita o escritor Isaac Bashevis Singer como parte de sua vida, assim como outros.
Judaísmo, meio-ambiente e comunidade eco-judaica
Desde a Rio 92 ele entrou de forma mais participativa nas questões climáticas. ”Naquela época, há 30 anos, já era uma comunidade Eco-Judaica muito expressiva: Alfredo Sirkis, no lugar que ocupo e que ele exercia antes com o filho dele; Carlos Minc, José Goldenberg e Fabio Feldman entre outros”. “O judaísmo tem uma relação com a natureza voltada para não destruí-la”, destaca Sergio, para falar da relação próxima com o meio-ambiente. E ele cita a influência da mãe que o apresentou a um psicanalista, o francês André Green, que dizia: “A resposta é a infelicidade da pergunta”. Diz Sergio: “Isso é o Talmud. Isso somos nós”.
Família
A avó Frida veio para o Brasil nas primeiras décadas do século XX, de uma região que era Alemanha e hoje é Polônia e o avô saiu de uma região que era Polônia e hoje é Rússia. “Ele teve a intuição do que vinha pela frente. O casamento dos dois foi combinado desde que eram crianças. O presente de noivado do meu avô para a minha avó foi uma tangerina”. “Ele era caçula de nove. Morreram na Shoá. A maioria em Treblinka mas uma das irmãs foi heroína do gueto de Varsóvia. Ela não foi registrada como heroína, mas esteve lá no gueto. Ela era parecida com a minha mãe que ficou marcada. Minha mãe se dedicou o resto da vida à ética, à denúncia. Ela denunciou um nazista que vivia no Brasil e também um psicanalista que prestava serviço à ditadura na tortura”.
Sérgio fala ainda sobre o pensamento judaico para se referir à herança que deixou para os filhos. “A questão que surge da ideia e quando, em seguida, vem o debate sobre aquela ideia, é um hábito muito saudável”, diz, explicando que o filho herdou esta dinâmica, este questionamento, apesar de não ter laços próximos com a comunidade judaica. Já a filha, que mora fora do Brasil, fez Taglit, frequentou o Hilel e a Kinderland. “Ces’t la vie”.
Antissemitismo
Era um garoto e morava em Copacabana, quando passou pela primeira vez,por uma situação antissemita. “No prédio em que morávamos tinha uma senhora gentil. A gente tinha que arrecadar dinheiro, éramos lobinhos da ARI e fui pedir dinheiro a ela. Ela me deu o dinheiro. Quando virei de costas, na ponta do meu lenço, tinha uma menorah. Ela falou: O que é isso? E arrancou o dinheiro da minha mão”.
A emoção de ser judeu
“A mim me pega muito na literatura ou quando estou com um grupo de amigos, discutindo, quando a gente está em uma conversa, e aparecem certas coisas, me dá uma emoção de pertencimento a um jeito de ser. Quando aparece o amor pela discussão sem qualquer preocupação de ganhar ou não, quando eu vejo essa coisa, um pouco rara hoje, principalmente entre amigos judeus, eu sinto uma emoção diferente”.
Sérgio Besserman Vianna, Professor do Departamento de Economia da PUC-RJ – desde 1982 ¬ é Coordenador Estratégico do Climate Reality Project seção Brasil. O economista e ecologista carioca estuda as consequências econômicas e sociais da mudança climática global desde 1992, tendo participado do Executive Program On Climate Change & Development, no Harvard Institute for International Development, da Harvard University. É membro do Conselho Diretor ou Consultivo de diversas organizações não governamentais como o WWF,a CI, a Fundação Roberto Marinho, o FUNBIO, Conselho Consultivo do Censo Demográfico do IBGE, presidência do Conselho da SDSN Brasil, Conselho Científico do Um só Planeta, comitê cientifico do Museu do Amanhã e diversas outras. Ingressou nos quadros do BNDES ao obter o Premio BNDES para dissertações de mestrado em 1987 e lá fez carreira de executivo, tendo exercido a Diretoria de Planejamento entre 1996 e 1999. Foi presidente do IBGE 1999/2003 e do Instituto Pereira Passos 2005/2008.Foi Presidente da Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável e do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro de 2008 à 2016. Em 2010, foi designado pelo Prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, para presidir o Grupo de Trabalho da cidade para a Rio + 20 e em 2014, para o assessoramento do Prefeito no exercício da Presidência do C40.Foi presidente do Instituto de pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro de 2016 à 2020. Ganhou Prêmio Jornalista & Cia/ HSBC na categoria Especial de Personalidade do Ano em Sustentabilidade. Ganhou, em 2013, também na categoria revista Amanhã o Prêmio "Faz a Diferença" das Organizações Globo.