Diretora do Hineni fala sobre a importância da inclusão LGBTQIA+ na comunidade judaica - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.

25.06.25 | Brasil

Diretora do Hineni fala sobre a importância da inclusão LGBTQIA+ na comunidade judaica

Natasha Alexander, diretora voluntária do Hineni (Fisesp), fala em entrevista ao Histórias Reais da CONIB, sobre a importância de celebrar a inclusão e a necessidade de ampliar os debates sobre o tema LGBTQIA+  dentro da comunidade judaica. “A inclusão não é algo para ser celebrado apenas uma vez por ano. A inclusão é uma prática que a gente inclui o ano inteiro. É algo que devemos praticar todos os dias do ano. Da mesma maneira que buscamos a equidade de gênero e o fim da desigualdade racial ao longo de todo ano também devemos trazer essa pauta da inclusão LGBT também para dentro da comunidade judaica”, diz ela. Leia a seguir a íntegra da entrevista:

Pertencimento e inclusão

Demorou muito para eu conseguir contar a minha história, mas, hoje, mesmo que eu me emocione um pouco, eu consigo compartilhá-la com vocês e, inclusive, estou com meus pais aqui comigo e que fazem parte dessa minha jornada.

Eu sempre fui da comunidade judaica, nasci na comunidade judaica e fui muito bem acolhida na comunidade. Estudei hebraico, fiz bat (bat-mitzva), participei de grupos judaicos desde muito nova, realizei sonhos, participei de colônias de férias judaicas e a vida comunitária sempre me trouxe muita alegria, muito pertencimento.

Quando eu me entendi como pessoa LGBT aos poucos eu fui me distanciando da comunidade judaica. Acho interessante falar desse distanciamento porque sabemos que o Brasil é um dos países que mais mata pessoas LGBT no mundo, mas sabemos também que essa violência não acontece só na forma de assassinato. Ela vem de forma muito sutil. Às vezes é um olhar, uma coisa não dita, um pequeno gesto. E essas ‘micro violências’ que vivenciamos no dia a dia têm a possibilidade de nos afastar, como me afastou, da comunidade judaica. Essa é a minha história e acredito que seja a história de tantas pessoas que hoje voltam e fazem parte do Hineni.

E é com muita alegria que hoje posso dizer que, depois de mais de dez anos afastada da comunidade judaica, com a criação do Hineni, eu e tantos outros temos a oportunidade de voltar. Hoje estou aqui podendo vivenciar a minha identidade LGBT e minha identidade judaica, sabendo que serei acolhida em instituições como a CONIB e em tantas outras. Estamos criando esse espaço seguro para que as pessoas possam vivenciar suas identidades judaicas e LGBT de maneira serena, acolhidas pelas suas famílias e pela comunidade como um todo e possam viver normalmente nesse espaço que a gente chama de coexistência inclusiva.

Trajetória no Hineni

Em 2023, assumi a gestão no Hineni como diretora voluntária, dirijo um comitê executivo que trabalha no planejamento estratégico e implementa as atividades. É um comitê excepcionalmente competente, composto de seis pessoas, que fazem um trabalho incrível. E eu cheguei nesse trabalho através de convite na época da Fisesp. Antes, eu fazia um trabalho completamente diferente, fora da comunidade judaica. E eu venho de uma família meio sefaradi meio ashkenazi e sempre tive uma vida ativa na comunidade. Me distanciei na época em que me assumi LGBT, mas eles foram lá e me encontraram. Na época eu estava trabalhando há quase dez anos na ONU, numa divisão chamada Agência para Refugiados, onde eu ainda trabalho. Mas a Fisesp muito gentilmente me convidou para fazer parte do Hineni, assim como outras pessoas LGBT judias da comunidade.

O Hineni

O Hineni, que em hebraico significa “eu estou aqui”, é uma organização criada pela Fisesp em 2020, fruto de conversas muito ricas durante a gestão de Luiz Kignel, com Ruth Goldberg na diretoria, e Ricardo Levisky, fundando e dirigindo o Hineni até 2023.

A discussão da importância de a Fisesp ter uma frente que trabalhasse a inclusão acabou levando à criação do Hineni. Nesse momento, também foram criadas uma série de outras comissões de inclusão, não só de pessoas LGBT, mas também de pessoas com deficiência e para a terceira idade. Isso posicionou a Fisesp como uma instituição que está liderando essa frente da inclusão.

Inclusão na comunidade

A gente sabe que em qualquer comunidade religiosa essa é uma temática que demanda um diálogo. Sem isso não existiriam comissões de inclusão como essa. Então na comunidade judaica, como em qualquer outra comunidade religiosa, esse debate, esse diálogo e esse movimento pela inclusão é necessário. Mas o que eu considero emocionante é a evolução muito rápida e muito crescente que a gente viu ao longo desses cinco anos de trabalho.

Quando a gente começou, em 2020, a gente abordava as instituições e elas ainda estavam um tanto reticentes. E à medida em que formos progredindo essas instituições foram se abrindo um pouco mais. No começo, algumas organizações manifestaram que gostariam de fazer inclusão, mas não queriam ser tão citadas. Ai passamos por um outro momento muito significativo em que as organizações passaram a querer fazer a inclusão e quererem ser citadas, com orgulho de estarem promovendo a inclusão.

E hoje estamos num nível completamente diferente, em que raramente precisamos ir buscar uma organização. Agora são as organizações que buscam o Hineni e a Fisesp em busca de apoio para o desenvolvimento de um programa de inclusão.

Então vejo isso como uma mudança que mostra um claro amadurecimento da comunidade no sentido da promoção da inclusão.

A importância de marcar a data do Dia do Orgulho LGBTQIA+

Um mote do Hineni é que inclusão não se celebra somente um dia por ano, e, sim, se pratica o ano inteiro. Isto dito, a data do dia do orgulho continua tendo um papel importante como Dia da Mulher, do Dia da Consciência Negra, como forma de marcar a necessidade da inclusão de públicos que são marginalizados. Hoje ainda é necessário e importante que a gente marque essa data para celebrar a inclusão como uma agenda que ainda precisa crescer.

A mídia externa já traz muita visibilidade para essa temática neste mês de junho e isso ajuda a trazer luz para uma questão que pode não ser tão discutida no decorrer do ano. Então, essa é a importância do mês e do dia - dar visibilidade e chamarmos a comunidade judaica toda para sermos todos aliados da inclusão.

Esse é um lado, e o outro lado da questão é o conteúdo que trabalhamos muito com as instituições que são nossas parceiras, como as sinagogas, as escolas, os clubes, as instituições beneficentes judaicas, porque a inclusão não deve ser algo que celebramos apenas uma vez por ano. A inclusão é uma prática que a gente inclui o ano inteiro. É algo que devemos praticar todos os dias do ano.


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