28.07.25 | Brasil

“Brasil endossa falsa tese de genocídio”

Em editorial publicado no sábado (26), o jornal O Estado de S.Paulo afirma que “ao aderir à ação contra Israel na Corte Internacional – decisão que não alivia o sofrimento palestino nem serve aos interesses do Brasil –, Lula mostra que sua diplomacia é só ideológica”. Lei a seguir a íntegra do texto:

O governo brasileiro vai aderir, na Corte Internacional de Justiça, à ação da África do Sul que acusa Israel de genocídio em Gaza. Com isso, deixou de ser apenas um observador vociferante da guerra para se tornar parte ativa de um processo político e jurídico de implicações graves. A decisão, além de injusta e desproporcional, revela uma diplomacia cada vez mais pautada por impulsos ideológicos, cálculos personalistas e desprezo pela complexidade de uma tragédia que não admite simplificações maniqueístas.

A catástrofe humanitária em Gaza é inegável. O bloqueio, os bombardeios, o colapso dos serviços básicos e a fome em massa configuram uma crise pela qual Israel tem responsabilidade direta. As falhas de condução militar, a retórica desumanizadora de setores da extrema direita no governo israelense e a lentidão na coordenação de corredores humanitários são condenáveis.

Mas reduzir a tragédia à ação israelense é falsificar a realidade. O Hamas, grupo terrorista que governa Gaza com mão de ferro, é o maior responsável por esse desastre. Foi ele quem iniciou a guerra com um massacre brutal. Foi ele quem desmantelou as possibilidades de coexistência pacífica, sabotou negociações anteriores, usa palestinos como escudos humanos e, agora, explora o seu calvário como arma de propaganda.

A lista de crimes do Hamas é longa: ataques deliberados contra civis israelenses, execução de dissidentes, uso de hospitais como bunkers e roubo sistemático de ajuda humanitária. A mais recente implosão das negociações para um cessar-fogo em Doha, que levou os EUA a abandoná-las, escancara essa atitude: segundo o enviado especial Steve Witkoff, o grupo “não está agindo de boa-fé”. O Hamas está fazendo os palestinos famintos de reféns.

Outros atores também têm culpa. O Irã, principal patrocinador do Hamas e outras milícias jihadistas, fomenta o conflito por meio de uma guerra por procuração. A própria ONU falhou em estruturar uma logística humanitária eficiente e em manter a neutralidade de algumas de suas agências em Gaza. A cadeia de culpados, portanto, é extensa – mas o presidente Lula prefere enxergar só um: Israel.

A adesão à tese do genocídio não só ignora essa complexidade, como banaliza a própria definição de genocídio. A acusação exige a demonstração de intenção deliberada de exterminar um povo – e não há evidências disso em Gaza. Crimes de guerra podem e devem ser investigados. Mas chamá-los de genocídio, sem base jurídica robusta, é um abuso retórico que desonra a memória das vítimas de genocídios reais, como os judeus no Holocausto, os armênios no Império Otomano e os tutsis em Ruanda.

Há um paradoxo sombrio em acusar de genocídio justamente um Estado criado após a tentativa sistemática de aniquilação do povo judeu, enquanto se ignora que o Hamas, por estatuto e prática, defende exatamente isso. Lula parece indiferente a essa ironia. Para ele, o vocabulário da guerra importa menos que o espetáculo da retórica. Ao repetir chavões sobre opressores e oprimidos, ricos e pobres, Norte e Sul, busca se afirmar como líder do chamado “Sul Global” – uma ambição que combina voluntarismo diplomático, nostalgia terceiro-mundista e oportunismo geopolítico.

Essa conduta tem custos. Ao tomar parte de forma escancarada, o Brasil se afasta do papel tradicional de mediador confiável. Dificulta o diálogo com Israel, tensiona a relação com os EUA e compromete sua credibilidade em fóruns multilaterais. Em vez de buscar construir pontes, Lula opta por engrossar o coro de regimes autoritários antiocidentais, como Irã, Rússia e Venezuela, cuja adesão ao “humanismo” é seletiva e cínica.

A diplomacia brasileira já viveu dias de equilíbrio, respeito aos direitos humanos e pragmatismo inteligente. Hoje, é arrastada por um projeto pessoal que confunde convicção com dogma, justiça com propaganda e liderança com aplauso fácil. A acusação contra Israel não fará avançar a paz nem aliviará o sofrimento dos palestinos. Mas servirá para alimentar uma narrativa ideológica que sacrifica a razão, distorce os fatos e desmoraliza o Brasil.


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