“Governo na contramão da memória e da justiça” - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
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05.08.25 | Brasil

“Governo na contramão da memória e da justiça”

Em artigo na Folha de S.Paulo desta terça (5), o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, afirma que, “ao se afastar da IHRA, Lula se isola das práticas globais de respeito às minorias”. “Trata-se de um gesto grave, especialmente quando o mundo presencia um avanço inquietante de múltiplas crises humanitárias: o extermínio silencioso de minorias como os drusos no Oriente Médio, o sofrimento dos ucranianos sob ocupação russa, a explosão do antissemitismo e a instrumentalização da imensa e inegável dor dos palestinos por grupos terroristas como o Hamas, que sequestram ajuda humanitária, eliminam dissidentes e impedem qualquer solução sustentável de paz para os trágicos acontecimentos em Gaza. Simplesmente porque a maior arma de guerra do Hamas e aliados é a promoção do sofrimento dos palestinos que dizem defender”. Leia a seguir a íntegra do texto:

No mês em que o calendário judaico marca o Tishá BeAv —data de luto e reflexão pelas maiores tragédias enfrentadas pelo povo judeu, como a destruição dos Templos de Jerusalém, os exílios forçados e os inúmeros episódios de perseguição—, o governo do presidente Lula diz que vai abandonar a International Holocaust Remembrance Alliance (IHRA), instituição internacional dedicada à preservação da memória do Holocausto e ao combate ao antissemitismo.

Criada por mais de 30 países democráticos, a IHRA não representa interesses políticos ou ideológicos, mas um pacto civilizatório: lembrar para não repetir.

Sua definição de antissemitismo, adotada por governos, parlamentos, universidades e organismos multilaterais, não silencia críticas legítimas ao Estado de Israel —como afirmam algumas leituras deliberadamente distorcidas—, mas traça limites éticos para impedir que o discurso político de críticas a Israel e seus governantes se transforme em ódio dirigido a judeus e ao Estado dos judeus, como tem ocorrido em diversas partes do mundo e no Brasil. Para os interessados no tema, sugiro que conheçam o IHRA e tirem suas próprias conclusões.

Negar ou relativizar essa definição significa abrir espaço para narrativas que alimentam preconceitos históricos, negação de genocídios e perseguições disfarçadas de opinião política.

Trata-se de um gesto grave, especialmente quando o mundo presencia um avanço inquietante de múltiplas crises humanitárias: o extermínio silencioso de minorias como os drusos no Oriente Médio, o sofrimento dos ucranianos sob ocupação russa, a explosão do antissemitismo e a instrumentalização da imensa e inegável dor dos palestinos por grupos terroristas como o Hamas, que sequestram ajuda humanitária, eliminam dissidentes e impedem qualquer solução sustentável de paz para os trágicos acontecimentos em Gaza. Simplesmente porque a maior arma de guerra do Hamas e aliados é a promoção do sofrimento dos palestinos que dizem defender.

A ONU, por sua vez, revela-se incapaz de envolver de forma efetiva todos os atores relevantes na resolução de conflitos complexos, em boa parte por estar refém de vetos políticos e ter sua estrutura dominada cada vez mais por países autoritários. O resultado é o mesmo de sempre: omissão, seletividade e impunidade.

É nesse cenário que o Brasil deveria reforçar seu compromisso com os valores universais, e não abandoná-los. A luta contra o antissemitismo é, na essência, a luta contra toda forma de exclusão e perseguição. É o mesmo combate contra o racismo, a homofobia, a islamofobia, a misoginia, o autoritarismo e o terrorismo. Estar alinhado com a IHRA e com iniciativas internacionais de proteção às minorias não é adesão a uma bandeira ideológica ou nacional, mas a um princípio de civilização.

No mundo contemporâneo, o respeito aos direitos humanos não é mais apenas um valor moral —é também um critério de legitimidade, reputação e governança. Afastar-se dessa agenda, em nome de disputas ideológicas ou alinhamentos geopolíticos, é colocar o Brasil na contramão da história.

Neste mês de memória e luto na tradição judaica, que remete não apenas à destruição física, mas ao silêncio das nações diante da dor alheia, é tempo de reafirmar um pacto com a memória, a verdade e a dignidade humana.

Defender a definição da IHRA não é proteger uma narrativa, mas proteger o futuro. Porque onde a memória é negada, o ódio sempre encontra abrigo.


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