11.08.25 | Brasil
Jornal destaca a importância histórica da sinagoga Kahal Zur Israel
Matéria de Larissa Aguiar publicada no Diário de Pernambuco nesta segunda (11) conta a história da sinagoga Kahal Zur Israel, hoje considerada uma referência histórica de Recife.
A Kahal Zur Israel, fundada em 1636, durante o domínio holandês em Pernambuco, atravessou séculos como símbolo de liberdade religiosa, diversidade cultural e resistência. Hoje, reconstituída como museu e centro cultural, ela segue revelando ao mundo a rica contribuição judaica na formação do Brasil. Mais do que um prédio histórico, a Kahal Zur Israel é um testemunho vivo de um tempo em que o Recife foi palco de um dos capítulos mais singulares da convivência inter-religiosa nas Américas.
A matéria lembra a reconstituição da sinagoga e cita declarações de Boris Berenstein, presidente da Federação Israelita de Pernambuco (FIPE). Para ele, foi no final da década de 1990 que se unificou a ideia de restaurar o prédio identificado como sede da antiga sinagoga do século 17. “Já havia registros históricos de que, durante o período holandês, existia uma sinagoga na Rua do Bom Jesus. A partir disso, com apoio da gestão do então prefeito Roberto Magalhães e do arquiteto José Luiz da Mota Menezes, o projeto começou a tomar forma”, diz Berenstein.
O imóvel foi desapropriado pela Prefeitura do Recife e cedido em comodato à FIPE, que assumiu o projeto com apoio da Fundação Safra, Banco Safra, Ministério da Cultura, CONIB e outras instituições. As escavações arqueológicas realizadas após a cessão do imóvel revelaram um poço e uma “mikve” – tipo de piscina usada em rituais judaicos. “Um inventário da época da retomada portuguesa já relatava que uma das casas da Rua do Bom Jesus funcionava como sinagoga. A descoberta da mikve reforçou o que os documentos indicavam”, diz o presidente da FIPE.
A reabertura ao público ocorreu em outubro de 2001. Desde então, a Kahal Zur Israel se transformou em referência para estudiosos, turistas, escolas e lideranças de diferentes religiões. “Recebemos historiadores, estudantes, diplomatas, autoridades. A Rainha da Holanda esteve aqui. Também promovemos palestras, lançamentos de livros e encontros inter-religiosos”, diz Boris Berenstein.
Jader Tachlitsky, professor e coordenador de comunicação da FIPE, destaca o papel pedagógico do espaço. “A sinagoga é símbolo de um período raro de liberdade religiosa no Brasil colonial. Durante o domínio holandês, judeus podiam praticar sua fé abertamente. Com a retomada portuguesa, muitos foram exilados e parte deles embarcou para Nova York, fundando a primeira comunidade judaica dos EUA”.
Outros judeus permaneceram no Brasil, ocultando sua fé. “Suas práticas foram passadas adiante em segredo, e muitas tradições se mantiveram no interior do Nordeste até os dias atuais”, completa Jader.
A reconstrução da Kahal Zur Israel permitiu não apenas a valorização do patrimônio, mas também um reencontro com identidades muitas vezes apagadas.
“A sinagoga ajuda a recontar a história do Brasil. Além de portugueses, indígenas e africanos, também havia judeus na formação do país. Muitos vieram como cristãos-novos e precisaram esconder sua fé. Hoje, vemos famílias redescobrindo suas raízes judaicas”, afirma Boris.