20.08.24 | Mundo
Mãe de refém diz ter esperança de que filha esteja viva
Em entrevista à Clara Balbi, da Folha de S.Paulo, Meirav Leshem Gonen, mãe de Romi Gonen, de 24 anos, sequestrada pelo grupo terrorista Hamas nos ataques de 7 de outubro, conta que conversava com a filha naquele dia pelo celular, quando os sequestradores a arrancaram pelos cabelos do carro em que estava e a levaram junto com mais de 250 pessoas.
A notícia mais recente que ela teve de Romi foi durante a trégua ocorrida em novembro passado. Ela conta que a filha deveria ter sido libertada naquela semana, mas o cessar-fogo acabou sendo interrompido antes que isso pudesse acontecer, em 1º de dezembro.
Romi Gonen, 23, chegou ao Supernova, um festival de música eletrônica no deserto no sul de Israel, por volta das 5h de 7 de outubro de 2023. Às 6h35, telefonou para a mãe, Meirav Leshem Gonen, e disse que o local estava sendo alvo de foguetes —ao final, 364 pessoas que estavam no evento foram mortas por integrantes do Hamas, no pior ataque já sofrido pelo Estado judeu dentro de seu território.
Romi passou as quatro horas e meia seguintes àquela ligação tentando escapar, sempre em contato com a família por telefone ou WhatsApp. Às 9h55, para alívio de sua mãe, ela embarcou no carro de um conhecido. Estava saindo da região da ofensiva quando, às 10h14, o veículo foi cercado por terroristas.
Naquele horário, Romi ligou novamente para Meirav. Disse que tinha sido baleada, que achava que ia morrer. Meirav tentava acalmar a filha quando os terroristas abriram a porta do carro em que ela estava, agarraram-na pelos cabelos e tiraram-na do veículo, arrastando-a pela rodovia. A ligação foi encerrada.
Autoridades israelenses afirmam que 105 ainda estão no território palestino, mas só 71 delas com vida, sendo Romi uma delas — a contagem foi atualizada nesta terça-feira (20), quando o Exército resgatou os corpos de seis reféns, incluindo o de um que eles acreditavam estar vivo.
O número total de mortos durante o ataque é estimado em 1.200.
A consultora de negócios de 54 anos é hoje uma das principais porta-vozes do Fórum das Famílias de Reféns, organização que representa os parentes dos indivíduos sequestrados.
Sobre as críticas à atuação de Israel em Gaza, Meirav afirma que quem protesta contra o conflito não entende "que esta não é uma guerra entre Israel e a Palestina". "É contra o Hamas. E o Hamas não liga se você é israelense ou brasileiro. Se você não é do Hamas, se você representa o mundo livre, eles vão te eliminar. Os palestinos têm o mesmo problema que Israel, e ele é o Hamas”, destacou.
Enquanto aguarda o desenrolar da situação, Meirav ainda cuida de seus outros quatro filhos —Yarden, 30, Shahaf, 27, Daria, 19, e Adam, 17. A mãe e os irmãos mais novos de Romi saíram de Kfar Vradim, cidade no norte do país próxima da fronteira com o Líbano e alvo de ataques do Hezbollah, aliado do Hamas. Hoje, vivem em Tel Aviv.
Meirav diz que todos na família se sentem culpados, cada um deles à sua maneira. Mas não perdem as esperanças. No domingo (18), quando a jovem completou 24 anos, eles comemoraram a data com festa, para que ela se alegrasse com as fotografias do evento quando voltasse para casa.
"É muito difícil. Mas somos uma família muito forte. E estou tentando garantir que meus filhos serão fortes o suficiente para lutar pela volta da irmã deles", afirma Meirav.