02.09.24 | Mundo
Extrema direita alemã vence eleição em estado e preocupa comunidade judaica
O partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) venceu neste domingo (1) as eleições na Turíngia, ficando com quase 33% dos votos e trazendo de volta o fantasma do nazismo para a comunidade judaica e a sociedade alemã.
"Estamos prontos para assumir as responsabilidades de governo", disse à TV pública o líder da AfD na Turíngia, Björn Höcke, um de seus nomes mais radicais.
O presidente do Conselho Central dos Judeus, Josef Schuster, advertiu que sociedade livre e tolerante está em risco. "Não é mais possível falar em voto de protesto", disse ele em artigo publicado nesta segunda-feira (2) no jornal alemão Bild. Schuster comparou os resultados da eleição a um soco no estômago. "A Alemanha está cambaleando. Será que podemos nos recuperar desse golpe?"
A presidente da Comunidade Judaica de Munique e da Alta Baviera, Charlotte Knobloch, também viu com preocupação o resultado do pleito. “Ninguém mais pode falar sobre voto de protesto ou procurar outras desculpas", disse ela. "Os eleitores tomaram sua decisão conscientemente", pontuou.
Knobloch tinha 6 anos quando viu as sinagogas de Munique em chamas e assistiu, impotente, a cena em que dois oficiais nazistas levavam um amigo de seu pai, em 9 de novembro de 1938, na Noite dos Cristais Quebrados, segundo noticiou a revista Deutsche Welle.
Essa é a primeira vez que a extrema direita alcança esse resultado desde a Segunda Guerra Mundial e representa um duro golpe para o governo do chanceler Olaf Scholz. As eleições ocorrem em clima de tensão, após o triplo assassinato à faca atribuído a um sírio em Solingen, no oeste do país. O ataque chocou o país e alimentou o debate sobre a imigração.
Os líderes da AfD tentaram se aproveitar da indignação causada pelo ataque de Solingen e acusaram sucessivos governos federais de terem semeado o "caos". O suposto agressor de Solingen, suspeito de ter ligações com a organização jihadista Estado Islâmico (EI), havia evitado uma ordem de deportação. Sob pressão, o governo de Olaf Scholz anunciou o endurecimento das regras sobre porte de armas e controle de imigração.
Na Saxônia, a conservadora CDU, da ex-chanceler Angela Merkel, teve uma pequena vantagem, com 31,7% dos votos, seguida de perto pela AfD, com 31,4%. "Os eleitores sabem que não vamos formar uma coalizão com a AfD", lembrou, neste domingo (31), o secretário-geral da CDU, Carsten Linnemann, defendendo que seu partido deve liderar as tratativas para formar o governo.