A União do Judaísmo Reformista na América Latina (UJR-AmLat) realizou a sua Conferência Regional em Buenos Aires, entre os dias 15 e 18 de agosto, para avaliar os impactos do 7 de outubro no movimento e seus desdobramentos, como o consequente aumento do antissemitismo em todo o mundo. Angela Goldstein, coordenadora da Plataforma da CONIB de Combate ao Antissemitismo, participou da conferência. Segue o seu depoimento sobre o encontro:

Desde o atentado terrorista do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 o judaísmo reformista precisou fazer o que sempre esteve no cerne do movimento: conciliar as tradições judaicas ao mundo moderno. Quando o susto inicial mal tinha passado e a poeira começava a baixar, judeus do mundo todo foram novamente surpreendidos; desta vez não apenas com ações, mas também com palavras que chegavam de todos os lados. O antissemitismo, esse vírus que está em constante mutação e se encontrava latente, em 2023 apresentou uma nova cepa e reapareceu com uma força inesperada.

Quase um ano depois do atentado, enquanto mais de 100 cidadãos israelenses ainda continuam mantidos reféns pelo Hamas em Gaza, a comunidade judaica como um todo precisa pensar o antissemitismo como um problema não apenas seu, mas global. Durante a Conferência Regional da União do Judaísmo Reformista na América Latina (UJR-AmLat) o tema que permeou todas as discussões foi: a centralidade de Israel para o judaísmo reformista e os impactos do ataque de 7 de outubro de 2023.

Durante o primeiro dia do encontro o vice-presidente da União Europeia do Judaismo Reformista - European Union for Progressive Judaism - e consultor jurídico sênior da OTAN Andres Mosquera trouxe à tona questões relacionadas ao ambiente de trabalho onde muitos funcionários judeus sentiram a necessidade de esconder sua identidade judaica para não sofrerem qualquer tipo de represália por parte de chefes ou colegas. Ele ressaltou que, ainda que muitas empresas tenham departamentos de ESG e que a diversidade religiosa esteja incluída na questão da diversidade, o antissemitismo não costuma entrar nestas discussões, além de que apenas 12% dos casos (de antissemitismo) no ambiente de trabalho são levados aos departamentos de Recursos Humanos, já que a maioria dos funcionários que sofre com este tipo de preconceito não se sente à vontade para fazer uma denúncia.

Diante destes dados é preciso pensar na maneira em que o judaísmo reformista pode atuar como fonte de acolhimento e ponto de encontro para que judeus possam se conectar de forma a reunir forças e se apoiarem na luta contra o antissemitismo. Além disso, o movimento reformista promove e conta com o diálogo interreligioso – o rabino Ruben Sternschein é um dos representantes da CONIB para a questão – que se destina à busca pelo fortalecimento de alianças fora da comunidade judaica e à importante defesa da centralidade do Estado de Israel para a comunidade judaica na diáspora.

Em conjunto com a promoção do diálogo interreligioso, a CONIB tem realizado ações firmes na luta contra o antissemitismo e, em janeiro deste ano, lançou a plataforma www.combateaoantissemitismo.org.br, que conta com vasto material educativo sobre o tema, além de manter um canal de denúncias para acolher a comunidade judaica brasileira, dar andamento a casos que requeiram ações judiciais e com o encaminhamento de ações de políticas públicas sobre o tema com base nos dados coletados.