11.11.24 | Mundo

“A Noite dos Cristais e o ataque do Hamas”

Em artigo em O Globo, Sofia Débora Levy - representante para a Memória do Holocausto do Congresso Judaico Latino Americano e integrante do Conselho Acadêmico da StandWithUs-Brasil – aborda o antissemitismo crescente no mundo e as narrativas anti-Israel desde o início da guerra desencadeada após os ataques do Hamas ao território israelense, em 7 de outubro de 2023. Segue a íntegra do texto:

Em 9 de novembro de 1938, os judeus da Alemanha e Áustria viram suas vidas mudarem do dia para noite. Os nazistas promoveram um verdadeiro massacre (pogrom), incendiando instituições judaicas, sinagogas e quebrando vidros dos estabelecimentos de judeus. Esse episódio ficou conhecido como Noite dos Cristais Quebrados (Kristallnacht), um marco na história do Holocausto.

No último mês, pelo calendário judaico, completou-se um ano do maior ataque terrorista sofrido por Israel desde o Holocausto, também aludido como um pogrom, pelo ataque surpresa, violento e indiscriminado do Hamas contra quem estivesse na área. A ansiada paz após a Segunda Guerra Mundial não durou muito, e as lições a aprender ainda se mantêm.

Em 1945, diante do fracasso dos seus propósitos, a Liga das Nações deu lugar à Organização das Nações Unidas, que manteve a finalidade de assegurar a paz entre os países. Dois anos depois, a ONU propôs a criação de dois Estados na região da Palestina, onde viviam árabes e judeus. O lado de Israel acatou, mas os árabes, pelo lado palestino, rejeitaram.

De lá pra cá, após inúmeras guerras e acordos, alguns países da região selaram as pazes e reconheceram a existência de Israel, como a Jordânia e o Egito. No entanto, outros ficaram do lado oposto. Entre esses, o Irã, com governo teocrático extremista desde 1979, se destaca como financiador de grupos terroristas que atuam mais próximos geograficamente a Israel, os chamados proxies, como o Hamas, o Hezbollah, o Estado Islâmico. Unidos num mesmo propósito, agem para a destruição do Estado de Israel numa declarada guerra religiosa, a Jihad, regada a slogans ideológicos com o uso indiscriminado de conceitos anacrônicos, acusando Israel de ser um Estado colonialista, genocida, nazista, que promove apartheid. Essas palavras-chave têm o poder de conclamar as massas a bradar contra um inimigo que lhes é ensinado a odiar, mas que não têm qualquer fundamento para quem, minimamente, se dispõe a conhecer a História.

O dia seguinte ao ataque do Hamas deu início a outra guerra, a das narrativas. Para superá-la, é importante esclarecer. Numa região onde os judeus vivem desde os tempos bíblicos, eles não poderiam ser colonizadores. A única democracia do Oriente Médio, em cujo Parlamento partidos árabes têm assento, não é totalitarista. Um país judeu que respeita as várias religiões de seus habitantes, pessoas de diversas etnias, e promove a integração e a liberdade de pessoas LGBTQIA+, não promove apartheid nem extermina o diferente.

Segundo o escritor e jornalista Yossi Klein Halevi, com a guerra em Gaza chegou-se ao cúmulo do processo de deslegitimação dos judeus com a equiparação de Israel aos nazistas na Alemanha e no Holocausto. Assim como na Kristallnacht os judeus foram obrigados pelo governo nazista a pagar um bilhão de marcos pelos danos decorrentes da devastação na qual foram vítimas, na guerra de narrativas a inversão e a culpabilização das vítimas se repetem.

Conhecendo a história de parte a parte, é possível diminuir as correntes de ódio que bradam pelo genocídio dos israelenses e dos judeus, objetivos declarados do Hamas. Slogans como “From the river to the sea”, na verdade, conclamam à destruição do Estado de Israel e de toda a sua população, judia e não judia, e a imposição de um totalitarismo religioso que pretende acabar com a cultura ocidental — conforme já demonstrado em outros ataques desses grupos, como na Síria, onde a antiga cidade de Palmira, patrimônio da Humanidade, foi parcialmente destruída pelo grupo terrorista Estado Islâmico, e na opressão que sofrem as mulheres em países e regiões governadas por muçulmanos radicais.

Nos últimos meses, Israel vem eliminando líderes dos grupos terroristas implicados nessa guerra em que o país tem que se defender e que provocou o deslocamento de quase 100 mil pessoas em território israelense, por fins de segurança e sobrevivência. Com a morte de Yahya Sinwar, líder do Hamas que arquitetou o ataque do 7/10/2023, e tantas evidências, veiculadas pelos próprios terroristas, do incabível horror numa sociedade civilizada, resta ainda ao mundo democrático se posicionar contra o terror e pela libertação dos reféns que sofrem nas mãos do Hamas há mais de um ano.

Sem essas posições claras, as vidas judias e israelenses seguem sem receber o mesmo reconhecimento de valor e respeito que outros grupos vitimados. Falha a ONU em seus propósitos, e as guerras continuam.


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