19.12.24 | Mundo
“A vitória de Israel contra o Irã”
Em artigo em O Globo desta quinta-feira (19), o jornalista Guga Chacra afirma que Israel derrotou o Hezbollah, maior aliado iraniano, e também mostrou que o Irã é um tigre de papel, incapaz de ser uma ameaça real. Leia a seguir a íntegra do texto:
Israel derrotou o regime de Teerã e o Hezbollah no ano de 2024 na sua maior vitória militar nos últimos 50 anos, desde a Guerra do Yom Kippur. A ameaça iraniana e de seu aliado xiita libanês, que assombrou os israelenses por décadas, praticamente evaporou em ações militares de enorme sucesso levadas adiante pelas forças do Estado judeu. Importante deixar claro, antes de prosseguir, que falo do conflito entre Israel e Irã e não entre Israel e Palestina.
Até meses atrás, havia um consenso inclusive nos serviços de inteligência dos EUA e de Israel de que uma guerra contra o eixo iraniano seria devastadora para os israelenses. A avaliação era de que uma guerra total contra o Hezbollah provocaria enorme destruição em cidades como Tel Aviv e Haifa e a possível morte de milhares de pessoas em Israel. Afinal, o arsenal do grupo xiita incluía dezenas de milhares de mísseis, além de a organização contar com militantes experientes e bem treinados. As previsões indicavam que o conflito terminaria em um cessar-fogo sem um vencedor claro.
Por causa desse suposto poder, ao longo dos últimos 25 anos, o Hezbollah poderia ser descrito como a maior forma de dissuasão do regime de Teerã. Caso Israel ou os EUA lançassem um ataque contra o Irã, as forças do grupo seriam ativadas para responder contra os israelenses. Isso acabou. O Hezbollah perdeu toda a sua mística de mais poderosa milícia do planeta. Israel destruiu a maior parte do arsenal do grupo xiita e matou milhares de seus membros e suas principais lideranças, incluindo o seu carismático líder Hassan Nasrallah.
Como comparação, no ano 2000, o Hezbollah conseguiu forçar Israel a se retirar do sul do Líbano após duas décadas de ocupação. Seis anos mais tarde, a organização conseguiu sair de uma guerra com a sensação de ter resistido a cerca de um mês de bombardeios israelenses. Desta vez, foi diferente. O grupo saiu humilhado. Mais grave, não há caminho claro para conseguir se rearmar e voltar a ser uma ameaça a Israel após a queda do regime de Bashar al-Assad na Síria.
Desde o século passado, o Irã utilizou o território sírio como rota de passagem para envio de armamentos para o Hezbollah. Embora não fosse uma ameaça a Israel e tenha sempre evitado provocar o poderoso vizinho, o regime de Assad mantinha uma aliança com Teerã para permitir o uso da Síria como rota para o apoio iraniano ao Hezbollah. Damasco agora está mãos do Hayett Tahrir al-Sham, um grupo extremista sunita que enxerga os xiitas do Hezbollah e do Irã como inimigos.
O regime iraniano também se mostrou parcialmente um tigre de papel. Chegou a lançar mísseis e drones contra Israel duas vezes, mas sem provocar grandes estragos no lado israelense. Ao mesmo tempo, Israel destruiu parte da defesa antiaérea iraniana e deixou claro ser capaz de atacar onde quiser no território iraniano.
É importante lembrar que o Irã no seu conflito contra a Israel nunca se importou com os palestinos. Sua prioridade é a defesa dos interesses iranianos. Tanto que os seus aliados do Hezbollah e do regime de Assad destruíram o campo de refugiados de Yarmuk em Damasco da mesma forma que Israel destruiu Gaza.
O Irã inclusive atrapalhou a legítima causa Palestina de ter um Estado independente ao adotar um discurso de destruição a Israel com tons antissemitas.