27.01.25 | Mundo

“É preciso lembrar o Holocausto 80 anos depois”

Sofia Débora Levy, representante para a Memória do Holocausto do Congresso Judaico Latino-Americano, assina o artigo sob o título acima publicado em O Globo desta segunda-feira (27). Leia a íntegra do texto a seguir:

Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo ficou estarrecido com a verdade sobre os campos de concentração e extermínio nazistas. Em 2005, quando a ONU estabeleceu a data de 27 de janeiro como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, se mantinha o choque quanto aos genocídios instituídos como política de governo na Alemanha e demais países anexados ou invadidos por Hitler. O racismo era imposto principalmente contra judeus, mas também contra comunistas, deficientes físicos e mentais, ciganos, negros, homossexuais, orientais, testemunhas de Jeová, maçons, opositores políticos e quem mais desagradasse ao governo ditatorial.

A data escolhida alude à liberação, pelo Exército soviético, do campo de Auschwitz — que passou à metonímia do Holocausto, pois lá foram assassinadas em série mais de 1 milhão de pessoas. Era a produção industrial da morte, planejada e executada com eficácia por nazistas e colaboradores sobre uma hierarquia de prisioneiros forçados a compactuar com os trabalhos pervertidos dos campos, onde reinavam a incerteza, o ódio, a indiferença e a banalização da vida e da morte. A inversão de valores e o terror eram tais que o sobrevivente polonês Wieslaw Kielar se refere a Auschwitz como anus mundi, local onde se purga o mundo dos indesejáveis, e também título do seu livro sobre o que ali testemunhou de 1940 a 1944 como prisioneiro político.

As datas memorialísticas servem, entre outras funções, à lembrança de situações passadas, para com elas nos conectarmos e buscarmos aprender algo que nos mova em prol de um mundo melhor. No entanto, hoje, 80 anos depois da liberação, quando vemos pessoas ao redor do mundo afirmando que as câmaras de gás do período nazista deveriam voltar a funcionar para eliminar os judeus, abre-se um questionamento sobre a eficácia dessa função. No mundo digital e globalizado, onde imagens e palavras de ordem preconceituosas são reiteradas como verdades, sem a devida checagem de seus conteúdos, estamos diante de novos desafios. A própria vivência do tempo, e da memória, mudou. Na veiculação hiperacelerada de informações, o passado já parece longínquo mesmo que tenham decorrido apenas horas, pois não se investe na retenção das informações. Com isso, é real o risco de apagamento de fatos importantes, que possibilitem análises críticas e sirvam de alerta para melhorar o futuro da sociedade.

Limites éticos de valorização da vida são necessários para a convivência social e devem ser universais. A história do Holocausto e outras tragédias perpetradas com base em ideologias que conclamam as massas à segregação, à exclusão e à morte devem ser lembradas com rechaço para que possamos combatê-las e firmar, em uníssono global, um novo patamar de evolução com base no respeito à vida. Essa é a contribuição da campanha #WeRemember do Congresso Judaico Latino-Americano neste ano, com postagens nas redes sociais com a mensagem “recordar o passado para proteger o futuro: aos 80 anos, infinitas razões para recordar”. As lembranças dos sobreviventes atravessam o tempo e não nos deixam esquecer.

Sofia Débora Levy é representante para a Memória do Holocausto do Congresso Judaico Latino-Americano, diretora educacional do Memorial às Vítimas do Holocausto e integrante do Conselho Acadêmico da StandWithUs-Brasil.


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