29.01.25 | Mundo
Em Auschwitz, sobreviventes falam do temor pelo crescimento do antissemitismo
“Porque foi assim que tudo começou. Foi exatamente esse antissemitismo que levou ao Holocausto", afirmou Marian Turski, o primeiro sobrevivente a discursar na cerimônia que reuniu 50 sobreviventes em Auschwitz na segunda-feira (27) – aniversário de 80 anos da liberação do mais famoso campo de extermínio nazista na Polônia, segundo noticiou a imprensa.
A cerimônia em Auschwitz foi prestigiada por dezenas de chefes de Estado, como o rei Charles, Emmanuel Macron, Olaf Scholz e Volodimir Zelenski, o último aplaudido na hora em que depositou uma vela próximo ao vagão do trem da morte. O carro foi destacado como símbolo da homenagem às vítimas do extermínio, 1,1 milhão nos campos de Auschwitz e Birkenau, a maioria judeus --no total, mais de 6 milhões foram assassinados pelo nazismo.
Na cerimônia, falaram apenas os sobreviventes. Quatro deles lembraram os horrores que viveram em Auschwitz em discursos que emocionaram o público presente. A preocupação com o antissemitismo também prevaleceu nas falas e o ataque terrorista do Hamas, que matou cerca de 1.200 pessoas em outubro de 2023, episódio que desencadeou a guerra em Gaza e fez explodir o número de casos contra judeus pelo planeta, assim como os debates sobre a questão.
A memória e a ameaça da extrema direita na Alemanha
No Parlamento alemão (Bundestag), as bandeiras foram erguidas a meio mastro, coroas de flores foram depositadas em frente ao púlpito e muitos parlamentares e convidados compareceram vestidos de preto, como símbolo de luto pelo passado nazista.
Tudo isso para que o capítulo mais sombrio da história alemã não seja esquecido. A Alemanha nazista desencadeou a Segunda Guerra Mundial e foi responsável pelo assassinato sistemático de 6 milhões de judeus europeus e de centenas de milhares de outros "elementos indesejados", como opositores políticos dos nazistas, homossexuais e pessoas com deficiência.
Mas nos últimos anos a lembrança dos crimes cometidos pelos nazistas vem sendo alvo de hostilidades na Alemanha, em especial por parte da extrema direita e do populismo de direita, de acordo com matéria na Deutsche Welle. "Quase todos os memoriais vem sendo confrontados com vandalismo e negação do Holocausto. Mas o que se pode ver também é que o debate na sociedade está se intensificando", diz Veronika Hager, da Fundação Memória, Responsabilidade e Futuro (EVZ, na sigla em alemão). "Declarações que, há dez anos, a sociedade como um todo teria rejeitado como extremas, têm hoje muito mais apoio", diz ela.