12.02.25 | Mundo
“Tomada de reféns pelo Hamas é crime de guerra, agravado por denúncias de tortura”, diz especialista
O jornalista e escritor João Paulo Charleaux, especialista em questões ligadas aos conflitos armados e ao direito da guerra, afirma, em artigo na Folha de S.Paulo desta quarta-feira (12), que a tomada de reféns, como a praticada pelo Hamas, é proibida pelo direito internacional. “Embora simpatizantes do grupo terrorista palestino teimem em dizer que esses israelenses capturados são ‘prisioneiros de guerra’, o direito é claro no sentido contrário: ‘prisioneiro de guerra’ é uma categoria que só se aplica a combatentes capturados, enquanto os civis não podem jamais ser sequestrados”.
O jornalista cita os relatos de tortura feitos por “três dos israelenses abduzidos pelo Hamas no 7 de Outubro – Ohad Ben Ami, Or Levy e Eli Sharabi –, que disseram ter sido pendurados de cabeça para baixo”. “Eles também contaram que homens do Hamas usaram capuzes para sufocá-los, amarraram seus membros e queimaram suas peles com objetos aquecidos”.
“Não há justificativa ou atenuante que possa converter um tratamento desses de ilegal a legal — seja sob pretexto de punir mau comportamento ou de extrair informações de valor estratégico”, destaca.
“Em outro caso, os pais de Eliya Cohen, 27, souberam por um grupo de recém-libertados que o filho deles, ainda em cativeiro, foi mantido acorrentado durante meses, privado de água e comida até a desnutrição. Cohen também tem um ferimento de bala nas pernas e sequelas de severo abuso físico e mental, de acordo com companheiros que voltaram a Israel”.
O jornalista cita ainda a falta de água e alimentos, relatada pelos reféns recém libertados. Eles relataram ter recebido grandes porções de comida apenas nos dias anteriores à libertação, numa estratégia de propaganda do Hamas para disfarçar os maus-tratos e a fome. “Outro relato que emerge é o de reféns mantidos há mais de um ano sem ver a luz solar, sem poder diferenciar o dia da noite, em túneis de teto baixo, nos quais não conseguem sequer esticar as pernas e se levantar”.
O jornalista também critica alguns excessos cometidos pelas Forças de Defesa de Israel (IDFs) no conflito em Gaza. E cita o caso em que a própria Advocacia-Geral Militar de Israel deu ordem, em julho, para que a Polícia do Exército entrasse na base de Sde Teiman, no deserto de Negev, para prender nove militares acusados de cometer abusos contra prisioneiros palestinos.