01.04.25 | Mundo
“O problema não é apenas o Hamas”
Artigo de André Lajst - cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil – em O Globo desta terça (1º) destaca que a “luta palestina está construída na destruição de Israel, não em negociações com o país”. “Isso foi retroalimentado durante décadas”. Leia a seguir a íntegra do texto:
Talvez este seja meu artigo mais contundente desde o começo da atual guerra entre Israel e Hamas. De início, preciso deixar claro que, como sionista, defendo o direito de Israel existir e apoio que os palestinos também tenham seu lar nacional, coexistindo ao lado de Israel. Sou solidário às vítimas civis em Gaza e me preocupo imensamente com o futuro da região.
Entretanto preciso ser sincero: o problema não é apenas o Hamas. Antes de 1967, Israel não tinha conquistado a Faixa de Gaza nem a Cisjordânia. Ambos os territórios eram governados por países árabes. Mesmo assim, não havia paz. Em 1994 e 1995, Yasser Arafat, então líder da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), afirmava em entrevistas a meios de comunicação árabes que a paz com Israel era uma cortina de fumaça para a “eliminação total da entidade sionista”.
A luta palestina está, muitas vezes, construída na destruição de Israel, não em negociações com o país. Isso foi alimentado e retroalimentado durante décadas por meio de educação, propaganda e mensagens dúbias que lideranças palestinas legítimas repetiam a quem quisesse ouvir. Elas tiveram e têm, até hoje, um efeito terrível na forma como os palestinos enxergam uma possível paz com Israel e em suas opiniões sobre o Hamas e os judeus.
Apesar dos últimos protestos contra o Hamas em Gaza, em que milhares de palestinos marcharam gritando slogans anti-Hamas e a favor do fim da guerra, encontramos evidências distintas nas últimas pesquisas de opinião conduzidas pelo Palestinian Center for Policy and Survey Research (PCPSR), maior e mais respeitado centro de pesquisa palestina, sediado em Ramallah, Cisjordânia, liderado pelo Dr. Khalil Shikaki. O estudo mais recente, publicado em setembro de 2024, traz dados assustadores e desanimadores para quem sonha com a paz entre os povos, como eu.
Estima-se que 60% dos palestinos demonstram satisfação com a performance do Hamas durante a guerra. Além disso, 66% deles se dizem satisfeitos com os houthis, do Iêmen, que lançaram mísseis contra civis israelenses em diversas oportunidades. Para piorar, 44% dos palestinos concordam com as ações do Hezbollah. Lembrando que, durante todo o conflito, não houve grandes protestos de palestinos para o Hamas soltar os reféns, nem mesmo daqueles que moram protegidos em democracias longe da região, apesar de haver em Gaza vozes que não concordem com as ações do Hamas.
Ora, se o Hamas não representa oficialmente os palestinos, por que os dados de opinião pública coletados pelo PCPSR mostram que a população palestina, em sua maioria, se identifica com as ações do grupo terrorista? As pesquisas mostram que 77% dos palestinos acreditam que o presidente palestino, Mahmoud Abbas, deveria renunciar. Com isso, se houvesse uma eleição geral nos territórios palestinos, o Hamas obteria maioria dos votos.
O PCPSR conduziu quatro pesquisas: em dezembro de 2023, março, junho e setembro de 2024. De acordo com elas, dois terços dos palestinos acreditam que a decisão do Hamas de realizar o ataque de 7 de outubro de 2023 contra Israel foi correta. Outros 62% acreditam que o Hamas sairá vitorioso do conflito atual. Na última pesquisa, os palestinos foram questionados em quem votariam caso houvesse disputa presidencial entre Mahmoud Abbas e o então líder do Hamas, Yahya Sinwar, morto em outubro de 2024. O resultado mostrou que Sinwar receberia 41% dos votos; e Abbas, apenas 13%.
As pesquisas realizadas pelo PCPSR contaram com amostragem de 1.200 pessoas entrevistadas pessoalmente: 790 na Cisjordânia, em 79 áreas residenciais distintas; e 410 na Faixa de Gaza, em diferentes localidades. A margem de erro é 3,5 pontos percentuais para mais ou para menos.
Não há fórmula mágica. Enquanto a educação na Cisjordânia e em Gaza for voltada para a guerra, enaltecendo terroristas e propagando ódio aos judeus e israelenses, veremos grupos armados, apoiados por parte considerável da população palestina, lançando ataques sem qualquer justificativa contra civis israelenses e novos ciclos de violência que resultarão disso. Se isso não mudar, os palestinos, infelizmente, não terão sua tão desejada independência.