02.06.25 | Mundo

“Tentativas de justificar o discurso de ódio contra judeus têm resultados concretos”

Em artigo em O Globo neste domingo (1), Marcos Knobel, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp), e Daniel Kignel, diretor jurídico da instituição, questionam a forma como muitos abordam a guerra em Gaza e afirmam que “não é aceitável que se compare a ofensiva do Exército israelense com o maior extermínio de seres humanos já realizado”. Leia se guir a íntegra do artigo:

Defender a causa palestina, de um lado, e proferir discursos de ódio abertamente antissemitas, romantizando o terrorismo e legitimando a morte de judeus, de outro, são abordagens absolutamente diferentes para tratar da guerra em Gaza. Era questão de tempo até que o segundo caminho deixasse o plano das ideias, escancarando sua natureza violenta.

As manifestações que ocorrem nas universidades americanas há mais de um ano não são homogêneas, não são exclusivamente pacíficas e legítimas, como também não são apenas violentas e racistas. É obrigação da direção das universidades e das autoridades fazer essa distinção e não ignorar a virulência daqueles que insistem em idolatrar o Hamas e seus métodos terroristas, apresentando como única solução viável a extinção do Estado de Israel.

A realidade, no entanto, é vergonhosa. A desconcertante incapacidade das lideranças universitárias de lidar com a situação que se apresenta levou a um cenário de consternação. Alunos judeus, convenientemente designados como “sionistas”, são hostilizados e proibidos de ingressar em bibliotecas e salas de aula. Manifestantes destroem o patrimônio das instituições de ensino com a convicção, originada a partir de um nível muito peculiar de ignorância, de que seus atos tornarão mais próxima a libertação da Palestina “do rio ao mar”. O uso de camisetas e bandanas contendo a bandeira do Hamas, grupo responsável por sequestros, estupros e assassinatos em massa, se tornou quase pré-requisito. E, por fim, o pedido pela “globalização da intifada” — novo hino da juventude que muito se orgulha de defender a execução de civis como método de combate — virou marca das manifestações.

As consequências desse discurso não poderiam ter sido diferentes. No último dia 21 de maio, dois funcionários da embaixada israelense em Washington foram assassinados a tiros ao sair de um evento realizado no Museu Judaico da capital americana. Segundo as investigações, o atirador disparou assim que as vítimas chegaram à rua. Não sabia quem eram ou o que faziam. Não sabia se eram americanos, israelenses, brasileiros ou europeus. A única informação do atirador era que eram judeus deixando o Museu Judaico. Seu único objetivo era “globalizar a intifada”.

Não se pode mais ignorar que as tentativas incessantes de justificar o discurso de ódio contra judeus têm resultados concretos. Não é necessário clamar pela extinção de Israel, ou legitimar a execução de judeus ou israelenses, para pedir pelo fim da guerra. Não é aceitável, a partir de padrões éticos ou históricos, que se compare a ofensiva do Exército israelense com o maior extermínio de seres humanos já realizado, que teve por alvo principal justamente os judeus. Esse tipo de argumentação, rasa e desequilibrada, serve apenas para fomentar o ódio e, mais importante, desnudar o profundo desconhecimento daqueles que dela se utilizam.

O fato de os ataques incessantes aos judeus e à existência do Estado de Israel serem a estratégia escolhida pelos manifestantes evidencia quão opaca é a lente através da qual esses jovens enxergam o mundo. É uma escolha deliberada e irresponsável, que faz a “globalização da intifada” ganhar ares de uma espécie de heroísmo deturpado. Há muito, judeus de todo o mundo insistem em dizer que, para defender o povo palestino ou o fim da guerra, não é necessário ser antissemita. Se não formos ouvidos, novos ataques como o ocorrido em Washington continuarão a ser questão de tempo.


Receba nossas notícias

Por favor, preencha este campo.
Por favor, preencha este campo.
Por favor, preencha este campo.
Invalid Input

O conteúdo dos textos aqui publicados não necessariamente refletem a opinião da CONIB. 

Desenvolvido por CAMEJO Estratégias em Comunicação