02.06.25 | Mundo
“O mundo se esqueceu dos reféns que ainda estão sob o poder do Hamas”
Em artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo deste domingo (1), o presidente da Fisesp, Marcos Knobel, manifesta preocupação com a situação dos reféns israelenses que continuam mantidos em cativeiro pelo Hamas em Gaza. “O resto do mundo, fora de Israel e da diáspora judaica, parece ter se esquecido dessas pessoas. Nos últimos tempos, Israel tem sido fortemente criticado, condenado e atacado por vários países europeus – e também pelo Brasil – pela interrupção temporária na entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, no período de 2 de março a 19 de maio. No entanto, ninguém se pergunta se isso estaria acontecendo se o grupo terrorista tivesse devolvido todos os reféns, uma escolha que só cabe ao grupo terrorista há 591 dias”. Leia a seguir a íntegra do artigo:
Quinhentos e noventa e um dias, 84 semanas, 19 meses. Ainda há reféns israelenses sob o poder do grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza. Dos 240 brutalmente sequestrados no fatídico 7 de Outubro de 2023, 58 continuam no enclave palestino. Desses, pelo menos 35 estão mortos, enquanto os demais têm passando pelos piores abusos, como podemos imaginar com base nos depoimentos de homens, mulheres e crianças que conseguiram voltar para casa. As famílias esperam pelo retorno de seus entes queridos. Ou ao menos pelos seus corpos e a chance de dar-lhes um enterro digno.
O resto do mundo, fora de Israel e da diáspora judaica, parece ter se esquecido dessas pessoas. Nos últimos tempos, Israel tem sido fortemente criticado, condenado e atacado por vários países europeus – e também pelo Brasil – pela interrupção temporária na entrega de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, no período de 2 de março a 19 de maio. No entanto, ninguém se pergunta se isso estaria acontecendo se o grupo terrorista tivesse devolvido todos os reféns, uma escolha que só cabe ao grupo terrorista há 591 dias.
Será que Israel tomaria esse tipo de atitude? Será que se o Hamas não estivesse segurando essas pessoas sob seu poder haveria tal situação em Gaza? Críticas ao governo de Israel, como ao de qualquer país, são legítimas, e o objetivo deste artigo não é inferir o contrário. Mas é urgente convidar a todos para uma reflexão sobre esse assunto.
Há cerca de um ano e meio, aproximadamente 600 caminhões chegam à Faixa de Gaza todos os dias com ajuda humanitária para os palestinos enviada por vários países. É um movimento muito maior de entrada de alimentos e suprimentos na região do que o registrado no período pré-guerra. Por que isso não chega aos palestinos? Por que há tanta fome pairando entre a população?
Ao entrar em Gaza, esses caminhões são saqueados pelo Hamas, a carga é armazenada em depósitos e utilizada como moeda de troca. Segundo o Canal 12, maior emissora de TV israelense, estima-se que o grupo terrorista tenha conseguido circular cerca de US$ 1 bilhão nesse período. Será que boa parte dos túneis construídos sob Gaza não foram feitos com esse dinheiro, proveniente da venda de produtos de ajuda humanitária, que deveriam estar nas mãos da população, a preços absurdos? Você se imagina pagando R$ 200 por um quilo de tomate? Ou R$ 100 por um quilo de pepino?
Além de comercializarem tais itens, outra parte dos alimentos é utilizada para nutrir seus combatentes. Com isso, eles conseguem colocar em prática uma estratégia nociva: aumentar seu poder militar e incentivar a fome na região de Gaza – com mais palestinos vivendo em situação de miséria, aumenta-se a pressão do mundo sobre Israel para acabar com a guerra. E o que acontece é que a perpetuação do conflito se torna uma realidade.
Ninguém se pergunta por que existem palestinos pedindo a expulsão do Hamas da Faixa de Gaza. O que é mostrado para o mundo é que Israel está causando a destruição da região e não que o próprio grupo terrorista está aniquilando a população ao deixá-la sem acesso à comida e a itens básicos.
Infelizmente, hoje em dia estamos vendo uma ação conjunta de países para condenar Israel, mas não há sequer uma iniciativa para pressionar o Hamas para libertar os reféns que ainda restam sob o poder deles. Vale voltar um pouco atrás e relembrar a postura do Brasil, que se manteve calado e nada fez para conseguir a libertação do brasileiro Michel Nisembaum – por sete meses, acreditou-se que ele era refém, embora, posteriormente, tenha havido a informação de que já foi levado morto ao cativeiro.
O que me conforta é que o pensamento do líder do governo do Brasil não traduz o que pensa o povo brasileiro a respeito do assunto, algo já comprovado por pesquisas publicadas na imprensa. Uma das provas disso é a queda da popularidade do governo Lula em relação às suas ações no que diz respeito às relações exteriores.
Enquanto o mundo segue condenando Israel, sem fazer questão de prestar atenção ao que acontece de fato, nós mantemos todos os esforços necessários para resgatar os reféns que ainda estão sofrendo nas mãos do Hamas e trazê-los para casa. Infelizmente, eles realmente parecem ter sido esquecidos pelo mundo.
Mas nós não ficaremos em paz enquanto todos não retornarem às suas casas. É assim que pensa um povo que tantas dificuldades já viveu ao longo dos séculos.