09.06.25 | Mundo

“Como a guerra entre Israel e o Hamas afundou a ideia de um Estado palestino”

Daniel Gateno, jornalista enviado pelo jornal O Estado de S.Paulo a Tel Aviv, afirma que o trauma do 7 de outubro e desconfiança em relação aos palestinos “diminuiu a possibilidade de diálogo e aumentou as preocupações de segurança da população, que sentiu que a própria existência do Estado de Israel estava em risco após os ataques que deixaram 1,2 mil mortos e 250 sequestrados no sul do país”.

A paz com os palestinos é um tema que gera incerteza e dúvida para os israelenses. O trauma dos ataques do Hamas no dia 7 de outubro de 2023 segue vivo e a guerra na Faixa de Gaza continua a todo vapor. Não existem planos concretos para o pós-guerra e é difícil imaginar um futuro para além do dia de amanhã.

Por isso, mesmo que a maioria dos israelenses queira o fim da guerra e volta dos 58 sequestrados, segundo as pesquisas de opinião, a criação de um Estado palestino segue pendente e deve continuar assim.

“É muito cedo para pensarmos em tudo isso, primeiro os reféns precisam voltar e depois podemos pensar em reconstruir essas pontes”, avalia Dalia Cusnir, cunhada de Eitan Horn, refém argentino-israelense que segue na Faixa de Gaza.

Dalia conta que sempre acreditou na paz com os palestinos e era a favor de um acordo para a criação do Estado palestino, mas os ataques de 7 de outubro mudaram a sua percepção sobre o conflito. “Naquele dia, não foram só terroristas que invadiram Israel. Nós sabemos de histórias de reféns que foram sequestrados por civis de Gaza e depois foram vendidos para o Hamas”.

Prioridades

“Para qualquer sociedade que tem uma experiência de violência, como foram os ataques de 7 de outubro, existe uma resistência em conversar com o outro lado”, avalia Yuval Benziman, professor de ciências políticas da Universidade Hebraica de Jerusalém.

A guerra que já dura mais de 600 dias fez com que os israelenses mudassem as suas prioridades, de acordo com a parlamentar israelense Efrat Rayten, do partido Os Democratas, de centro-esquerda. “Antes da guerra, a maioria das pessoas em Israel aceitava a criação de um Estado palestino, mas agora entendemos que o Hamas quer nos destruir e não temos alguém para conversar do outro lado”.

Segundo Efrat, garantir a segurança de Israel virou a questão mais importante para o futuro. “Primeiro vamos assegurar a manutenção do meu povo. Todo o resto ficou para trás e com certeza a discussão sobre a solução de dois Estados regrediu”.

A parlamentar é contra a continuidade da guerra e defende um acordo de cessar-fogo para a libertação dos reféns. Para ela, que é da oposição ao primeiro-ministro Binyamin Netanyahu, Israel precisa de um novo Yitzhak Rabin, primeiro-ministro que foi o arquiteto dos Acordos de Oslo, em 1993.

O partido Os Democratas é uma junção do antigo Partido Trabalhista, de Rabin, e o Meretz. “Rabin é um ícone do Partido Trabalhista e ele sabia da importância de conseguirmos juntar a nossa necessidade de segurança e paz ao mesmo tempo”, diz Efrat.

Paz em segundo plano

Rabin foi o último primeiro-ministro israelense a avançar na questão palestina. Nos Acordos de Oslo -que foram negociados por ele e o líder palestino Yasser Arafat- a Autoridade Palestina (AP) foi criada como órgão de governo provisório e a Cisjordânia foi dividida em três partes, entre israelenses e palestinos.

A ideia era que os acordos fossem provisórios, até que em 1999 um Estado palestino fosse criado mediante a novas negociações. Mas em novembro de 1995, Rabin foi assassinado por um extremista judeu e nenhum outro esforço foi para frente.

Os primeiros-ministros Ehud Barak e Ehud Olmert tentaram avançar na questão, mas líderes palestinos recusaram as propostas por conta de divergências sobre o status de Jerusalém Oriental e os locais sagrados para muçulmanos e judeus na cidade velha e o direito de retorno de refugiados palestinos.

A desilusão com o processo de paz, aliada a uma série de ataques terroristas e atentados a bomba em Israel no inicio dos anos 2000, fez com que os partidos de esquerda perdessem força em Israel. Nas últimas eleições legislativas, em 2022, o Partido Trabalhista teve menos de 4% dos votos.

A situação ficou ainda pior depois da volta de Netanyahu ao poder com a coalizão mais extremista da história de Israel, que conta com os ministros Itamar Ben-Gvir, da Segurança Nacional, e Bezalel Smotrich, da Economia. Os dois políticos defendem a expansão dos assentamentos na Cisjordânia, a volta dos israelenses para Gaza e a expulsão dos palestinos.

Mesmo com o complexo panorama político, o professor da Universidade Hebraica de Jerusalém, Yuval Benziman, avalia que a solução de dois Estados segue sendo a única alternativa viável para resolver o conflito. “Houve momentos em que mais de 50% dos israelenses apoiaram a solução de dois Estados. Atualmente apenas um terço apoia, mas ninguém tem outra solução e o 7 de outubro mostrou que precisamos falar sobre isso”.


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