26.06.25 | Mundo
“EUA e Israel buscam dividendos políticos do ataque ao Irã”
Em editorial publicado nesta quinta (26), a Folha de S.Paulo analisa os desdobramentos do conflito Israel-Irã e o futuro político dos líderes Donald Trump e Benjamin Netanyahu. Leia a seguir:
Meses ou anos? Ainda não é possível saber o quanto a ofensiva israelo-americana contra instalações nucleares no Irã atrasou o programa bélico dos aiatolás.
O americano Donald Trump disse que suas superbombas haviam obliterado as fortalezas atômicas iranianas, o que quase certamente é uma avaliação mais que exagerada. O Estado-Maior das Forças Armadas americanas foi bem mais cauteloso.
Já o relatório secreto dos serviços de inteligência dos EUA que vazou para a imprensa aponta, com a ressalva de que se trata de uma avaliação preliminar, que o atraso imposto pelos bombardeios foi de apenas alguns meses. Antes dos ataques, o Irã estaria a três meses de uma bomba. Agora, estaria talvez a seis.
Alvejar o programa iraniano era o objetivo principal da ofensiva iniciada pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e terminada por Trump, que logo em seguida passou a exigir que israelenses e iranianos respeitassem um cessar-fogo. Mesmo que a meta principal não tenha sido alcançada, a ação trará enormes consequências para a região, tanto no plano militar como no político.
Embora os aiatolás tenham se esforçado para gerar uma resposta aos ataques que tentarão vender internamente como uma vitória, o fato é que as Forças Armadas iranianas se saíram extremamente mal na batalha.
Israel não precisou mais do que de algumas horas para conquistar hegemonia aérea. Ainda impôs severos reveses à capacidade de Teerã de lançar mísseis, sem mencionar as perdas na cadeia de comando —vários generais foram assassinados.
O poderio militar iraniano tinha muito de tigre de papel. E os vários rivais de Teerã se deram perfeitamente conta disso.
No plano político, a teocracia, que já enfrentava revoltas populares, também fica ainda mais enfraquecida. Perder guerras é muitas vezes fatal para ditadores. Não parece, de todo modo, haver oposição suficientemente organizada para liderar um movimento de derrubada dos aiatolás.
Em Israel, Netanyahu ganha pontos. Logo depois dos ataques terroristas do Hamas, em outubro de 2023, o governo parecia estar com os dias contados. Os serviços de segurança, afinal, haviam falhado estrondosamente.
Netanyahu, porém, prolongou a guerra na Faixa Gaza e depois a expandiu para o Líbano, onde impôs severas perdas ao Hezbollah —e, agora, ao Irã. Com isso, foi se equilibrando no poder. Veremos nas próximas pesquisas se a ofensiva contra o Irã coloca o premiê e seu partido de volta no páreo eleitoral. O pleito precisa ocorrer até outubro de 2026.
Já nos EUA, Trump, tentando agradar tanto aos falcões do seu partido como à base mais isolacionista, inventou a fórmula de lançar meia dúzia de superbombas e exigir um cessar-fogo. Surpreendentemente, se a trégua se mantiver e não ocorrer nenhuma reviravolta política mais trágica, ele talvez tenha sucesso.