26.06.25 | Mundo
“Trump é essencial para que cessar-fogo entre Irã e Israel seja duradouro”
Editorial de O Globo nesta quarta-feira (25) defende o envolvimento do presidente americano para manter o cessar-fogo entre Israel e Irã. “Apesar de a trégua ter se revelado instável no início, todos os lados do conflito teriam a ganhar com ela”. Leia a seguir a íntegra do texto:
É fundamental o esforço do presidente americano, Donald Trump, para manter o cessar-fogo entre Israel e Irã anunciado na segunda-feira. A trégua foi testada nas primeiras horas por hostilidades de lado a lado. Apesar desses reveses, é preciso que o cessar-fogo tenha chances de pavimentar o caminho a um acordo duradouro.
Israel conseguiu, se não destruir, pelo menos retardar significativamente o programa nuclear e danificar o poderio militar iraniano. Trump comprovou a eficácia de suas bombas subterrâneas, demonstrou arrojo e ousadia ao tomar uma decisão que paralisou vários presidentes americanos e faturará politicamente se o ataque tiver bastado para interromper um conflito intratável. Por fim, os iranianos, ainda que derrotados, podem reivindicar a retaliação contra a principal base militar dos Estados Unidos na região, no Catar.
Quem tem mais a perder com o prolongamento da guerra é o próprio Irã. O país investiu anos e recursos para montar uma rede de aliados com capacidade de destruir Israel. Desde a barbárie terrorista do Hamas em 7 de outubro de 2023, porém, ela vem sendo desmantelada pelos israelenses.
O Hamas foi reduzido a ruínas em Gaza. O Hezbollah perdeu lideranças, suas bases e o poder que tinha no Líbano. O regime de Bashar al-Assad foi derrubado na Síria. Os houthis iemenitas têm sofrido bombardeios regulares. Para completar, Israel dizimou proteções antiaéreas, mísseis balísticos e lideranças iranianas, deixando o próprio Irã vulnerável. Rússia e China não demonstram o menor interesse em ajudar seu aliado na região.
Para Israel, o temor de um Irã nuclear é hoje muito menor. As principais instalações foram atingidas e, ainda que o programa iraniano não tenha sido “obliterado” como disse Trump, a bomba atômica se tornou uma fantasia bem mais distante para os aiatolás. Há ainda o fator de dissuasão. Eles sabem que, a qualquer indício de produção de armas nucleares, estarão sob a mira não apenas dos aviões israelenses, mas também da artilharia americana.
Para Trump, uma guerra prolongada seria um estorvo. É certo que ele faria de tudo para evitar o envio de tropas terrestres. A ala isolacionista do trumpismo é veementemente contrária a intervenções militares no exterior. Outro risco seria a explosão da inflação. Num conflito mais longo, o Irã poderia tentar fechar acesso ao Golfo Pérsico, levando o petróleo para as alturas.
Embora todos os lados tenham razões para encerrar o conflito, as primeiras horas do cessar-fogo mostram que não será tarefa fácil. Cabe a Trump usar seu poder de persuasão de modo mais eficaz para que a trégua vingue.