01.07.25 | Mundo

“Insanidade antissemita: ex-refém israelense ameaçada, festival enxovalhado”

Em artigo publicado no site de Veja nesta terça (1º), Vilma Gryzinski comenta o festival Glastonbury, no Canadá, onde o rapper Bobby Vylan incentivou o público a gritar frases antissemitas e pedir a morte de soldados israelenses, além de ameaçar a ex-refém Noa Argamani, presente no evento. “Jovens que deveriam saber qual é o lado sem moral disparam barbaridades, como intimidar quem sofreu sequestro e incentivar morte de soldados”. Leia a seguir a íntegra do texto:

Noa Argamani entrou para a memória visual do mundo quando foi filmada na garupa de uma moto na qual era sequestrada, implorando “Não me matem”. Passou 245 dias no cativeiro em Gaza, foi solta numa operação do Exército israelense em junho do ano passado e se dedica desde então a divulgar a causa dos reféns ainda presos pelo Hamas, inclusive seu namorado, Avinatam Or. Sua beleza, como filha de pai israelense e mãe chinesa, ajuda. Deveria estar no lugar mais civilizado e seguro do mundo, o Canadá, numa viagem em nome da sua causa, mas foi numa visita a Ontario onde ouviu o seguinte de jovens como ela: “O Hamas vem te pegar”.

É um exemplo extremo da radicalização para o mal que se propaga contra Israel entre jovens radicalizados via TikTok ou um sistema de ensino que replica pelo mundo falácias e propaganda. Não conhecem – ou não querem conhecer – a complicada história do conflito entre israelenses e palestinos numa disputa territorial que perpassa aspectos milenares, da política à sociedade, da religião ao nacionalismo. Ignoram deliberadamente que Israel combate em Gaza um inimigo escondido debaixo da infraestrutura civil, de escolas a hospitais. Acham que os judeus são os vilões e os palestinos as vítimas.

Todas as pessoas que abordam o assunto de um ponto de vista decente são as primeiras a dizer que é enorme o número de vítimas civis em Gaza e isso afeta a retidão moral de Israel.

Mas não estamos falando aqui da complexidade do combate a um inimigo que chacinou 1,2 mil pessoas em um dia e promete fazer muito mais. Em questão está o antissemitismo explícito que jovens criados num ambiente de ensino de esquerda praticam até sem se dar conta disso. Qual outra classificação dar à ameaça a uma ex-refém de que “o Hamas vem tem pegar”?

‘Mulher do batom’

Outro caso escandaloso aconteceu em Glastonbury, o mais famoso festival de música do Reino Unido. O rapper Bobby Vylan – nome verdadeiro, Pascal Robinson-Foster – puxou um coro sinistro: “Kill, kill the IDF”. Matem os soldados israelenses. Cerca de metade do público aplaudiu e repetiu.

Foi uma cena repugnante ver a massa pedir a morte de judeus pelo crime de lutar por seu país. A BBC está enrolada em acusações de ter permitido a divulgação do coro antissemita, embora, nesse caso, tenha a seu favor o fato de que não poderia prever o que estava sendo proclamado ao vivo no palco.

A polícia abriu uma investigação e o governo americano disse que o visto da dupla musical para uma turnê em território americano será cancelado.

O governo esquerdista do primeiro-ministro Keir Starmer condenou a barbaridade e representantes da direita disseram que se o caso não redundar em condenação, mostrará o duplo padrão vigente na justiça. Compararam-no ao processo envolvendo Lucy Connoly, condenada a dois anos e sete meses de prisão por uma postagem execrável insuflando a que fossem incendiados os locais de hospedagem de estrangeiros que chegam ilegalmente no país e pedem asilo.

Lucy Connolly virou uma espécie de “mulher do batom” do Reino Unido, pela desproporcionalidade da pena. Ela tirou a postagem do ar e depois reconheceu a culpa pelos termos brutais, emitidos quando o país vivia momentos de protestos violentos contra imigrantes, por causa do horrível episódio em que um jovem de família vinda de Ruanda atacou um curso de férias de crianças, matando três meninas pequenas a facadas.

Se Lucy pegou essa condenação por dizer atrocidades na rede, qual deveria ser o castigo dos que incentivam no alto de um palco a morte dos soldados aos quais cabe defender a sobrevivência do Estado judeu? Ou ambos os casos são cobertos pelo direito à liberdade de expressão, mesmo, ou principalmente, quando o que é exprimido tem caráter repugnante?

Os personagens individuais são menos importantes do que os coletivos, as massas de jovens politizadas pelo TikTok que simpatizam não com os frequentadores de um festival de música, o Nova, mas com seus supliciadores.

Mulheres crucificadas

Ao todo, foram mortas 378 pessoas no festival Nova onde os frequentadores da rave no deserto ficaram totalmente à mercê dos invasores do Hamas na manhã de 7 de outubro de 2023. Várias mulheres foram estupradas antes do fuzilamento, sofrendo mutilações hediondas. Algumas foram “crucificadas” em árvores. Todos os que tentaram escapar de carro pela estrada acabaram mortos.

O maior erro das Forças de Defesa de Israel foi ter demorado demais para reagir e salvar tanto as vítimas inocentes do festival quanto os moradores das comunidades fronteiriças invadidas. Agora, jovens frequentadores de outro festival pedem que esses soldados sejam mortos.

Ironia final: o rapper que conclamou o coro usa como nome uma paródia de Bob Dylan, o neto de refugiados judeus chamado Robert Zimmerman.

Entre os jovens do Nova estava Noa Argamani. Aos que tentaram intimidá-la, ela respondeu: “O Hamas já veio. O Hamas me sequestrou. O Hamas matou meus amigos. Mas eu saí ganhando, eu sobrevivi”.

Para mostrar como tudo é complicado, Noa foi criticada pela esquerda em Israel por ter acompanhado o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu numa viagem aos Estados Unidos, em julho do ano passado. Em Israel também existem reféns de direita e de esquerda.


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