03.07.25 | Mundo
Estudo revela que o Hamas inflou o número de crianças e mulheres mortas durante a guerra em Gaza
Um estudo feito por professores australianos revela que o Hamas adulterou os números de crianças e mulheres mortas no conflito em Gaza para criar a narrativa de que Israel estava cometendo genocídio, de acordo com matéria de Daniel Gateno publicada no jornal O Estado de S.Paulo.
O estudo foi feito pelos professores universitários australianos Lewi Stone e Gregory Rose e publicado pela Henry Jackson Society, instituto com base em Londres. Stone é professor de Epidemiologia Matemática do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne e Rose é professor de direito internacional na Universidade de Wollongong, com especialização em direito internacional relacionado a conflitos armados.
O documento aponta que o número de mortos no conflito é significativamente menor do que o relatado pelo Hamas, que alega que 70% das mortes em Gaza são de mulheres e crianças. O estudo reconhece que as Forças de Defesa de Israel (FDI) tomaram providências para minimizar as mortes de civis na Faixa de Gaza e revela que a porcentagem de mulheres e crianças mortas durante a guerra é de 51%.
Em entrevista ao Estadão, os autores do estudo destacam que iniciaram sua pesquisa depois que os primeiros dados de mortos e feridos foram publicados pelo grupo terrorista Hamas, em outubro de 2023.
“Quando o Hamas publicou os primeiros dados de que 7 mil pessoas haviam morrido, fiquei intrigado com a forma que eles estavam contabilizando esses números e tudo começou após o bombardeio do Hospital Al-Ahli”, aponta Stone. O pesquisador diz que as diferenças na contagem de mortos naquele dia ressaltaram as irregularidades dos dados do Hamas.
No dia 17 de outubro de 2023, um míssil destruiu parte do estacionamento e do prédio do Hospital Al-Ahli. O grupo terrorista Hamas alegou que 500 pessoas morreram, enquanto fontes europeias e americanas destacam que menos de 50 pessoas foram mortas. O Hamas culpou Israel pelas mortes, enquanto o Exército israelense alegou que um míssil da Jihad Islâmica atingiu o hospital.
“Essa diferença no número foi muito estranha e o Hamas estava fornecendo dados diários de mortes, o que a maioria dos países não consegue fazer, muito menos um grupo terrorista”, diz Stone.
Leia a seguir, detalhes do estudo publicadas na matéria:
Irregularidades
A análise feita pelo pesquisadores examinou os dados coletados até março de 2025, quando o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, anunciou que mais de 50 mil pessoas haviam morrido no território palestino desde o inicio do conflito. A pesquisa tem base em dados do Ministério que estavam armazenados em uma rede de computadores no Hospital Al Shifa, na Cidade de Gaza.
De acordo com o estudo, o Hamas contabiliza os mortos do conflito por meio do Ministério da Saúde de Gaza e os dados são repassados para a mídia internacional pelo Escritório de Mídia e Governo do Hamas, que distorce as contagens e aumenta o número de crianças e mulheres mortas.
O material ressalta que as duas fontes de dados possuem versões diferentes sobre o número de mortos. “O Escritório de Mídia e Governo do Hamas tentou mostrar uma realidade em que mulheres e crianças eram mortas indiscriminadamente, mas isso era inconsistente com os dados publicados pelo próprio Ministério da Saúde de Gaza, que eram mais verossímeis”, apontou a pesquisa.
O estudo também diz que o Hamas classificou homens adolescentes mortos como crianças, quando eles poderiam ser caracterizados como terroristas, já que o Hamas tem combatentes que são menores de idade.
“Fizemos uma análise das mortes masculinas em diferentes faixas etárias, de 10 a 15 anos e de 15 a 20 anos, o que indicou uma taxa de mortalidade muito maior para adolescentes do sexo masculino do que para adolescentes do sexo feminino”, aponta Rose. “Esses números sugerem que eles estavam envolvidos em combate, mas eles foram categorizados como crianças e automaticamente não combatentes. Essas anomalias mostram que eles estão sim usando menores de idade como terroristas, porque não há outra explicação racional”.
Além disso, os dados fornecidos à mídia internacional incluem vítimas de causas naturais e palestinos assassinados pelo Hamas, que encabeça um regime repressivo na Faixa de Gaza e já matou organizadores de protestos e palestinos acusados de espionagem.
Segundo o estudo, muitas baixas entre terroristas do Hamas também não foram listadas. Familiares do ex-líder do Hamas em Gaza Yahya Sinwar estavam inicialmente nas listas, mas foram retirados.
Os dados fornecidos pelo Ministério da Saúde de Gaza são frequentemente usados pela mídia internacional, inclusive pelo Estadão, para ilustrar o contexto da guerra em Gaza, mas com as ressalvas necessárias de que os números são do Hamas e que essa é a única fonte de referência para a contagem de mortos do conflito.
Metodologia
Os pesquisadores apontaram para problemas no armazenamento dos dados, alegando falta de cronologia e sem identificação de muitas vítimas.
A verificação padrão das identidades das vítimas era feita em hospitais e necrotérios, mas quando os mortos não podiam ser identificados por conta de falta de internet ou infraestrutura, o grupo terrorista usava métodos duvidosos como formulários eletrônicos no Google Forms em que não se podia identificar os corpos.
“Quase 14 mil vítimas foram identificadas posteriormente via formulários online. Os processos duvidosos fizeram com que muitas anomalias ocorressem, como inclusões de pessoas vivas na lista de mortos”, apontou o estudo.
Segundo Stone, a pesquisa comprovou que o Hamas inflou os números e classificou até vítimas que eles não tinham comprovação de morte como mulheres e crianças mortas. “Segundo os dados deles, por grandes períodos apenas mulheres e crianças tinham morrido. Eles não tinham nem a confirmação do óbito, mas colocavam nessa lista”.
De acordo com os pesquisadores, após uma primeira publicação do estudo, o Ministério da Saúde de Gaza parou de divulgar a informação de que 70% das mortes durante a guerra eram de mulheres e crianças, mas o Escritório de Mídia e Governo do Hamas continuou compartilhando os números.
Medidas preventivas
A pesquisa aponta que os números do Ministério da Saúde, que mostram que 51% das mortes eram de mulheres e crianças, ressaltam que o Exército de Israel tomou medidas preventivas para retirar os civis da zona de guerra.
Os professores utilizaram um estudo de caso de uma operação israelense na cidade de Khan Yunis, no sul do território palestino, entre janeiro e maio de 2024 para comprovar essa alegação. Segundo o material, apenas 34% das mortes eram de mulheres e crianças, menos da metade dos 70% que o grupo terrorista Hamas reivindicou.
“As análises dos dados mostram que as mortes de mulheres e crianças não representam 70% das mortes da guerra. Dependendo da fase da guerra, os números podem chegar de 30% a 40%”, aponta Stone.
Os pesquisadores também destacam que 75% da população da Faixa de Gaza é composta de mulheres e crianças. “É uma diferença enorme. Se eles falaram que era 70% das mortes em uma população que 75% é de mulheres e crianças, mas os números dizem que variou de 30% a 50%. É uma grande lacuna”, destaca Rose.
Números totais
Os pesquisadores apontam que o verdadeiro número de mortos no conflito não é tão diferente dos dados fornecidos pelo Ministério da Saúde de Gaza, com todas as ressalvas já citadas nesta reportagem, que incluem inconsistências na metodologia para identificação dos mortos e a inclusão de pessoas vivas na lista.
Em uma entrevista no podcast “Call Me Back”, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, afirmou em maio de 2024 que cerca de 30 mil pessoas haviam morrido em Gaza até aquele momento. Segundo Netanyahu, 16 mil mortos eram civis e 14 mil eram terroristas do Hamas.
De acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza, 35 mil pessoas haviam morrido do início da guerra até o período da entrevista de Netanyahu.
“As declarações de Netanyahu mostram que os números totais das mortes em Gaza que Israel fornece não são tão diferentes dos dados do Hamas. As diferenças estão nas porcentagens”, diz Stone.
Acusação de genocídio
Os autores do estudo apontam que a mudança nas porcentagens faz parte da construção de uma narrativa que acusa Israel de cometer genocídio na Faixa de Gaza. Os professores não acreditam nesta alegação.
“Se a porcentagem do Hamas estivesse certa, e 70% das mortes fossem de mulheres e crianças, em uma população onde 75% é composta de mulheres e crianças, poderíamos apontar que se tratava de uma matança indiscriminada, mas isso não é verdade”, aponta Rose.
O especialista em direito internacional diz que a guerra entre Hamas e Israel não foi lutada apenas no terreno, em Gaza, mas sim na mídia, organismos internacionais e cortes.
“Praticar genocídio exige a intenção de erradicar uma população. Se quem acusa Israel de genocídio por conta dos números e porcentagens fornecidas pelo Hamas, então nós provamos que os dados estão errados”, destaca o professor de direito internacional.