06.08.25 | Brasil

“Brasil, memória e o perigo do retrocesso”

Em artigo no Infobae, a pesquisadora Sofia Débora Levy, Comissária para a Memória do Holocausto do Congresso Judaico Latino-Americano, aborda os riscos e as consequências da decisão do governo de retirar o País da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), lembrando que a iniciativa deixa inseguros os muitos sobreviventes do nazismo que buscaram refúgio no País. Leia a seguir a íntegra do texto:

Nestes dias, testemunhamos as repercussões da decisão do presidente Lula de retirar o status de observador do Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA), uma organização intergovernamental que trabalha desde sua fundação no final da década de 1990 para preservar a memória do Holocausto e combater o antissemitismo.

O Brasil é membro observador desta organização desde 2021. Após três anos, os países observadores podem aspirar a se tornar membros plenos, comprometendo-se ainda mais com a causa por meio de iniciativas educacionais e políticas públicas. No entanto, em meio ao aumento global do antissemitismo, o Presidente Lula, com este anúncio, colocou o Brasil na direção oposta.

Isso não passa despercebido por aqueles que são sensíveis à história do Holocausto e, especialmente, pelas famílias dos sobreviventes, sejam judeus ou não, já que a barbárie nazista assassinou seis milhões de judeus e outros cinco milhões de pessoas, incluindo ciganos, pessoas LGBT, pessoas de ascendência africana, pessoas com deficiência física ou mental, maçons, asiáticos, eslavos, comunistas, opositores do regime nazista, prisioneiros comuns, enfim, vários grupos minoritários considerados indesejáveis.

Até o início do século XX, o antissemitismo permeou a história com um viés religioso; com o nazismo, o antissemitismo religioso deu lugar a um critério racial, referindo-se não apenas à cor da pele, mas também à herança genética. O critério era a raça ariana, com características biológicas, físicas e culturais consideradas superiores a outros grupos. A ideologia nazista ainda persiste em todo o mundo, mais uma vez tentando ocupar um espaço na política partidária, com as mesmas prerrogativas racistas e totalitárias.

Embora repitamos que é preciso estudar a história para evitar sua repetição, o que vemos é justamente a repetição de atos bárbaros. A banalização da violência se manifesta em uma série de atentados terroristas em diferentes partes do mundo, surpreendendo vítimas de diversas minorias. Mas, sob os holofotes da mídia, estão aqueles cujo alvo central é o Estado de Israel e os judeus. O antisionismo, posição contrária à existência do Estado de Israel, é hoje a mais forte manifestação do antissemitismo contemporâneo. Desde o atentado de 7 de outubro de 2023, quando o grupo terrorista Hamas, que governa a Faixa de Gaza de forma totalitária, invadiu o sul de Israel, assassinando 1.200 pessoas e fazendo mais de 250 reféns em um único dia, a resposta defensiva de Israel tem gerado reações antisionistas que muitas vezes trazem consigo um ódio renovado contra os judeus.

É hora de dar um basta a essa nova forma de discriminação, sustentada por uma narrativa tendenciosa sobre a guerra entre o Hamas e o Estado de Israel, que teve que se defender de um grupo que declara abertamente sua intenção de destruí-lo, junto com os judeus, e que ainda mantém reféns desde seu ataque atroz.

Muitos esclarecimentos históricos são necessários, mas, fundamentalmente, vale lembrar que o Brasil foi um país muito lembrado por muitos sobreviventes do Holocausto que aqui chegaram depois de 1945 e encontraram refúgio.

Essa é a palavra que nós, brasileiros, desejamos ver novamente como a face do nosso país: uma nação que acolhe as pessoas de braços abertos e as integra. Um país que queremos ver, na prática, vivendo uma democracia plena. Por isso, esperamos que o Brasil retome em breve seu lugar na IHRA, reafirmando seu compromisso internacional com a preservação da memória do Holocausto e com o combate ao antissemitismo, tão urgente nestes tempos.


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