“Opção pelo esquecimento dos horrores do nazismo” - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.

11.08.25 | Notícias

“Opção pelo esquecimento dos horrores do nazismo”

Em artigo publicado em O Globo desta segunda (11), o presidente da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto e do Yad Vashem, Dani Dayan, afirma que “a saída do Brasil da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto representa um grave retrocesso”. Leia a seguir a íntegra do texto:

O governo brasileiro comunicou oficialmente sua decisão de se retirar da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), em que atuava como Estado observador desde 2009. Segundo mensagem enviada ao secretariado da organização, a medida foi tomada “em conformidade com parecer da Consultoria Jurídica do Ministério das Relações Exteriores e em atendimento a recomendações de relatorias especiais de Direitos Humanos das Nações Unidas”.

Não existe qualquer recomendação de relatores da Organização das Nações Unidas (ONU) sugerindo a saída do Brasil ou de qualquer outro país da IHRA. Nenhum documento, relatório ou parecer de qualquer relatoria da ONU, até hoje, propôs tal passo. Trata-se, portanto, de uma justificativa infundada, que distorce os fatos e compromete a reputação internacional do Brasil em matéria de direitos humanos e memória histórica.

Provavelmente, o governo brasileiro confunde a definição prática de antissemitismo da IHRA com a filiação à organização. A adoção da definição, embora desejável, não é um requisito para a filiação.

A IHRA não é, de forma alguma, um organismo político, tampouco um espaço de quaisquer disputas ideológicas. Ela é uma aliança internacional composta por 35 Estados membros e diversos países observadores, unida apenas por um objetivo comum: preservar a memória do Holocausto, educar sobre os crimes do nazismo e combater o antissemitismo — antigo e contemporâneo — em todas as suas diversas manifestações.

A decisão do Brasil, tomada com base em argumentos políticos e jurídicos inconsistentes, representa um grave retrocesso. Ao se afastar da IHRA, o país enfraquece um compromisso assumido no pós-Segunda Guerra Mundial por todas as nações democráticas: lembrar os horrores da Shoá como advertência moral universal. Subordinar essa memória a interesses ideológicos momentâneos é cruzar uma linha vermelha que não deveria ser cruzada.

O Brasil, ao longo das décadas, teve papel muito positivo nessa luta. Recebeu sobreviventes do nazismo em suas fronteiras, acolheu a comunidade judaica, hoje uma das maiores das Américas, e sempre se apresentou e foi reconhecido no cenário internacional como defensor da tolerância, do pluralismo e dos direitos humanos. Essa decisão, portanto, não apenas contradiz essa tradição: ela a nega.

A memória do Holocausto não pertence a nenhum governo, partido ou ideologia. Ela é um patrimônio da Humanidade como um todo. Usá-la como instrumento político, ou rejeitá-la por conveniência, é trair sua essência.

Ainda há tempo para corrigir esse erro. O futuro cobra responsabilidade de quem escolhe lembrar — mas a História jamais perdoa os que optam pelo esquecimento.

Dani Dayan é presidente da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto e do Yad Vashem, o Centro Mundial de Memória do Holocausto.


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