04.09.25 | Mundo
“Três grandes mentiras sobre a guerra entre Israel e o Hamas”
Em artigo no Wall Street Journal, o filósofo francês Bernard-Henri Lévy, que participou da 49ª Convenção Anual da CONIB, em 2022, contesta os comentários equivocados mais frequentes sobre Israel e a guerra em Gaza. Leia a seguir a íntegra do texto:
Comentários equivocados sobre Israel estão sendo repetidos dia e noite, retransmitidos por altas autoridades internacionais e validados por organizações respeitáveis, entre elas a Ação Contra a Fome, que ajudei a fundar. E esses comentários são ecoados por um dos meus amigos, o escritor israelense David Grossman, que há 30 anos me ajudou a lançar La Règle du Jeu, um jornal que apoia todas as lutas pela liberdade. Seguem três exemplos:
- Israel está "reocupando" Gaza. É verdade que dois ministros do governo de Benjamin Netanyahu disseram, sem pudor, que sonham em fazê-lo. Mas esta não é a estratégia das Forças de Defesa de Israel nem a posição do governo. Goste-se ou não do Sr. Netanyahu, o mínimo que se pode fazer é ouvi-lo.
Na Fox News, em 7 de agosto, ele disse que quer que as Forças de Defesa de Israel (IDF) expulsem o Hamas e tomem o controle de Gaza — mas "sem administrá-la" e entregá-la a um "governo civil" o mais rápido possível. "Não queremos manter Gaza, não queremos governar Gaza."
Como ele poderia ser mais claro? Como poderia dizer melhor que seus objetivos de guerra não contradizem os de Ariel Sharon, que deixou o enclave palestino em 2005?
Pode-se ficar horrorizado com esta guerra. Pode-se constatar que ela causa, de ambos os lados, muitas vítimas. Pode-se questionar se tudo está sendo feito para trazer de volta os reféns. Mas não se pode dizer qualquer coisa. Não se pode continuar repetindo, ad nauseam, em tom eterno de "J'accuse!" que Israel está ocupando Gaza.
- Israel está usando a fome como "arma de guerra" em Gaza. Veja as centenas de caminhões que passaram pela inspeção, com os israelenses garantindo que eles não estejam carregando armas. Esses caminhões não esperam nas travessias de fronteira. Eles esperam dentro de Gaza. E então o que acontece?
Em determinado momento, as agências das Nações Unidas encarregadas da distribuição de ajuda não conseguiram impedir que fossem saqueadas pelo Hamas ou por gangues ligadas ao grupo. Então, Israel, juntamente com os EUA, criou a Fundação Humanitária de Gaza, à qual as agências da ONU responderam: Não, obrigado, os famintos podem esperar, não tocaremos nesse pão, não colaboraremos com essas pessoas. Então, Israel concordou em trabalhar com as agências oficiais se elas eliminassem seus ativistas do Hamas. As agências responderam que Gaza era muito perigosa.
Então, Israel se ofereceu para abrir corredores humanitários 10 horas por dia em áreas como Al-Mawasi, Deir al-Balah e Cidade de Gaza. As agências exigiram comboios militares israelenses, mesmo acusando o exército israelense de engendrar uma fome.
Quem, honestamente, deve ser responsabilizado por este trágico fracasso? E quem quebrará este círculo vicioso de má-fé, no qual, como sempre, os civis pagam o preço?
- Israel está cometendo "genocídio" em Gaza. É verdade que existem pilhas de mortos. Crianças mortas na flor da idade. E não há pressão suficiente sobre o Hamas e seus patrocinadores para impedir esta guerra atroz. Mas as palavras têm significado.
Dizer "genocídio" significa um plano — uma iniciativa deliberada e direcionada para destruir um povo. Não é isso que o exército israelense está fazendo. Talvez esteja travando a guerra mal — embora quem se sairia melhor em um conflito assimétrico quando o objetivo do inimigo não é minimizar as baixas do seu próprio lado, mas maximizá-las, de modo que cada mártir seja um troféu e um motivo para continuar uma luta cujo objetivo não é um Estado para os palestinos, mas, sim, nenhum Estado para os israelenses?
Um exército genocida não leva dois anos para vencer uma guerra em um território do tamanho de Las Vegas. Um exército genocida não envia alertas por SMS antes de disparar nem facilita a passagem daqueles que tentam escapar dos ataques. Um exército genocida não evacuaria, todos os meses, centenas de crianças palestinas que sofrem de doenças raras ou câncer, enviando-as para hospitais em Abu Dhabi como parte de um transporte aéreo médico estabelecido logo após 7 de outubro.
Falar de genocídio em Gaza é uma ofensa ao bom senso, uma manobra para demonizar Israel e um insulto às vítimas de genocídios passados e presentes.