18.09.25 | Mundo

“A vitória bélica e a derrota política de Israel em Gaza”

Em artigo publicado nesta quinta (18) em O Globo o jornalista Zevi Ghivelder analisa o futuro da guerra em Gaza e afirma que “mesmo que o Hamas seja alijado do poder, continuará atuando no Oriente Médio”. Leia a seguir a íntegra do texto:

A presente ofensiva de Israel em Gaza está longe de ser concluída, e o avanço de suas Forças Armadas não indica a consumação de uma vitória definitiva sobre o Hamas. O propósito de erradicar o Hamas esbarra em precedentes históricos inquietantes. O mundo ocidental julga ter extirpado a Al-Qaeda e o Estado Islâmico, mas estes grupos ainda emitem sinais de vida, perfazendo incursões terroristas. Assim, mesmo se o Hamas vier a ser alijado do poder, continuará atuando no Oriente Médio, conforme já fazia antes de se dominar Gaza.

Outra circunstância histórica lembra a bem-sucedida ofensiva dos Aliados que culminou no extermínio do nazismo, mas nisso incide um fator básico: a vitória total contra o nazismo só se consumou quando a Alemanha assinou uma rendição incondicional, algo inimaginável para os desígnios de martírio exaltados pelo Hamas. Portanto, a atual situação configura uma vitória bélica de Israel, mas implica uma derrota política. Além disso, o país ainda não encontrou resposta para uma indagação insistente: o que deu errado e qual o motivo?

Desde o dia 7 de outubro de 2023, a população de Israel vem sofrendo uma sucessão de traumas. O primeiro trauma obviamente se refere aos assassinatos e atrocidades cometidos pelo Hamas, mais a captura de reféns.

O segundo choque tem como foco Benjamin Netanyahu, que sempre asseverou estar consolidada a segurança do país. Essa afirmação decorria da sua doutrina de dissuasão, ou seja, o acordo celebrado com o Hamas, por meio do qual Israel intermediava a remessa mensal de fundos milionários oriundos do Catar para seus aliados terroristas. A rigor, mais do que uma dissuasão, o primeiro-ministro mantinha um conluio com o inimigo.

Mais um trauma avultou quando os israelenses constataram que suas Forças Armadas careciam de um planejamento estratégico pretérito para combater o Hamas. Essa ausência foi devida às transformações ocorridas nas doutrinas militares de diversos países, inclusive em Israel, com preponderância nos Estados Unidos. O fracasso americano na Guerra do Vietnã teve como consequência uma proliferação de estudos acadêmicos defendendo a tese de que, no campo militar, a inteligência era mais importante do que a estratégia. Foi uma tese bem absorvida pela conjuntura da guerra fria porque uma confrontação entre as superpotências significaria o fim da humanidade.

Os chefes militares de Israel acolheram aquele conceito, e o país esteve à beira de um colapso na Guerra do Yom Kipur, em 1973, por causa de erros brutais dos seus serviços de inteligência militar.

Porém, a lição não foi aprendida. Erros por parte de Israel se repetiram quando seus serviços de inteligência falharam até o ponto de não ter detectado a construção da rede de túneis do Hamas em Gaza. Agora, Israel busca três mil terroristas, de prédio em prédio, de porta em porta. É guerra para mais um ano.


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