30.09.25 | Judaicas
“O dia do perdão que o mundo precisa”
Em artigo no site UOL, o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg, destaca o momento de profunda reflexão com a passagem do Yom Kippur e lembra que “a data nos ensina que o perdão só é possível quando há reconhecimento mútuo da humanidade do outro”. Leia a seguir a íntegra do artigo:
Amanhã, ao pôr do sol, milhões de judeus iniciarão o Yom Kippur, o Dia do Perdão - a data mais sagrada do calendário judaico. Durante 25 horas, jejuarão e buscarão expiação pelos erros do ano passado. É um momento de profunda reflexão sobre como recomeçar e construir algo melhor.
E se esta tradição milenar inspirasse a diplomacia internacional? E se o mundo parasse para examinar seus erros na condução dos conflitos globais?
A história está repleta de "soluções" impostas que geraram mais guerras que paz. O Tratado de Versalhes humilhou a Alemanha e pavimentou o caminho para o nazismo. O Tratado de Trianon fragmentou a Hungria de forma tão brutal que o ressentimento persiste um século depois. Em ambos os casos, as potências vitoriosas excluíram os derrotados das negociações, impondo termos unilaterais que alimentaram décadas de instabilidade.
No Oriente Médio, testemunhamos a repetição destes mesmos erros. A comunidade internacional tenta impor a criação de um Estado palestino excluindo Israel das discussões sobre seu próprio futuro. Resoluções são aprovadas e reconhecimentos concedidos sem considerar as necessidades básicas de segurança de um país que enfrenta ameaças existenciais diárias.
Esta abordagem ignora uma verdade desconfortável: a ausência de um Estado palestino em 1948 não resultou de "imposição sionista", mas da rejeição árabe à partilha da ONU. Quando as Nações Unidas propuseram dois Estados em 1947, os líderes judeus aceitaram. Os árabes rejeitaram e optaram pela guerra, tentando destruir Israel no dia seguinte à sua criação.
O Yom Kippur nos ensina que o perdão só é possível quando há reconhecimento mútuo da humanidade do outro. Não se constrói paz sobre a negação da legitimidade de uma das partes. Quando organizações como o Hamas declaram seu objetivo de destruir Israel, tornam impossível qualquer processo genuíno de reconciliação.
A coragem significa enfrentar estas verdades para construir algo melhor. O medo leva à subtração de direitos legítimos - como o direito dos judeus de ter sua terra com segurança e em paz. Uma diplomacia corajosa exigiria que palestinos reconhecessem o direito de Israel existir como Estado judaico, que Israel reconhecesse aspirações palestinas legítimas, e que a comunidade internacional facilitasse diálogo direto em vez de impor soluções unilaterais.
O Yom Kippur termina com o som do shofar - anunciando renovação e possibilidade. O mundo precisa deste momento de pausa e reflexão. Precisa reconhecer que paz verdadeira não pode ser decretada, mas deve ser construída sobre fundações de verdade, justiça e respeito mútuo.
Somos favoráveis a dois Estados - mas dois Estados que se entendam e se respeitem. Esta solução não pode nascer da imposição, mas do diálogo corajoso entre as partes. O Dia do Perdão nos ensina que nunca é tarde para recomeçar. Para Israel e Palestina, para o mundo inteiro, a redenção ainda é possível.
Mas ela começa com uma palavra simples: "Perdão" - e a coragem de construir pontes em vez de decretar muros.