30.09.25 | Brasil
Morre a atriz, comediante e sobrevivente do Holocausto Berta Loran
Morreu, na madrugada de domingo (28), aos 99 anos, a atriz, comediante e sobrevivente do Holocausto Berta Loran, figura icônica da comédia no Brasil e que marcou a televisão brasileira por seus trabalhos em programas humorísticos.
Berta nasceu em Varsóvia, na Polônia, em março de 1926. Loran — cujo nome de batismo era Basza Ajs — veio para o Brasil com o pai, a mãe e os cinco irmãos fugindo da perseguição nazista, em 1937. Instalaram-se no Rio de Janeiro, num sobrado da Praça Tiradentes, centro da capital fluminense.
Ela começou sua carreira aos 14 anos, no teatro, influenciada pelo pai, também ator e alfaiate. Destacou-se primeiro em clubes da comunidade judaica, onde se apresentava ao lado da irmã, e depois no teatro de revista, gênero mais popular, onde pode demonstrar sua vocação para o humor —e o sotaque sublinhava essa sua faceta.
Na televisão, sua presença se consolidou a partir dos anos 1960, com participações em programas como “Balança, Mas Não Cai”, “Escolinha do Professor Raimundo” e “Zorra Total”. Sua atuação cômica a transformou em uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no humor televisivo. Em 2016, sua história foi celebrada com o lançamento do livro Berta Loran: 90 anos de humor, que homenageia sua contribuição à cultura brasileira.
Na "Escolinha", em 1991, encarnou a imigrante portuguesa Manuela D'Além-Mar, e, ao longo dos anos, viveu outras personagens no humorístico, como a judia Sara Rebeca e Maria, outra mulher portuguesa, contracenando com Agildo Ribeiro como Manuel.
Na década de 1980, também ficaria marcada pelo papel como a empregada Frosina Maria de Jesus na novela "Amor com Amor Se Paga", contracenando com Ary Fontoura no papel do seu patrão, Nonô.
Em paralelo, estrelou "Divirta-se com Berta Loran", um espetáculo de variedades, em que contava piadas, cantava, dançava e sapateava e que ficou em cartaz por três anos — e lhe rendeu um apartamento em Copacabana.
Ao longo dos anos, trabalhou também em "Cama de Gato", "Cambalacho", "Torre de Babel", "Da Cor do Pecado", o remake de "Ti Ti Ti", "Zorra Total", entre outras atrações da TV Globo.
Foi casada duas vezes: aos 20, com o ator judeu Suchar Handfuss, radicado em Buenos Aires, 31 anos mais velho que ela, com quem ficou por 11 anos, e depois, aos 37, com o comerciante Júlio Marcos Jacoba.
Loran vivia reclusa e não fazia participações maiores desde 2019, quando fez a personagem Dinorá Macondo na novela "A Dona do Pedaço". Depois, ainda trabalhou em algumas comédias para o cinema, como "Juntos e Enrolados", de 2022, além de ter sido tema de um episódio da série "Comediantes Que Amamos".
Em entrevista dada em 2018 ao programa Conversa com Bial, a atriz disse que seu pai, que era alfaiate, vendeu máquinas de costura para sair da Polônia quando Adolf Hitler disse que iria “matar todos os judeus.”
“Meu pai disse: ‘Ai, meu Deus’. Vendeu as duas máquinas e veio para o Brasil. E nós perdemos toda a família”, disse ela.