01.10.25 | Mundo

“Capitulação do Hamas é chave em plano de Trump”

Editorial de O Globo também abordou nesta quarta (1/10) o plano de Trump para Gaza, destacando que “ainda que a proposta seja realista dadas as circunstâncias, é incerto como reagirá o grupo terrorista”. Leia a seguir a íntegra do texto:

O plano de 20 pontos para acabar com a guerra em Gaza apresentado na Casa Branca pelo presidente americano, Donald Trump, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, representa um avanço inegável. É certo que, no detalhe, desperta dúvidas sobre viabilidade e implementação. Também é verdade que nenhum dos envolvidos no conflito sairá plenamente satisfeito com os termos. Mas trata-se de uma proposta realista dentro das circunstâncias, cujos maiores benefícios imediatos seriam a libertação dos reféns israelenses e o alívio para a população palestina. Inspirada em ideias do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, ela expõe as dificuldades que cercam a solução duradoura do conflito, mas ao mesmo tempo traz esperança.

É preciso louvar que nenhuma das ideias estapafúrdias atribuídas anteriormente a Trump ou a Netanyahu tenham prosperado. Não há remoção da população palestina nem limpeza étnica para erguer uma “Riviera”. Não há anexação de Gaza por Israel. Ao contrário, o plano prevê a retirada gradual das tropas israelenses, troca de reféns por prisioneiros, anistia a integrantes do grupo terrorista Hamas que depuserem armas, uma força internacional para cuidar da segurança e da reconstrução, além de uma governança técnica para restaurar serviços essenciais, subordinada a um conselho comandado por Trump. Abrangente e ambiciosa, a proposta reuniu apoio de países árabes, de europeus que acabam de reconhecer a Palestina, de Israel e mesmo de palestinos em Gaza. A maior dúvida está no fator crítico para seu êxito: a reação do Hamas. Trump deu prazo de três a quatro dias para resposta.

O plano impõe a capitulação do Hamas e de outros grupos terroristas, com entrega imediata de reféns, de armas e renúncia a exercer qualquer papel no futuro governo de Gaza. É uma condição essencial para pacificação. Mas é no mínimo incerto que tais termos sejam aceitos por uma organização terrorista imbricada na sociedade local, que transformou o território num emaranhado de túneis e arsenais até em escolas e hospitais e que, mesmo tendo perdido seus principais líderes, tem resistido à avalanche de bombardeios, à devastação e ao morticínio provocados pelo Exército israelense. Caso o Hamas recuse a proposta, Netanyahu obteve de Trump carta branca para prosseguir em sua campanha militar inclemente.

Mas, ainda que os terroristas concordem em soltar os reféns e depor as armas, a paz duradoura — com os Estados de Israel e da Palestina convivendo lado a lado — continuaria distante. Depois de declarar ao plenário esvaziado da ONU que seria loucura “dar um Estado aos palestinos”, Netanyahu aceitou, mediante várias condicionantes, que “as condições poderão finalmente estar reunidas para um caminho confiável para a autodeterminação e a criação de um Estado palestino, que reconhecemos como aspiração do povo palestino”. Diante da pressão de países árabes sobre Washington, também pediu desculpas ao Catar pelo ataque a líderes do Hamas abrigados no país.

Expoentes da ultradireita que integram seu governo, contudo, continuam a defender a ocupação total de Gaza e Cisjordânia. A maioria dos israelenses e dos palestinos é hoje contrária à ideia dos dois Estados. Se der certo, portanto, o plano de Trump terá o mérito de pôr fim à guerra em curso. Mas o avanço concreto só virá com uma solução duradoura.


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