22.10.25 | Mundo

“A ‘pax terrorista’ do Hamas”

Editorial de O Estado de S.Paulo desta quarta (22) afirma que “o Hamas usa o cessar-fogo como uma trégua tática, para se rearmar e consolidar o poder”. “A verdade é simples e dura: Gaza jamais será livre enquanto o Hamas for seu carcereiro. E se a comunidade internacional continuar a confundir solidariedade com conivência, Israel acabará sozinho – e, inevitavelmente, voltará a agir. Paz sem justiça para os palestinos e sem segurança para Israel não é paz. É só o disfarce momentâneo do terror”. Leia a seguir a íntegra do texto:

O cessar-fogo em Gaza deveria marcar o início da reconstrução. Em vez disso, expôs o que os simpatizantes do Hamas no Ocidente relutam em ver: o velho regime de terror nunca acabou – e voltou com força, à luz do dia.

Desde que as tropas israelenses começaram a se retirar, terroristas armados tomaram as ruas, executando rivais, caçando supostos colaboradores de Israel e impondo à população uma nova onda de repressão. Em Gaza, a trégua com Israel significou apenas a guerra dentro de casa.

O Hamas jamais teve a intenção de transformar a pausa em um caminho para a paz. O grupo usa o cessar-fogo como uma trégua tática, projetada para se rearmar e consolidar o poder. Enquanto o mundo celebra a libertação dos reféns israelenses, os terroristas recolhem munições não detonadas, transformam estilhaços em explosivos e retomam o controle das rotas de ajuda humanitária. O regime que denuncia o bloqueio israelense à entrada de alimentos é o mesmo que decide quem pode comer e quem deve morrer.

As execuções públicas de palestinos – transmitidas com orgulho em canais ligados ao grupo – são a prova cabal de que o Hamas não é um movimento de “resistência”, mas um poder mafioso. Em nome da “ordem”, seus homens sequestram, torturam e matam. Em nome da “libertação”, mantêm 2 milhões de pessoas sob terror permanente. A cada silêncio cúmplice do Ocidente, o mito de uma “Gaza libertada” se torna mais grotesco.

A omissão de quem deveria agir para impedir a carnificina promovida pelo Hamas é parte do escândalo. Governos árabes que se dizem mediadores fecham os olhos à barbárie e financiam a reconstrução sem exigir desarmamento. Militantes ocidentais, que até ontem denunciavam o “genocídio” em Gaza, se calam diante das vítimas palestinas do Hamas. Essa hipocrisia é mais do que moralmente repugnante: é politicamente destrutiva. Alimenta a narrativa de que a tirania é preferível à derrota, e de que a liberdade palestina só pode florescer entre ruínas.

Washington também tem sua parcela de culpa. Ao insinuar, ainda que por um instante, que o Hamas poderia restaurar a ordem, o presidente Donald Trump conferiu legitimidade a um poder homicida. Só depois de reiteradas atrocidades a Casa Branca corrigiu o tom e exigiu o fim da matança. Mas enquanto a segunda fase do plano de paz – desarmamento e governança internacional – continuar no papel, o acordo corre o risco de se tornar mais uma das miragens diplomáticas do Oriente Médio.

Não há saída sem um ato de coragem – e coerção. Gaza precisa de uma força internacional de estabilização com mandato real, capaz de desarmar o Hamas e garantir a segurança dos civis. Precisa de uma autoridade de transição legítima, que integre palestinos que não tenham as mãos manchadas de sangue. Sem isso, a trégua será só o interlúdio de uma guerra pior.

A verdade é simples e dura: Gaza jamais será livre enquanto o Hamas for seu carcereiro. E se a comunidade internacional continuar a confundir solidariedade com conivência, Israel acabará sozinho – e, inevitavelmente, voltará a agir. Paz sem justiça para os palestinos e sem segurança para Israel não é paz. É só o disfarce momentâneo do terror.


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