Ato em homenagem a Vladimir Herzog lota novamente a catedral da Sé - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
Fotos: Divulgação/ Agência Brasil

27.10.25 | Brasil

Ato em homenagem a Vladimir Herzog lota novamente a catedral da Sé

Ato religioso em memória do jornalista Vladimir Herzog realizado no sábado (25) lotou a catedral da Sé, em São Paulo, recriando o evento inter-religioso feito uma semana após a morte de Vlado, em 25 de outubro de 1975. O ato reuniu lideranças religiosas, autoridades, familiares, amigos, artistas e parlamentares. O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, falou no evento, destacando a importância do ato: "Não esquecer, para jamais se repetir". A CONIB esteve representada por seu presidente, Claudio Lottenberg, pelo diretor executivo, Sergio Napchan, e pela diretora Denise Antão

Tembém estiveram presentes Laura Feldman, presidente da Congregação Israelita Paulista (CIP), Thomas Brull, Rabino Natan Freller, e Ruth Goldberg, presidente do Instituto Brasil-Israel.

Cinco décadas depois, o novo ato homenageou Herzog e todas as vítimas da ditadura militar, com manifestações inter-religiosas de Dom Odilo Pedro Scherer, da reverenda Anita Wright, filha de Jaime Wright, e do rabino Uri Lam, da Comunidade Beth-El.

A presidenta do Superior Tribunal Militar, Maria Elisabeth Rocha, teve uma fala impactante que emocionou os presentes, ao pedir perdão por todos os erros cometidos pela ditadura militar e pelos que foram torturados e mortos pelo regime.

Organizada pela Comissão Arns e pelo Instituto Vladimir Herzog, a cerimônia recriou o ato histórico realizado em 1975, que reuniu cerca de oito mil pessoas na catedral em protesto contra a ditadura militar e se tornou um símbolo da resistência democrática no Brasil. O evento começou com a apresentação do Coro Luther King e contou com a leitura comovente de uma carta da mãe de Vlado, Zora Herzog, na voz de Fernanda Montenegro.

A data marcou os exatos 50 anos do assassinato de Herzog nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo. Na ocasião, o arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, o rabino Henry Sobel e o pastor presbiteriano Jaime Wright promoveram um ato ecumênico em contestação à versão dada pela ditadura de que Herzog havia cometido suicídio. Sobel teve importante papel no episódio, ao se recusar a enterrar Vlado na ala dos suicidas, como determina a religião judaica para esses casos.

Sobel foi lembrado e homenageado no novo ato e o rabino Uri Lam foi aplaudido de pé ao final do seu pronunciamento. Disse ele:

“Estamos aqui, na Catedral da Sé, para recriar um gesto — o mesmo que desafiou a ditadura naquela 6ª feira, 31 de outubro de 1975. Um gigantesco gesto de coragem. Há 50 anos, quando o país vivia sob às sombras mais densas da opressão e do medo, Vladimir Herzog — o Vlado, assassinado 6 dias antes – era imortalizado como símbolo da verdade, da dignidade e da resistência em nosso país.

Vlado era jornalista, professor, cineasta, pai, marido, amigo. Como diria o rabino Sobel, Vlado era um mentsch, era gente. Aos 38 anos, Vlado, um comunicador, foi silenciado, torturado e assassinado. Mas nunca calado. Porque há vozes que o tempo não apaga, que são um farol para quem compreende que a democracia é uma construção diária, viva e necessária.

Na tarde daquele sábado, 25 de outubro de 1975, o corpo de Vlado foi devolvido à família. Disseram que havia se enforcado com o cinto do macacão de presidiário que vestia. Mas a verdade logo veio à tona. E quando o regime autoritário tentou fazer valer a farsa do suicídio, a coragem brotou de muitas frentes, dentre elas líderes religiosos de diferentes credos, que decidiram transformar o luto em resistência.

Aqui na Catedral da Sé, no coração de São Paulo, católicos, judeus e protestantes, somados a gente de diversas outras tradições religiosas, sob a liderança do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, do Rabino Henry Sobel e do Reverendo Jaime Wright, de abençoadas memórias, se uniram em um ato religioso e político, convocado pelo então presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, Audálio Dantas.

Com a cidade ocupada pela repressão policial, quando reunir-se era proibido, mais de 8 mil pessoas se reuniram aqui para rezar, a fim de clamar pela justiça e pela verdade. Segundo seu filho, Ivo Herzog, aqui presente, aquele foi o ponto da virada. O início do fim da ditadura.

Hoje, 50 anos depois, nesta noite de sábado, nos reunimos para reafirmar o que aprendemos com o passado: que os direitos humanos pertencem a todo indivíduo, independente de orientação política, religiosa, sexual ou qualquer outra. Todo ser humano, sem distinção, foi criado à imagem de Deus. Torturar e assassinar diminui a presença de Deus no mundo.

Quando um Estado mente para ocultar um crime – e foram milhares os crimes de estado durante a ditadura – morrem as vítimas, morrem a confiança no poder constituído, a crença na justiça, a esperança no futuro.

Por isso, o que fazemos aqui hoje é uma obrigação. Lembrar é resistir. Resistir é viver”.

Uri Lam também lembrou a luta da esposa de Vlado, Clarice Herzog, por justiça:

“Clarice Herzog, com a força de quem perdeu o companheiro e transformou sua dor em luta, disse ao filho: ‘O caso do seu pai não é um caso sobre nós; é um caso sobre todos’.

“O gesto de Clarice, a decisão do rabino Henry Sobel de se recusar a enterrar Vlado como suicida, a união de Dom Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel, James Wright e do povo aqui na Catedral da Sé — apesar das pressões para que o enterro não fosse como foi e o ato ecumênico não fosse como acabou sendo – tudo isso empurrou o Brasil do quarteis da ditadura para as ruas da democracia. Hoje lembramos Vlado. Lembramo-nos também de todas as vítimas da ditadura — conhecidas e anônimas. Dos que desapareceram sem despedida, das que voltaram marcadas pela dor, dos que dedicaram suas vidas para que nós pudéssemos viver em liberdade”.

Ele finalizou o seu pronunciamento com uma oração judaica: “Sheheḥeiánu vekiimánu vehiguiánu lazman hazé. Agradecemos por estarmos vivos, por termos resistido, e por termos chegado a este Cinquentenário em Memória de Vladimir Herzog e de todas as vítimas da ditadura no Brasil. Que suas lembranças sejam uma benção para todos nós”.

Ato em homenagem a Vladimir Herzog lota novamente a catedral da Sé - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.
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