14.11.25 | Brasil
“Belém e São Paulo: dois cenários, o mesmo veneno”
O advogado Julio Benchimol comenta em artigo os recentes casos de antissemitismo ocorridos no País e afirma que os episódios, longe de serem simples manifestações de opinião, são crimes. Leia a seguir a íntegra do texto:
Dois cenários, o mesmo veneno. Em Belém, o rabino é atacado na Zona Verde da COP30 e o Centro Israelita do Pará precisa lembrar ao mundo, em 2025, que judeus vivem ali há mais de 200 anos e que racismo e intolerância não são “opinião”, são crime. Em São Paulo, a Faculdade de Direito da USP adia uma palestra sobre Israel porque alunos “antissistêmicos” prometem tumulto, e o centro acadêmico XI de Agosto publica um chamamento que mistura jargão anticolonial com o velho antissemitismo de sempre, agora embalado em carimbo militante de “apartheid” e “genocídio”.
Chamam isso de “luta contra o opressor”, mas é só covardia travestida de coragem: expulsar judeus do debate, intimidar palestrante, atacar rabino em área da ONU, cancelar evento acadêmico em nome da “diversidade” que não tolera diversidade nenhuma. Quando o medo de agressão define a agenda de uma faculdade de Direito e uma comunidade precisa publicar nota para pedir o óbvio – respeito às liberdades individuais e aos direitos humanos –, não estamos diante de militância progressista, e sim de regressão moral. Não é “crítica a Israel”. É o velho roteiro: primeiro cala, depois isola, depois agride.
De Belém ao Largo de São Francisco, a pergunta é simples: vamos normalizar o antissemitismo de camiseta preta e slogan bonito ou vamos chamar as coisas pelo nome e defender, sem gaguejar, liberdade acadêmica, segurança de judeus e o direito de existir sem precisar pedir desculpa por ser quem se é?
Julio Benchimol é advogado, doutor em sociologia, com pós-doutorados por Oxford e Duke; é servidor aposentado da Câmara dos Deputados, onde, além de ter atuado na área jurídica, foi professor de Mestrado em Poder Legislativo; é também autor de vários livros e artigos científicos e de opinião.