01.07.22 |
Bernard-Henri Levy faz apelo a favor da Diáspora no Congresso Sionista Mundial
Falando no 38º Congresso Sionista Mundial nesta terça-feira (20), o filósofo, cineasta, ativista e escritor francês Bernard-Henri Levy fez um apelo para manter os judeus da Diáspora no centro do movimento sionista em meio a uma aparente tentativa de direita e de organizações religiosas para assumir o controle das principais instituições sionistas. 'A Diáspora não é uma espécie de resto ou resquício,descartado pela história. Pelo contrário, é algo que deve ser integrado à corrente principal do sionismo', disse Levy ao congresso em um discurso online. 'Na vida da Diáspora, na existência judaica, digamos alguém que é romeno, italiano, americano ou francês, há algo muito nobre na existência desses judeus, algo que não pode ser reduzido à expectativa de ir a Jerusalém', disse ele. 'Não acho que a existência na Diáspora, no exílio, seja de alguma forma inferior'. Bernard-Henry Levy participou da 49ª Convenção da Conib, em 2018, em jantar de gala na Hebraica. Na ocasião, como principal orador, Lévy falou sobre o seu livro 'O Espírito do Judaísmo', o Holocausto e a importância de se defender valores democráticos e liberais. 'Israel é um exemplo disso. Não há outro país no mundo que acolha tanta multinacionalidade diante de constantes desafios e ameaças e que, apesar disso, consiga manter intacta a sua democracia'. O Congresso Sionista Mundial, que acontece de 20 a 22 de outubro, deveria ser realizado em Jerusalém, mas devido à pandemia, seu formato foi alterado. Todos os painéis e discursos, bem como a votação dos 524 delegados globais, estão sendo conduzidos online em um grande encontro internacional virtual. Seu discurso veio horas depois de vários grupos judaicos como Hadassah, Naamat, Maccabi, B'nai B'rith International, a Organização Sionista Internacional de Mulheres e Emunah tentarem adiar a votação para esta quinta-feira. Os delegados do Congresso Sionista Mundial que representam o governo israelense estão procurando fazer parceria com judeus de direita e organizações religiosas no exterior e, com isso, afastar uma margem significativa de grupos de centro-esquerda e religiosamente liberais, principalmente da Diáspora. O acordo iria dividir alguns dos portfólios mais proeminentes das 'quatro grandes' instituições nacionais de Israel entre representantes de várias facções politicamente de direita, sionistas religiosos e ultraortodoxos, enquanto deixaria papéis de liderança menores para a minoria de centro-esquerda. As chamadas instituições 'nacionais' israelenses - o grupo guarda-chuva da Organização Sionista Mundial (WZO), a Agência Judaica, o Keren Kayemeth LeIsrael - Fundo Nacional Judaico e o Keren Hayesod - foram todas críticas para a fundação do Estado de Israel. Hoje, os quatro têm um orçamento anual coletivo auto-relatado de mais de $1 bilhão. As organizações, que constituem a espinha dorsal do sionismo mundial, são apolíticas, mas seus orçamentos podem ser usados para promover as agendas dos representantes que as lideram. Isso pode impactar a execução e implementação de iniciativas como evangelismo judaico, educação judaica e recrutamento de novos imigrantes para Israel. Existem 524 delegados elegíveis para votar no 38º congresso - 199 deles de Israel, 152 dos Estados Unidos e 173 do resto da Diáspora. O Movimento Sionista Americano realiza eleições para os delegados dos Estados Unidos, e representantes de outros países são selecionados por consenso. No entanto, os delegados israelenses são diretamente proporcionais aos partidos políticos sionistas no Knesset de Israel, o que significa que quanto mais assentos no Knesset um partido tiver, mais delegados terão assento no Congresso Sionista Mundial. Representantes do partido governante Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, juntamente com o partido de direita de Avigdor Liberman, Yisrael Beytenu, fizeram parceria com o Mizrahi Mundial e os partidos ultraortodoxos Shas e Eretz Hakodesh para conseguir uma pequena maioria que poderia aprovar a moção de divisão do poder. (O partido Azul e Branco, de Benny Gantz, participa com o Likud em uma coalizão de governo, mas não é obrigado a se alinhar com o Likud no congresso e, de fato, se opõe à moção). A coalizão de direita acreditava ter a chance de assumir o controle exclusivo dos gastos do WZO por causa de sua forte presença na eleição deste ano da parte dos EUA no Congresso Sionista Mundial. Em uma tentativa de impedir isso, grupos sionistas progressistas e de centro-esquerda convocaram as organizações judaicas que têm direito a voto para intervir e ajudar a votar contra a moção a favor de um acordo que teria uma representação igualitária entre os várias denominações e tendências políticas. Os grupos liberais que seriam privados de seus direitos incluem afiliados de partidos israelenses de tendência esquerdista, os movimentos reformistas e conservadores e o Hatikvah, uma lista de proeminentes sionistas liberais dos EUA. Na terça-feira, Sheila Katz, CEO do Conselho Nacional de Mulheres Judaicas e membro da chapa Hatikvah no Congresso, disse no Twitter que grupos como o Hadassah, Naamat, Maccabi, B'nai B'rith International, Organização Sionista Internacional de Mulheres e Emunah intervieram para atrasar a votação do plano da direita até quinta-feira para, com isso, ter tempo de renegociar como a liderança será selecionada. No passado, essas organizações, que tecnicamente detêm 240 votos, quase sempre se abstiveram de votar de fato. As apostas são altas para os judeus não ortodoxos da Diáspora, que constituem uma grande maioria dos judeus globais, mas estão amplamente sub-representados no Congresso Sionista Mundial devido à falta de participação nas primárias. Esses grupos alertaram sobre uma lacuna crescente entre eles e os judeus israelenses, já que o governo de Israel continua a depender exclusivamente de seu rabinato ortodoxo para conduzir ou aprovar eventos do ciclo de vida, como casamentos ou conversões religiosas. O impacto disso é mais do que sentimental - o Rabinato Chefe tem o poder de rejeitar pedidos de imigração ou anular casamentos com base no status religioso de uma pessoa.