Comparações descabidas com nazismo desvalorizam memória do Holocausto, diz historiador - Fundada em 1948, a CONIB – Confederação Israelita do Brasil é o órgão de representação e coordenação política da comunidade judaica brasileira.

01.07.22 |

Comparações descabidas com nazismo desvalorizam memória do Holocausto, diz historiador

O uso de um evento histórico e marcante do período nazista como foi a Noite dos Cristais para caracterizar um fato político cotidiano brasileiro é 'absurdo e inconsequente', na opinião do historiador Avraham Milgram, pesquisador que trabalhou por mais de três décadas no Museu Yad Vashem, o Museu do Holocausto, em Israel. Milgram, que nasceu na Argentina, morou no Brasil desde pequeno e emigrou para Israel em 1973, foi consultado pela BBC News Brasil a respeito de declarações do ministro da Educação, Abraham Weintraub: em 27 de maio, quando a Polícia Federal fez uma operação de busca e apreensão a alvos próximos ao governo como parte do inquérito contra as fake news que corre no Supremo Tribunal Federal. O ministro afirmou se tratar do 'dia da infâmia, vergonha nacional, e será lembrado como a Noite dos Cristais brasileira'. Para o historiador Milgram, esse tipo de comparação 'desvaloriza a memória do Holocausto'. 'Desvirtua a essência do que houve em termos de atos anti-judaicos da Alemanha naquela época. E, por outro lado, engrandece e aumenta de forma exponencial um ato de caráter político local (brasileiro) destituído de essência racial, étnica, nacional e outras particularidades que há nas tendências genocidas nazistas', diz o pesquisador. 'Há aqui uma coisa perigosa do uso e abuso da memória do Holocausto, da história geral e anti-judaica em particular, para qualquer coisa'. A fala de Weintraub também foi criticada por entidades judaicas brasileiras, como a Confederação Israelita do do Brasil (Conib) e, pela Embaixada de Israel, que pediu, em nota, 'que a questão do Holocausto como também o povo judeu ou judaísmo fiquem à margem do diálogo político cotidiano e as disputas entre os lados no jogo ideológico'. Em entrevista à BBC News Brasil, ele fala da importância histórica da Noite dos Cristais dentro do processo de perseguição dos judeus pelo regime nazista e do 'prejuízo' causado por comparações equivocadas - feitas por todos os lados do espectro político - com esse período histórico. Foi algo coordenado a tal ponto que em toda a Alemanha, na Áustria e nos Sudetos Tchecos (região montanhosa entre República Tcheca, Alemanha e Polônia), já anexados, quase todas as sinagogas da maioria absoluta das comunidades foram queimadas, em um ato criminoso de caráter racial antissemita. E no dia seguinte 30 mil judeus foram levados para campos de concentração. Os negócios de judeus foram depredados e quebrados. Da quantidade de vidros que se encontrava nas calçadas vem o nome de Noite dos Cristais. Foi um evento impressionante na sua magnitude, porque ocorreu em todo o Grande Reich (Alemanha, Áustria e Sudetos) ao mesmo tempo, e era impossível que alguém não soubesse o que ocorria. Só em Berlim foram queimadas 28 sinagogas, edifícios grandes, imponentes, e todo o mundo via a fumaça. Foi uma tragédia muito grande.

Receba nossas notícias

Por favor, preencha este campo.
Por favor, preencha este campo.
Por favor, preencha este campo.
Invalid Input

O conteúdo dos textos aqui publicados não necessariamente refletem a opinião da CONIB. 

Desenvolvido por CAMEJO Estratégias em Comunicação